
Gosto pelo popular, poesia, música, literatura e qualquer forma de expressão artística é o que movimenta aquilo que escrevo. Tenho um fascínio pela diversidade de pensamento e pelo senso crítico. Gosto de mostrar o olhar de quem se desconecta da matéria através das profundezas das palavras.
Como luso-brasileira, habito um corpo selvagem sem grandes escolhas. Canto bossa nova apenas por carregar o pôr do sol do Arpoador nos olhos e o meu rio de Piracicaba no coração. Não posso deixar de citar o amor a Portugal, que me acolheu de peito aberto e me ensinou novos silêncios, outros modos de caminhar e o sabor das manhãs tranquilas.
Entendi que me trazia alívio quando me sentava num ambiente confortável, refletia e escrevia, como um desabafo. De início, não era algo tão natural; parecia que tinha medo de escrever. Fui descobrindo que muito do que escrevia era só para mim, o que me trouxe alívio e liberdade a cada palavra. A escrita, para mim, é um processo de cura, uma tradução de emoções que se disfarçam de pensamento.
Desde cedo, o universo artístico sempre me rodeou. Frequentei conservatórios, academias de música e diversas masterclasses, criando uma relação íntima com o piano. Apesar desse contacto direto com a música, segui por outro caminho, igualmente sonoro, o da escrita. Ler sempre foi uma luz em meio a caminhos escuros, mas escrever foi uma descoberta tardia e, por isso mesmo, profundamente transformadora.
Licenciei-me em Comunicação e Jornalismo pelo Instituto Politécnico de Portalegre, no Alentejo, onde compreendi que comunicar é mais do que transmitir mensagens, é traduzir o mundo em forma de sentidos. Durante a licenciatura, participei do programa Erasmus, estudando Comunicação Organizacional na Universidade Milton Friedman, em Budapeste. A experiência de viver entre idiomas e culturas ensinou-me que a linguagem é também um corpo, e que a forma como dizemos as coisas muda a forma como sentimos o mundo.
Após regressar a Portugal, iniciei um estágio na Rádio e Televisão de Portugal (RTP), em Évora. Ali aprendi a arte da síntese e o poder da palavra falada. Trabalhei na produção e edição de peças jornalísticas, acompanhando o ritmo veloz da informação, mas procurando manter o olhar sensível e humano diante de cada história. A escrita esteve sempre presente, seja nos concursos de poesia em que participei, seja nas produções culturais que me ligavam às raízes brasileiras, ao samba, à bossa nova, à oralidade que carrega alma e calor.
Mais tarde, mergulhei noutras vertentes da comunicação. O jornalismo me fez explorar o prazer de narrar o mundo e suas paisagens, cobrindo eventos como a Bolsa de Turismo de Lisboa e conhecendo histórias que, mais do que destinos, eram percursos humanos. Descobri que o turismo é também narrativa: uma forma de traduzir lugares e emoções através da escrita.
Além disso, atuo como Gestora de Projetos, Comunicação e Eventos, onde coordeno plataformas digitais, planeio eventos e produzo conteúdos visuais e textuais. O desafio de unir estratégia e sensibilidade faz parte do meu processo: acredito que comunicar não é apenas informar, mas também inspirar. Trabalhei ainda como Social Media Manager, desenvolvendo estratégias de marketing digital e analisando o comportamento do público. A comunicação, em todas as suas formas, é a minha ferramenta de encontro com o outro.
Entretanto, continuo o meu percurso académico no Mestrado de Comunicação e Artes pela Universidade Nova de Lisboa. Este novo ciclo tem-me permitido unir o pensamento crítico à criação artística, compreender a estética e o gesto comunicativo como partes de uma mesma essência.
Deambular e observar é, para mim, mais do que um passatempo, é um exercício de vida. Caminhar sem destino, olhar as pessoas, os sons e os espaços, desperta em mim a necessidade de escrever. É imprescindível perceber, o melhor que conseguir, aquilo que me rodeia. Quando viajo, geralmente, a última coisa que penso é que estou de férias. Tenho o fascínio de explorar tudo o que puder, não apenas pela curiosidade, mas pelo desejo de acrescentar algo ao que escrevo e ao que sou.
Não posso deixar de reconhecer que o caminho da arte é também o caminho da aprendizagem. Gostaria de listar os livros e as personalidades que moldaram a minha formação intelectual e humana, mas seria injusto citar alguns e esquecer outros. De qualquer modo, carrego comigo a gratidão por todos, os que vivem e os que já partiram, pois cada um deixou uma centelha que ilumina as minhas palavras.
Entre os boémios e os eruditos aprendi a sentir admiração verdadeira, porque independentemente do grau de conhecimento, na arte é necessário dizer-se algo, e dizê-lo com alma. Aprendo constantemente que quanto mais se sabe, mais não se sabe. Essa humildade diante do mistério é o que mantém viva a minha curiosidade.
A vida honesta e sincera é, para mim, a melhor que se pode escolher enquanto procuramos pelas soluções da morte.
(Sarah Silva)
E talvez a arte, seja na escrita, na música ou numa simples contemplação, seja uma dessas soluções, uma forma de permanecer quando tudo o resto é impermanente.





