Falamos sobre livros, autores, mas muitas vezes esquecemo-nos de nós leitores. Somos contadores de histórias na nossa própria mente em forma de monólogo. Conseguimos recriar as narrativas que quisermos, o personagem principal é criado pelo autor, mas podemos eleger outro.

Existem vários tipos de leitores espalhados pelo mundo. Eugénio Lisboa, ensaísta e crítico literário português, fez uma divisão divertida entre dois tipos: os grandes "leitores intensivos” e os “traga-livros”.

O leitor intensivo, lê muito, mas sem pressa, assimilando cada palavra com calma e de forma analítica. Relê-o em outras visitas para promover novas ideias e ao longo da vida vai amadurecendo a visão que tem acerca desse texto. O traga livros, consegue migrar de um livro para outro com rapidez, absorve menos as palavras e, muitas das vezes, não regressa à história.

Tenho amigos que leem, cada um com um hábito diferente de leitura, mas consigo encaixá-los nessas definições facilmente, assim como eu. Acho interessante não existir certo e errado, desde que cultivem este bom hábito. Infelizmente, com a visibilidade e tendências das redes sociais, todos sabemos o que cada um está fazendo (sendo isso real ou não) e isso gera ansiedade e influencia o que lemos e na forma que lemos.

Tenho uma amiga que criava metas literárias anuais, mas começou a sentir desprazer pela prática, por tornar-se uma obrigação. Acho perigosa esta tendência, porque se queremos ter prazer na leitura devemos encontrar um caminho saudável, sem cobranças internas ou externas.

Outra questão é a tendência elevada, dos académicos, claro, de snobismo quanto à pergunta: “O que estás a ler?”; há um julgamento das obras pouco complexas, com histórias do dia a dia. Existe esta cobrança a todo tempo, principalmente visíveis e compartilhadas por “influencers literários”.

“Como ler 10 livros num mês?”, “Como memorizar aquilo que se lê?”, acham realmente que incutir hábitos literários através destas ideias influenciam as pessoas a ler mais? Eu creio que seja o contrário.

Consegui gostar de textos pelo exemplo do meu núcleo familiar, ninguém tem um grau académico lá em casa, mas sempre observei este costume em meus pais. Não foram as obras clássicas, foi um romance ou um drama, sem descredibilizar estes géneros, que me despertaram interesse em obras mais complexas.

Digo sempre que criar um grande cenário para ler só adia e faz com que procrastinemos a leitura. É acima de tudo algo prático, deve tornar-se tragável e automático como nada que haja comparação. Não é como ver TV, porque podemos criar nossa própria imagem visual das histórias.

Entrando numa visão social — se ainda não temos boas escolas públicas no Brasil, cultivar o hábito da leitura e influenciá-lo de alguma forma, mesmo que isso não seja uma ideia interessante a do ponto de vista do poder político, sim porque, quanto mais conhecimento, menos manipuláveis as pessoas se tornam e os livros oferecem o quê? Conhecimento!

Não é do interesse de quem detém maior parte do capital, ter pessoas pobres com conhecimento; isso geraria debates e reivindicações de interesses, imaginem pobres que estão na base de qualquer produção: a indústria alimentícia, quem semeia? As construções, quem as edifica? A educação, quem está nas escolas lecionando? Portanto, imaginem esta classe tendo ciência da importância que tem.

É importante citar dados para que compreendam o cenário

Um país com 203,1 milhões de habitantes, segundo o Censo 2022 do IBGE, apenas 16% das pessoas acima de 18 anos compraram livros nos últimos 12 meses, retrato apresentado em 2023 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), em pesquisa realizada pela Nielsen BookData.

O fator foi analisado por género e escolaridade, “mulheres são 51% da população brasileira, mas 57% do total de compradores nacionais. E nove em cada dez consumidores da categoria estão em níveis acima do Ensino Médio.”

Mas já que não temos medidas suficientemente eficientes no Brasil aqui vão algumas dicas para cultivar a leitura, para quem já lê e quer ler mais e para quem pouco lê: escolha algo simples que não roube muito tempo do seu dia; crie conversas e relações com pessoas que leem, também existem vários clubes de leitura online que pode aderir; tente passear os livros, isto é, andar com um livro. O dia abriga tempos mortos: nos transportes públicos, nas salas de espera; seguir nas redes sociais pessoas que falam deste mercado de forma saudável e no seu estilo de leitura, também pode ajudar. E por fim, vá a uma livraria e passeie pelas prateleiras, folheie os livros para despertar a sua curiosidade.

Ainda falando da Língua Portuguesa… segundo um novo estudo promovido pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e realizado pela GfK, em Portugal, os jovens são os que mais contribuem para a compra de livros, 62% dos inquiridos compraram livros no último ano e, destes, 70% afirmaram que compraram a mesma quantidade ou mais comparativamente ao ano anterior.

Ainda não está entre os países que mais lê na Europa, mas segundo a investigação, os jovens entre 15 e 34 anos continuam comprando livros, tendo como papel principal o livro físico (99% dos livros comprados).
Não dá para comparar esta questão entre os dois países porque encontram-se em vários lugares que divergem a nível geográfico, cultural, económico, político e populacional. Mas em ambos assistimos a uma grande influência “das redes sociais que têm alavancado o setor”.

Segundo o presidente da APEL, Pedro Sobral, “talvez se chegue agora aos livros de forma diferente, por exemplo através das redes sociais, mas a verdade é que a compra, leitura e partilha de livros é agora muito comum entre os jovens, o que é extremamente positivo para o futuro da leitura”.

Em suma, podemos visualizar uma perspectiva positiva projetada nos jovens do futuro se esta tendência continuar. No fim das contas, as redes sociais podem contribuir para o bem ou para o mal em relação às influências de leitura, basta sabermos gerir. Tornar este assunto presente no nosso quotidiano também é uma forma de impulsionar o tema. Como diria José Saramago, escritor português, “antes do interesse pela escrita, há um outro: o interesse pela leitura. E mal vão as coisas quando só se pensa no primeiro, se antes não se consolidou o gosto pelo segundo. Sem ler ninguém escreve.”