Entre os milhões de olhares que se voltaram para a London Eye ao longo destes 25 anos, há aqueles para quem ela transcende a mera condição de atração turística — ela se torna um símbolo íntimo de pertencimento, memória e transformação. Eu sou uma dessas pessoas.
Para mim, uma apaixonada por Londres, a London Eye é mais do que uma estrutura imponente à beira do rio Tâmisa. Ela é, de certa forma, uma tatuagem invisível gravada em minha alma. Não há como contar minha história sem mencionar essa companheira silenciosa. Ah, se a Eye pudesse falar, contaria segredos de cada sonho, cada lágrima, cada riso que presenciou, inclusive meus.
Desde que cheguei a Londres, há mais de duas décadas, ela tem estado lá, girando com uma constância serena, como se acompanhasse cada passo da minha louca jornada. Para mim, a London Eye é um templo ao ar livre — um refúgio onde me perco em pensamentos, medito sobre o passado e me preparo para os mistérios do futuro. A observei sob a rara claridade de um sol londrino, envolta na névoa que confere à cidade seu ar enigmático, e banhada pelos mais sublimes pores do sol, onde o horizonte se transforma em cores e profundo insPirar.
Ela tem sido testemunha silenciosa dos momentos mais intensos da vida: das alegrias espontâneas aos episódios de profunda dor. Recordo-me de como sua silhueta, sempre imponente, parecia não acreditar no que acontecia no dia do atentado terrorista na ponte de Westminster em 2017 — um dia em que a cidade chorou, mas como sempre Londres se ergueu com sua peculiar resiliência. E, em 2022, enquanto uma fila de corações entristecidos se formava ao longo do rio Tâmisa para se despedir da Rainha Elizabeth II, a roda seguia seu curso, imperturbável, como um símbolo de um ciclo, da continuidade da vida.
Cada olhar para a London Eye me lembra que Londres é uma cidade que acolhe, cura e transforma. A cada volta, sinto a promessa, o desafio de que há sempre algo novo a ser descoberto — na paisagem urbana, no mundo ao redor, e, sobretudo, dentro de mim.
25 anos de história: de um sonho temporário a um ícone eterno
Em março de 2025, a London Eye celebra um marco extraordinário — 25 anos de existência, de histórias entrelaçadas e de sonhos elevados. Idealizada pelos visionários arquitetos David Marks e Julia Barfield, e concebida como parte das celebrações do milênio com o apoio da British Airways, ela nasceu como o Millennium Wheel. A construção teve início em 1998 e, em 2000, foi inaugurada pelo então primeiro-ministro Tony Blair.
O que poderia ter sido um projeto efêmero, planejado para durar apenas cinco anos, rapidamente se transformou num símbolo permanente, amado tanto pelos visitantes quanto pelos londrinos. Seu sucesso retumbante fez da London Eye um marco indissociável da paisagem urbana.
Uma maravilha da engenharia e da ambição
A London Eye não se destaca apenas por sua beleza; ela é uma verdadeira obra-prima da engenharia moderna:
Montagem inovadora: diferente das rodas-gigantes tradicionais, ela não possui um eixo central fixo. Sua sustentação se dá por uma elegante estrutura em forma de “A”, firmemente ancorada às margens do Tâmisa.
Içamento histórico: a construção ocorreu de maneira singular, em seções montadas sobre plataformas flutuantes, que depois foram elevadas lentamente até a posição final — um processo que levou mais de uma semana, exigindo precisão e coragem.
Dimensões extraordinárias: com 135 metros de altura, a London Eye foi a maior roda-gigante do mundo até 2006, quando foi superada pela Star of Nanchang, na China. Ainda assim, ela permanece a mais alta da Europa, um testemunho de sua grandiosidade.
Composta por 32 cápsulas — representando os 32 bairros de Londres, numeradas de 1 a 33 (excetuando o número 13 por superstição) — cada compartimento acomoda até 25 pessoas, o que significa que, a cada rotação, 800 almas podem se juntar a ela. Em um passeio de aproximadamente 30 minutos, em um dia claro, é possível enxergar até 40 quilômetros, revelando marcos históricos como o Palácio de Buckingham, a Torre de Londres, o Parlamento e até o Castelo de Windsor.
Um palco de histórias, romances e inspirações
A London Eye é mais que uma maravilha arquitetônica; ela é a tela onde se desenham incontáveis narrativas. Mais de 5.000 pedidos de casamento já encontraram seu cenário perfeito nas suas alturas, transformando-a num refúgio romântico, onde o amor se declara sem reservas. Seu papel como protagonista também se estende à sétima arte e à televisão, tendo brilhado em produções como Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007), Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer (2007), Doctor Who e Sherlock (BBC), além de eternizar momentos no icônico videoclipe de Wonderwall, da banda Oasis.
Figuras emblemáticas, como Nelson Mandela, Leonardo DiCaprio e Kate Moss, já compartilharam com ela a experiência única de contemplar Londres de um ângulo tão elevado quanto inspirador. Durante as Olimpíadas de 2012, ela se iluminou com as cores dos anéis olímpicos, enquanto o mundo se unia em celebração à cidade.
Um olhar para o futuro: sustentabilidade e renovação
Ao completar um quarto de século, a London Eye reafirma seu compromisso com o futuro e com o meio ambiente. Administrada pela Merlin Entertainments, ela tem implementado medidas para reduzir sua pegada de carbono, adotando fontes de energia renovável e substituindo suas luzes por LEDs de baixo consumo.
Neste aniversário especial, a programação de celebração traz experiências VIP, exposições interativas que narram sua fascinante construção e um espetáculo de luzes dedicado à sustentabilidade. Uma das cápsulas será transformada na “cápsula verde”, destacando as iniciativas ambientais que inspiram Londres a cuidar do seu planeta.
Mais do que um ícone, um companheiro de vida
A London Eye já acolheu mais de 85 milhões de visitantes e continua a atrair cerca de 3,5 milhões de pessoas por ano. Ela não apenas impulsiona a economia local — estimada em mais de 2 bilhões de libras desde sua inauguração —, mas também se tornou um símbolo pulsante da modernidade e da eterna transformação de Londres.
Para mim, porém, ela vai além dos números e das estatísticas. Ela é aquela presença constante, que se faz sentir nos momentos de êxtase e nas horas de silêncio. É a roda que segue girando, mesmo quando o tempo parece parar, lembrando-me que a vida é feita de ciclos, de recomeços e de infinitas possibilidades.
Enquanto Londres dança sua eterna valsa entre o antigo e o contemporâneo, a London Eye continua a girar, carregando em seu seio histórias, sonhos e a promessa de novas perspectivas. Para o mundo, ela é um ícone de inovação; para mim, é um lembrete diário de que sempre há algo novo a ser descoberto — basta olhar de um ângulo diferente.