Quando pensamos a relação e conceituação do termo “cultura” conseguiremos chegar a infinidades de temáticas, delimitações, definições que geram outras dúvidas e que se prolongam através de variados ritmos. Quando aplicamos essa terminologia à um antagonismo da mesma, mas que se engloba, envolvemos o espaço para mais uma problemática vigente, que é Contracultura. Essas palavras possuem um envolvimento muito grande e simbolizam uma similaridade de espaços em comum, que é a área das apropriações da cultura, e o megaprocesso globalizado de mercado gerado no Séc. XX e XXI, que nos ajuda a pensar os locais de presença e de importância política e de fomento da arte na contemporaneidade.

Em primeiro lugar, é importante pensarmos inicialmente o conceito de Contracultura e como ele se estabelece na nossa relação com o conceito de cultura. A Contracultura se estabelece como um movimento realizado por jovens que buscavam mudanças frente às subsequentes padronizações culturais que aconteciam no pós-guerra, ou seja, uma mudança frente à conservadorismo das atividades que se seguiam nas décadas posteriores há 1945. A expressão de jovens na década de 60 foi fundamental para pensarmos nos estabelecimentos desse conceito, já que, após essa década uma mudança estrutural nas relações que os jovens se estabeleciam com as cidades mudaram paulatinamente. Em vista disso, às novas acepções culturais que saíam do padrão anterior para entrar nessa nova “geração” eram bastante variados, pois, iam desde vestimentas às cores de cabelo, de usos de psicoativos ao misticismo oriental.

As motivações principais para a sociedade juvenil do período seguir esse pensamento detém bastante discussão, mas basicamente ela se vem das frequentes tensões políticas que assolavam a sociedade ocidental no Séc. XX, como por exemplo, as sucessivas ditaduras militares que assolaram os países latino-americanos. As ditaduras que se seguiam por esses países tiveram forte descontentamento por parte dos jovens que saíam as ruas a fim de se manifestarem e pedirem sua liberdade política e ideológica novamente, já que as mesmas lhe foram retiradas sobre o cerne do autoritarismo – importante refletir que os jovens manifestantes ao longo dos períodos ditatoriais foram frequentemente perseguidos por serem considerados “comunistas” - essa perseguição frente às gerações jovens causou intensos protestos e deixou um marco importante para o período e para as gerações posteriores.

O movimento de não seguir a ideologia predominante se estabelecia por áreas que variavam por diversos espaços, sejam eles políticos, religiosos, artísticos e afins. A contracultura, pensada como uma ação que vai se estabelecer fora do cerne predominante acaba se tornando famosa e consumida pelos mesmos públicos que tinham como foco principal se distanciar. Ou seja, o distanciamento da padronização seguiu os meios que buscavam se desvencilhar, como as manifestações estudantis de 1967 na França ou o festival de Woodstock em 1969, frequentes movimentos artísticos e políticos que não faziam parte do seguimento tradicional, como o anarquismo, como o movimento hippie, como o punk e o rock foi apropriado pelos meios jornalísticos, ganhou capas de jornais e meios televisivos, ou seja, se tornaram parte da cultura industrial da informação.

Os meios de expressão se tornaram famosos e consumidos por uma juventude branca e de classe média, o mesmo que posteriormente se figurou no Hip-Hop e no movimento artístico da pixação. Na contemporaneidade, a cultura se estabeleceu com uma fixidez na estrutura social, assim, é importante colocarmos em pauta que o capitalismo e o efeito da globalização alimentaram em muitos esses processos, solidificando assim a sociedade com um padrão de informação acessível e diagramático, que, por vários setores diferentes se espalha, por várias regiões influenciando e afetando culturas com diversidades muito grandes. Nisso, as representações identitárias mais tradicionais prevaleceram sob os mais diversos trópicos, fazendo muitas vezes o impedimento do aparecimento de novas culturas – mesmo assim, quando presentes as novidades, elas são autodenominadas “febres”, ou “virais”, pensando nossa era informacional.

A relação da cultura denominada underground com os meios culturais modernos vem de um frequente processo que busca se desvencilhar da cultura ocidental, mas, que atravessa por sucessivas inconsistências, pois a cultura “padrão” adapta a Contracultura para obter meios de promoção comercial, levando a ideologia que muitas vezes se recusa a seguir os padrões da indústria para seu próprio meio.

Compreender o processo de apropriação de variadas formas artísticas antes rejeitadas pelo padrão social é compreender que esse formato cultural tem uma importância muito grande para variadas pessoas muito antes de se tornar um produto do chamado "mainstream". Esse gênero cultural possui uma importância para variadas comunidades e formula identidades, características e conhecimento para uma diversidade de povos.

Podemos entender essa relação de proximidade através da pixação, fenômeno marginalizado socialmente e que se tornou um produto de mercado do público, sendo consumido em filmes considerados underground, vestuários e até mesmo objetos materiais. Essa presença personifica a pixação em um nicho comercial e rentável, esquecendo, em grande parte das vezes do seu caráter de manifestação e de comunicação social, que dá voz a comunidades oprimidas por sucessivas violências do Estado.

Assim, o fenômeno da pixação se descola nessa apropriação anteriormente mencionada, como uma arte da contracultura apropriada e popularizada para a cultura, para se tornar um produto a ser vendido e comercializado.

Portanto, com as reflexões propostas através do texto podemos compreender como o fenômeno popular integra o objeto artístico marginalizado e o personifica para um objeto do capitalismo. Essa idealização é problemática devido ao seu alcance e as consequentes limitações que a sua proposta pode ter em suas várias ramificações, perdendo sua identidade inicial.