Nos últimos anos, um antigo nome esquecido pelos livros de história ressurgiu na internet, despertando curiosidade e alimentando diversas teorias da conspiração: a misteriosa Tartária. Segundo essas teorias, a Tartária teria sido uma civilização grandiosa e altamente desenvolvida, mas teria sido apagada da história pelos grandes poderes globais. Mas o que há de verdadeiro nessa narrativa? Foi a Tartária real ou apenas uma distorção histórica?
Historicamente, o termo Tartária foi usado por cartógrafos e exploradores europeus entre os séculos XV e XIX para se referir a uma vasta região da Ásia, que abrangia partes da atual Rússia, Mongólia, China e Cazaquistão. No entanto, essa denominação não indicava um império ou um Estado unificado, mas sim um conjunto de povos nômades e diversas culturas que habitavam a região, como os mongóis, tártaros, cazaques e outras etnias.
A designação "Tartária" começou a desaparecer dos mapas e livros de história à medida que o Império Russo expandia seu domínio sobre essas terras, integrando-as ao seu território. Com o tempo, o nome se tornou obsoleto e foi substituído por denominações mais específicas, como Sibéria e Ásia Central.
A ideia de que a Tartária teria sido um império avançado e tecnologicamente sofisticado começou a surgir em fóruns da internet e canais de conspiração no YouTube por volta dos anos 2010. Segundo essas teorias, a Tartária teria sido uma civilização global com arquitetura monumental, energia livre e um alto grau de conhecimento, mas teria sido destruída e apagada pelos "controladores da história", como governos, acadêmicos e elites secretas.
Os teóricos da Tartária muitas vezes citam antigas construções, como catedrais, palácios e edifícios monumentais ao redor do mundo, alegando que essas obras não poderiam ter sido construídas pelas civilizações convencionais, mas sim pela suposta civilização tartariana, que dominaria tecnologias avançadas.
Um dos pilares das teorias sobre a Tartária é a chamada "Mud Flood" (inundação de lama). Segundo essa crença, um evento catastrófico global teria ocorrido entre os séculos XVIII e XIX, cobrindo cidades inteiras com lama e soterrando edifícios e estruturas antigas. Como prova, os defensores dessa teoria apontam fotografias antigas de cidades europeias e norte-americanas, onde é possível ver construções com janelas e portas parcialmente soterradas.
A explicação histórica para isso, no entanto, é bem diferente. Em muitas cidades do mundo, a elevação dos níveis do solo aconteceu naturalmente ao longo dos séculos devido a depósitos de sedimentos, reformas urbanas e reconstruções após desastres naturais. Além disso, algumas cidades construíram novos níveis de ruas para combater enchentes e melhorar a infraestrutura.
A teoria da "Mud Flood" e do "Grande Reset" alega que um cataclismo proposital teria sido orquestrado por forças ocultas para apagar a Tartária da história e reescrever o passado da humanidade. No entanto, não há evidências científicas ou históricas que sustentem essa ideia.
Outro argumento frequentemente citado pelos teóricos da Tartária é a existência de edifícios monumentais do século XIX e início do século XX, como o Palácio de São Petersburgo, a Catedral de São Basílio, em Moscou, e construções semelhantes na América e na Ásia. Para os defensores da teoria, essas obras seriam vestígios da civilização tartariana e não poderiam ter sido construídas com as técnicas convencionais da época.
No entanto, a arquitetura neoclássica e o estilo Beaux-Arts, que dominaram o século XIX, explicam perfeitamente a grandiosidade dessas construções. Muitas dessas cidades passaram por períodos de grande desenvolvimento e usaram mão de obra qualificada para erguer prédios sofisticados, seguindo modelos arquitetônicos inspirados na Roma e na Grécia antigas.
O mito da Tartária ganhou força nas últimas décadas por diversos fatores:
Desconfiança das narrativas oficiais: muitos grupos que acreditam na Tartária desconfiam das versões oficiais da história e acreditam que há uma conspiração global para esconder a "verdade".
Interesse por história alternativa: a ideia de civilizações perdidas sempre despertou a imaginação popular, como acontece com Atlântida e Lemúria.
Facilidade de disseminação na internet: fóruns e redes sociais, como YouTube, TikTok e Reddit, possibilitaram a rápida disseminação de vídeos e teorias sobre o tema.
Atração por mistérios e conspirações: muitos acham a ideia de uma civilização apagada da história mais intrigante do que os fatos históricos convencionais.
O problema dessa popularização é que muitas pessoas acabam acreditando na narrativa sem buscar evidências históricas concretas.
Sim. Historiadores e arqueólogos explicam que a Tartária nunca foi um império unificado, mas sim um nome genérico usado para descrever diversas tribos nômades da Ásia Central. Além disso, não há documentos, ruínas arqueológicas ou relatos confiáveis que sustentem a existência de uma civilização tecnologicamente avançada que foi apagada da história.
Os edifícios atribuídos à Tartária podem ser explicados pela arquitetura tradicional de suas épocas, e a suposta "Mud Flood" não passa de um fenômeno urbanístico comum em cidades antigas.
Ainda assim, a crença na Tartária continua a se espalhar, mostrando como a internet e o desejo por mistérios podem levar ao ressurgimento de teorias sem base científica.
O mito da Tartária é um exemplo fascinante de como a história pode ser reinterpretada e distorcida na era digital. Embora a Tartária tenha sido uma designação geográfica real no passado, a ideia de um império avançado apagado da história não tem fundamento histórico ou científico.
E você? Acredita que a Tartária tenha sido um Império destruído por forças ocultas devido a sua corrupção? Ou apenas mais uma teoria da conspiração que ronda na internet e nas redes sociais?