Os motores de busca tornaram-se ferramentas indispensáveis, mas ainda relativamente poucas pessoas sabem que os algoritmos por trás desses sistemas são influenciados por inúmeros aspectos ideológicos. Desde a década de 1990, o mercado capitalista se apropriou dessas tecnologias e vem ganhando cada vez mais controle sobre elas.

A empresa Google, em particular, dominou o cenário ao introduzir seu revolucionário algoritmo Pagerank. Desde lá, o algoritmo levou em conta não apenas as informações das páginas da web, mas também o comportamento dos usuários para determinar a relevância dos resultados de pesquisa. Porém, essa abordagem foi aproveitada pela empresa (e por muitas outras) para promover vendas e publicidade direcionadas aos usuários.

Diante do contexto, surge uma questão importante: até que ponto nossas buscas estão sendo moldadas por interesses comerciais e até quando os usuários devem deixar de se importar?

Domínio do Google no cenário dos buscadores

O Pagerank, um dos primeiros algoritmos utilizados pelo buscador Google, trouxe uma revolução para o campo dos buscadores de palavras-chave na Internet. Esse algoritmo não se limitava apenas às informações presentes nas páginas, mas considerava também o comportamento dos usuários presentes nelas, determinando a relevância dos resultados de busca de forma inovadora para a época. Foi um sucesso e essa técnica é utilizada até hoje, muito mais complexa e robusta.

Primeiramente, precisamos entender a base do funcionamento de qualquer algoritmo. São tarefas que residem na análise da estrutura de links da web para efetivamente determinar a ordem do ranqueamento dos resultados para qualquer busca. Eles contam com reconhecimento de características distintas de cada conteúdo da web associados a uma busca em ordem de importância — de acordo com o que é "programado como importante”.

Além disso, ele utiliza os mais diversos tipos de critérios quantitativos e qualitativos para medir essa “relevância” das páginas. Número de acesso, tempo de duração, taxa de usuários que voltam para o conteúdo e mais uma infinidade de outras coisas que possam, de alguma forma, mostrar a importância relativa aos campos a que aquele material se destina. Ao analisar o comportamento dos usuários, a empresa busca fornecer resultados mais relevantes e adaptados aos interesses individuais de cada pessoa. Porém, essa personalização bem-vinda pode reforçar visões de mundo já existentes e criar bolhas. O algoritmo provavelmente não apresentará conteúdos muito diferentes daqueles que um usuário costuma consumir ou pesquisar com frequência. Isso limita a exposição dos usuários a diferentes perspectivas, criando uma realidade virtual distorcida e contribuindo para polarizações ideológicas.

A influência ideológica dos algoritmos e seus impactos

A questão da influência ideológica nos resultados das buscas realizadas pelos usuários é especialmente relevante no contexto político, como exemplificado em 2016 durante a eleição presidencial dos Estados Unidos. Relatos surgiram sobre como certos termos políticos foram direcionados para informações tendenciosas, gerando preocupações com relação à neutralidade política e levantando debates éticos sobre o controle monopolístico da informação.

Esse tema é diretamente abordado no livro Algorithmic ideology: How capitalist society shapes search engines, de Astrid Mager, publicado em 2014 e o qual preciso recomendar fortemente a leitura aos interessados pelo tema. Nele, a autora investiga como a nova força do capitalismo se insere nos algoritmos de busca através das práticas sociais.

Utilizando-se de entrevistas qualitativas com especialistas, Mager discute como os motores de busca e seus modelos de receita são negociados e estabelecidos dentro de uma rede de atores e interesses, principalmente fornecedores de sites e usuários. Mostra, também, como sua ideologia capitalista é solidificada. Lembrando que tudo isso acontece em um contexto sociopolítico caracterizado pelo clima tecnologicamente inovador e pela política de privatização e precarização do atendimento social de classes menos favorecidas.

Em suma, ao garantir uma discussão atenta a esse tema, contribuímos para a crítica contemporânea aos buscadores de palavras-chave ao enfocar principalmente os modelos comerciais dessas ferramentas e suas implicações sociais. Além disso, a prática nos mostra uma mudança na perspectiva como necessária, passando do impacto para as práticas sociais e relações de poder envolvidas na construção dessas ferramentas (e até mesmo nas redes sociais).

Lidando com a não-neutralidade e suas consequências

Concluindo, embora os motores de busca tenham se tornado indispensáveis em nossa vida cotidiana, é crucial reconhecer a não-neutralidade ideológica dessas ferramentas. Os algoritmos que determinam quais resultados de pesquisa são exibidos, e em que ordem, estão longe de serem imparciais. Com o passar dos anos, as empresas por trás dos motores de busca utilizaram estratégias para direcionar seus serviços para interesses comerciais específicos.

O Google foi o responsável por introduzir seu revolucionário algoritmo e desde então desenvolveu os mais avançados sistemas do planeta para oferecer seu serviço nos mais altos níveis. Considerando não apenas as informações das páginas da web, mas também o comportamento dos usuários. A atitude permitiu um ranqueamento mais personalizado dos resultados e a promoção direcionada de vendas e publicidade. Vimos que tal personalização acaba criando gigantescas bolhas de informações e fortalecendo visões já erroneamente estabelecidas. Os algoritmos, dessa forma, tendem a apresentar conteúdos congruentes com os interesses individuais de cada usuário, limita demasiadamente sua exposição a perspectivas diferentes e contribui para polarizações ideológicas, principalmente.

A influência política nos motores de busca também deve ser uma preocupação crescente. Descobertas geraram inquietações acerca da neutralidade política dos algoritmos e suscitaram debates éticos sobre o controle monopolístico e hegemônico da informação. Portanto, é, de fato, fundamental questionarmos essa não-neutralidade ideológica nos buscadores e das empresas que os implementam.

É necessário estarmos conscientes do impacto que isso tem na sociedade e da amplitude que pode tomar em nossos cotidianos. Para isso, devemos repensar as práticas sociais e as relações de poder envolvidas na construção das ferramentas de cada dia, a fim de redefinir as ideologias algorítmicas num futuro nem tão distante, baseados na importância de cada uma delas e sua relação com a população.