A cegueira contemporânea não é física, porém é fruto de ‘cegos que vendo, não veem’. Há uma quantidade enorme de informação circulando e uma quantidade ainda maior à disposição. Isso confunde, embota e causa uma certa acomodação nas pessoas, perde-se a atração pela busca, desejo e curiosidade pela informação, na sensação de que tudo está à mão e quase tudo já é dado.
(Anna Cristina Brisola, em sua Tese de Doutorado)
Atualmente, tem-se ouvido muito falar sobre a entrada das novas tecnologias na sala de aula, principalmente as Inteligências Artificiais e suas ferramentas, como o Gemini, do Google ou o ChatGPT, da OpenAi. São muitos os educadores preocupados com a evolução do ensino, preocupação essa legítima, de que tais ferramentas poderão prejudicar em muito o ambiente de aprendizado.
Diante do cenário, também é comum ouvir de muitos colegas de que os novos recursos poderão “emburrecer” o nosso alunado, pois não haverá espaço para os desenvolvimentos intelectuais — as tarefas serão processadas a um clique e por um prompt simplório, dificultando o entendimento do aprendente sobre o “como fazer” determinadas tarefas. Na minha opinião, o tema não é tão simples e precisa ser debatido.
Assim, se faz claro que, como quaisquer ferramentas e tecnologias, conhecê-las e aprender a utilizá-las é o primeiro passo. Por isso, neste texto, apresento alguns usos possíveis e pontos de vistas positivos, entre as mais diferentes disciplinas para as tarefas cotidianas que esbarram na educação. Com isso, pretendo ajudar e levar você, pessoa educadora ou curiosa no tema, a refletir mais sobre os diversos prismas todos que essa questão trespassa.
Tudo isso ainda é muito novo para todos nós, mas, de antemão, já saiba que esses novos recursos devem, com toda a certeza, nos auxiliar nas tarefas didáticas do nosso cotidiano. Espero, de coração, que você faça uma boa leitura e que este pequeno artigo ajude a encontrar boas saídas para elevar a qualidade da educação na totalidade.
Precisamos ver as novas tecnologias como ferramentas complementares ao ensino tradicional
Como já mencionado na introdução, é muito importante trazer para as pautas educacionais os mais recentes aprendizados, não só para os alunos, também por parte daqueles que praticam a docência, eternos aprendizes. Aprender a entender o funcionamento e as mais variadas (e inusitadas) formas de utilização dessas novas ferramentas é essencial para abrir os melhores caminhos, de maneira que eleve a capacidade pedagógica dos professores.
Lembrando que é importante para esses profissionais também buscar compreender os novos contextos, como, por exemplo, as consequências do capitalismo de vigilância e seus impactos durante as práticas educativas, tema este que não me prolongarei aqui. Tal fenômeno, que envolve a coleta e análise de dados pessoais para fins comerciais e de controle, pode influenciar negativamente o ambiente escolar, criando ainda maiores desigualdades e limitando a liberdade acadêmica e pedagógica, não só no contexto institucional quanto no cotidiano dos profissionais atuantes.
Por isso, não basta apenas nos sobressairmos de todos os possíveis problemas com ajuda da tecnologia, questões como consciência de classe e empatia incluem-se como quesitos de extrema importância de se tomar consciência pelos educadores, de modo a serem adequadas para uma abordagem efetiva nesses contextos.
Smartphones e seus similares em sala de aula — de vilão da distração para herói facilitador?
A presença de smartphones, entre outros dispositivos informacionais tecnológicos nas salas de aula, sempre geraram debates acalorados entre professores, responsáveis e estudantes. Inicialmente vistos como vilões distratores e redutores de produtividade, esses e outros dispositivos do tipo têm, nos últimos anos, mostrado seu potencial como ferramentas poderosas de aprendizado em todos os níveis.
Smartphones podem ser usados para acessar uma vasta gama de informações em tempo real, permitindo que pesquisas instantâneas e complementam aulas com conteúdos multimídia de acesso individualizado.
Além disso, diversas aplicações educacionais oferecem recursos interativos, como quizzes, flashcards, e exercícios de reforço, que tornam o aprendizado mais dinâmico e envolvente. E não param por aí — novidades surgem todos os dias. Um bom exemplo a ser utilizado está nas aulas de matemática, os aplicativos podem auxiliar os alunos a visualizarem conceitos abstratos por meio de gráficos e simulações de maneira facilitada, devido à interatividade, só possível por meio de tais ferramentas.
Já em disciplinas de idiomas, plataformas permitem a prática diária e o aperfeiçoamento de habilidades linguísticas. Nas ciências físicas e biológicas, aplicativos de realidade aumentada podem trazer experiências laboratoriais diretamente para a sala de aula, com a visualização de estruturas complexas em 3D, trazendo um mundo completamente novo para o entendimento de muitos desses conteúdos.
A integração eficaz desses dispositivos no ambiente educacional exige políticas claras e uma abordagem pedagógica planejada. É crucial estabelecer regras justas de uso para garantir que os equipamentos sejam bem utilizados como ferramentas de aprendizado, e não como fontes de distração, no fim. Ao re-transformar essas novas ferramentas em aliados no processo educacional, podemos não apenas melhorar a qualidade do ensino, conseguiremos preparar os alunos para um mundo cada vez mais digital e interconectado. Por isso, é de extrema necessidade que sejam vistos como uma oportunidade para revolucionar a educação e tornar as aulas mais interativas, colaborativas e mais eficazes.
Utilização dos chats de inteligência artificial — podemos utilizá-las como práticas de estudo interativas
A introdução de chats de Inteligência Artificial (IA), (ChatGPT, Gemini, Llama, entre muitos outros) nas práticas educacionais, abre um novo leque de possibilidades para personalizar a aprendizagem e tornar o processo educativo mais dinâmico e eficaz. Não se tem apenas pontos negativos no uso delas e pretendo aqui mostrar os porquês.
Uma das maiores vantagens das ferramentas de chats de IA é a capacidade de dar um feedback imediato para qualquer conteúdo ou contexto nelas inserido. Quando os alunos têm acesso àquilo que responde suas dúvidas instantaneamente, o processo de aprendizagem se torna mais fluido e menos frustrante. Esse feedback em tempo real pode ajudá-los a corrigirem seus erros rapidamente e a entenderem os conceitos de maneira mais profunda e eficiente, cobrindo lacunas que antes seriam quase impossíveis (ou extremamente difíceis) de serem detectadas ou resolvidas por meio do ensino tradicional.
Ainda, essas ferramentas podem ser utilizadas para personalizar a aprendizagem. Cada aluno presente em uma sala de aula tem um ritmo e estilo de aprendizagens diferentes, e os chats de IA podem adaptar-se a essas necessidades individuais. Com a capacidade de analisar o desempenho e o progresso dos alunos por meio de ferramentas analíticas de dados, essas ferramentas podem oferecer conteúdos e exercícios específicos que atendam às áreas onde cada um precisa de mais apoio.
A colaboração entre alunos e educadores também pode ser beneficiada com o uso de chats de IA
Ferramentas geradoras de textos podem mediar discussões em grupo de uma maneira impessoal, facilitando a troca de ideias e a construção conjunta do conhecimento. Isso pode criar um ambiente de aprendizado muito mais colaborativo e menos centrado no professor, promovendo maior autonomia dos aprendentes. Isso fora as práticas de fact-checking que poderão ser lecionadas já nos momentos iniciais da educação formal, mostrando na prática para os alunos sobre como confirmamos notícias e fatos históricos.
Já no contexto de pesquisas e trabalhos acadêmicos, os chats de IA podem facilitar enormemente o processo de coleta de informações e a organização de ideias. Ao utilizá-las para explorar temas específicos, os alunos podem obter uma ampla gama de informações de forma rápida e eficiente.
Indo mais além, essas tecnologias poderão ajudar a melhorar a criatividade e o pensamento crítico dos alunos, ao fornecer diferentes perspectivas e sugestões que talvez nunca fossem consideradas inicialmente. Por exemplo, em um projeto de história, um chat de IA pode auxiliar os alunos a encontrar fontes primárias relevantes e a compreender o contexto histórico de determinados eventos, facilitando a pesquisa. Em trabalhos de redação, a IA pode sugerir estruturas melhores para um texto e fornecer preciosas informações sobre a clareza e coesão dos argumentos apresentados. Realmente são muitas as possibilidades.
No entanto, é preciso reiterar que, para aproveitar ao máximo desses recursos, é essencial que os educadores sejam capacitados para integrá-las em suas práticas pedagógicas eficazmente. Isso inclui não apenas o conhecimento técnico sobre o uso dessas tecnologias ou como se dá seu funcionamento interno, mas também uma compreensão profunda de como elas podem ser utilizadas para promover um ensino mais significativo e personalizado para cada envolvido no processo.
Em suma, a utilização dos chats de IA como práticas de estudo interativas podem, com toda certeza, representar uma oportunidade única para transformar a educação nos moldes em que se encontra na maioria de seus contextos. Como vimos, essas ferramentas têm o potencial de tornar a aprendizagem mais personalizada, colaborativa e dinâmica, preparando os alunos para enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais digital e interconectado.
Como as tecnologias podem tornar o ensino mais acessível e envolvente para todos os alunos, incluindo aqueles com necessidades especiais
Ao considerarmos as inovações tecnológicas na educação, é imperativo que reflitamos sobre o impacto positivo que essas ferramentas podem ter na inclusão e na acessibilidade de conteúdos e contextos. Quando bem aplicadas, elas têm o potencial de nivelar o campo educacional, oferecendo recursos personalizados que atendam com afinco às necessidades individuais de cada aluno.
Para estudantes com deficiências, por exemplo, muitas dessas soluções tecnológicas podem representar uma mudança transformadora, proporcionando maneiras adaptativas de aprendizado que vão além das limitações tradicionais. Ferramentas de leitura de texto, softwares de reconhecimento de voz e aplicativos que transformam linguagem de sinais em texto são apenas alguns exemplos de como a tecnologia pode abrir novas portas para alunos com necessidades especiais.
Tais abordagens não apenas promovem a inclusão, mas garantem que todos os alunos, sem exceção, tenham uma experiência educacional rica e engajadora, independentemente de suas habilidades.
Conclusão
Diante dessas possibilidades (e desafios!) que citei ao longo deste material, é inegável que as nossas mais recentes tecnologias têm o potencial de revolucionar o ambiente educacional, mesmo não sendo muito bem quista nos ambientes mais tradicionais — para não dizer desfasados. O principal argumento é que, se bem integradas, são ferramentas que não apenas complementam o ensino, mas ampliam os horizontes do aprendizado, tornando-o mais acessível e dinâmico, além de extremamente personalizado.
E é claro que a adoção dessas tecnologias deve ser feita com cautela e reflexão crítica. É fundamental que educadores e instituições estejam capacitados para utilizá-las de maneira eficaz e ética, garantindo que a tecnologia seja utilizada como um facilitador do conhecimento, e não como um substituto superficial da aprendizagem.
Além disso, se faz imperativo que políticas públicas claras sejam estabelecidas para orientar o uso de dispositivos tecnológicos em salas de aula, de modo a maximizar benefícios e minimizar distrações. A consciência sobre os impactos são elementos essenciais para uma abordagem equilibrada e justa na educação. Portanto, ao abraçar essas inovações com responsabilidade e visão crítica, podemos transformar os desafios em oportunidades, e dessa forma seguirmos preparando nossos alunos para um mundo cada vez mais interconectado.