Para aqueles que desconhecem o cenário político em Portugal ou até mesmo para os mais desatentos, este não é só mais um artigo de opinião sobre as eleições legislativas de 2025, mas o de um jovem português que já teve contacto diretamente com o funcionamento dos partidos políticos e o seu modus operandi, e enquanto politólogo, prefere distanciar-se dessa atividade.

Mais uma vez, a Democracia acaba por estar vulneravelmente exposta por aqueles que a afirmam defender, e como em todo o xadrez político, as regras são alteradas consoante os interesses partidários dos seus líderes e as legislativas antecipadas de 18 de maio foram o reflexo disso, após a rejeição, a 11 de março, da moção de confiança apresentada pelo governo minoritário da Aliança Democrática (AD). Lembrando que os partidos de esquerda e o partido da direita radical (CHEGA) votaram contra esta moção de confiança e apenas o PSD, o CDS-PP e a IL votaram a favor.

Antes desta votação, o CHEGA e o PCP (esquerda radical) apresentaram, separadamente, moções de censura para que o então Primeiro-Ministro se demitisse, mas ambas acabaram por ser rejeitadas. As moções surgiram devido a alegados conflitos de interesse ligados à empresa familiar do Primeiro-Ministro, Luís Montenegro (Spinumviva).

Com a queda do Governo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições, como expressa o Capítulo II (alínea e, art.133º) da Constituição da República Portuguesa. Estas foram as terceiras eleições legislativas em pouco mais de três anos (2022, 2024 e 2025) durante o seu mandato enquanto Presidente da República, o que só por si é preocupante.

Na noite eleitoral, o candidato Pedro Nuno Santos (PS) não compreendeu a derrota e ignorou o facto que perdeu 400 mil votos para o partido vencedor, a AD, e meio milhão para o partido de direita radical CHEGA. Sem currículo profissional fora da política, a meu ver, representa mais do mesmo daquilo que os portugueses estão cansados, os profissionais da política. Além disso o caso das ajudas de custos tiradas ao parlamento também se encontra por esclarecer. Naturalmente, a única via é ter de se demitir do cargo de secretário-geral do partido, pois não reúne as condições necessárias para enfrentar os próximos embates eleitorais que se avizinham, as eleições autárquicas e presidenciais, mas também a pressão interna que veio acumulando. Mais uma vez, aquelas vozes que previam que o seu mandato à frente do Partido Socialista iria causar um terramoto político interno, tinham razão.

Luís Montenegro (AD) celebrou ao seu estilo junto dos seus apoiantes com um discurso ponderado e reforçando que ele é o Primeiro-Ministro que os portugueses precisam neste momento, e André Ventura (CHEGA), acompanhado igualmente dos seus apoiantes, sabe para quem fala, sabe como direcionar a sua mensagem, fala para aqueles que acordam às cinco da manhã, sem dinheiro na conta, sem comboios por causa de greves, sem médico de família, sem direito a qualquer subsídio social mesmo tendo descontado a vida toda, sem incentivos de emprego para os mais jovens, sem direito à habitação.

Neste momento, o cenário político português encontra-se num empasse até à formação do novo governo. O partido político vencedor, a AD, precisa agora de 116 deputados para uma maioria no Parlamento, o que me leva a chegar a estas duas conclusões: a vitória eleitoral reforçou a importância do dever cívico de todos os cidadãos enquanto eleitores e principais atores neste processo de governabilidade do país e ao mesmo tempo reforçou a ideia que quando se está em minoria, as coligações e as negociações com outras forças políticas fazem parte do manual de sobrevivência política de todos os partidos políticos, garantindo assim a estabilidade que o país precisa.

Nestas eleições e em todas as demais, os vencedores devem continuar a olhar para os portugueses e para as suas necessidades de forma mais séria e empática e os vencidos devem continuar a colaborar, mesmo não apoiando totalmente, com os que mais corresponderam aos interesses dos portugueses e a ouvir principalmente os mais jovens, pois têm sido aqueles que se vêm obrigados a sair do país para poderem se emancipar profissionalmente e constituírem a sua família.

Aparentemente falarmos não resolve e estarmos calados é sinal de conformismo então o voto torna-se o método democrático mais eficaz para defender convictamente o nosso sentimento para que haja uma melhoria da nossa vida individual e coletiva.

Como já dizia Churchill, “a democracia é apenas o pior regime com exceção de todos os outros” e por isso, é preciso desempossar os partidos populistas das suas bandeiras, é preciso que os partidos tradicionais tenham coragem para falar de temas fraturantes e que importam aos cidadãos, tais como, a segurança individual e nacional, a migração descontrolada, a corrupção, entre outros.

A meu ver e terminando este artigo, está mais do que comprovado que os portugueses estão cansados de eleições, estão cansados de jogos políticos e malabarismos, estão cansados de promessas vazias, estão cansados de ter um presente estagnado e um futuro desfraldado. Enquanto os nossos representantes se vestirem com promessas vazias, andarem com discursos promissores e venderem sonhos para os portugueses, o país não crescerá e não haverá outra alternativa senão romper com as lentes de continuidade e optar-se por lentes renovadas.