Desde pequenos que ouvimos os nossos pais e avós dizerem “Estuda para um dia teres um trabalho bom e seres alguém na vida”. Se estudássemos como eles diziam poderíamos almejar sermos tudo aquilo que quisemos, desde médicos, advogados, gestores, qualquer coisa!

Em tempos idos, na altura em que os nossos pais se formaram e começaram a trabalhar, as perspetivas eram boas: o primeiro trabalho, por norma, era para a vida toda, conseguiram juntar dinheiro para dar entrada numa casa, casavam e constituíam família.

Um sonho para eles e para a nossa geração um verdadeiro pesadelo, senão mesmo, um inferno! A minha geração, aquela que nasceu nos anos 2000, veio encontrar um mar de problemas: constantes crises financeiras, problemas ambientais, doenças do foro mental e novos vírus a cada instante, precariedade laboral e por aí fora. Perante tudo isto, como é que um jovem recém-saído da universidade pode sequer pensar em começar a sua vida, quanto mais, ser independente dos pais? Apesar dos problemas serem muitos e as soluções estarem ainda “atrás do pôr sol”, gostaria de me focar num em específico que é a procura pelo primeiro emprego e a falta de experiência.

Quando éramos pequenos contaram-nos a história da carochinha, de que se tirássemos um bom curso, teríamos um emprego garantido. Com o dito “bom trabalho” conseguiríamos arranjar a nossa casa e constituir a nossa família. Receio bem que, não seja neste Portugal. No Portugal dos nossos dias, os jovens da minha geração andam três e mais anos a “queimar as pestanas” numa licenciatura que, no fim lhes prometeu um emprego bom e independência dos pais, mas que não passou disso mesmo, uma promessa. Mas nem será isto o pior, esse vem depois: na procura pelo primeiro emprego.

Depois do curso concluído, com o canudo na mão, viria aquela que seria melhor parte de ter um curso que, era trabalhar na nossa área de estudos e colocar em prática tudo o que aprendemos na academia. Contudo, não é bem assim e é aí que o pesadelo começa para muitos de nós que estamos a terminar os nossos cursos. Até podemos ter as qualificações para um determinado cargo, mas falta-nos algo que as empresas presam mais do que as qualificações: a experiência.

Pergunta: como é que podem pedir experiência a alguém que acabou de sair da faculdade? Compreendamos uma coisa, para uma pessoa exercer uma dada profissão necessita de estudos e, só depois é que poderá exercer a profissão e, por conseguinte, ter a tão desejada experiência. Uma coisa não pode invalidar a outra porque, dessa forma, não haveria pessoas com licenciadas.

Os jovens que se dedicaram três, quatro, cinco, seis anos ou os que forem, durante todo o curso na esperança de virem a exercer a sua profissão de sonho, não merecem ser defraudados pelo sistema. O mesmo sistema que lhes promete mundos e fundos e, no fim, são só promessas vãs. Tudo bem, um jovem de 21 anos pode não ter a prezada experiência que o cargo lhe exige, mas se esforçou para ter o seu curso, também merece uma oportunidade!

Dizem os entendidos nestas coisas que as gerações que se estão agora a formar têm muito talento e capacidades para vingar, mas de que é que isso vale se não podem trabalhar no seu país? O que é que importa um candidato a primeiro-ministro vir dizer que gostaria que os jovens ficassem no país e, os que saíram, regressassem, senão criam condições e não facilitam a vida a quem cá quer ficar? Se devolver o dinheiro das propinas é criar condições ou impedir que os jovens saiam do país, creio que só está a adiar o inevitável, porque os jovens não necessitam que os ludibriem com prémios. O que os jovens necessitam é de um país que lute por eles e que lhes dê condições para se fixarem.

Se há povo que sabe o significado da palavra saudade por ter de deixar a sua família e o seu país para arranjar melhores condições de vida noutro local, esse é o povo português. Muitos de nós, com certeza, já tivemos de nos despedir de um ente-querido que se viu obrigado a partir para o desconhecido à procura daquilo que o nosso país foi incapaz de lhe dar: dignidade e melhores condições de vida. Não voltem a cometer o mesmo erro duas vezes, pois será ingrato para estas novas gerações que se estão agora a formar, porque além de o país perder talento, também irá perder o seu futuro.