Vivenciamos inevitáveis sofrimentos durante a pandemia de COVID-19 e tiramos dela também valiosas lições com as quais poderemos repensar informações e crenças diante do sentido da vida. Evidenciamos aqui possíveis lições que a pandemia nos escancarou: a importância da vida humana, muito além de qualquer realidade material; a insubstituível contribuição da ciência; a necessidade de superar o negacionismo, e, aliados ao desenvolvimento tecnológico, a necessidade de humanização.

Um primeiro elemento a considerar é o fato de que, diante de tantas mortes diárias, as pessoas obrigaram-se a avaliar a preservação da vida humana diante das mais variadas situações. Por vezes, neste mundo tão materialista, valorizam-se excessivamente os bens materiais e esquecem-se do exercício da gratidão pela própria existência e pela saúde. Muitos que poderiam adquirir bens sem limite, sucumbiram diante da impotência ao serem acometidos de um mal avassalador que ignora riquezas materiais. Vida não se compra nem se logra salvar diante de um mal mortífero para o qual ainda não se conhece antídoto. A constatação de dinheiro algum compra a saúde, faz repensar que é preciso valorizar a vida humana na sua expressão mais simples e não materialista.

Após a pandemia, impõe-se valorizar a convivência com as pessoas, relegar redes sociais a um segundo plano e viver mais a realidade concreta que nos cerca. Há desafios pela frente: as futuras gerações podem tornar-se desumanas ao se afastarem dos relacionamentos reais e apegarem-se demasiadamente à realidade do mundo virtual. A internet é uma ferramenta revolucionária, mas precisamos saber utilizá-la de forma consciente.

Outro aspecto é a questão científica. Cientistas debruçaram-se em pesquisas e, pela prodigiosa contribuição desses profissionais, em tempo brevíssimo, considerando-se que uma pesquisa científica necessita de longo tempo para comprovação dos resultados, comemorou-se a descoberta. À medida que a vacina foi colocada à disposição, as mortes foram diminuindo e os sistemas de saúde conseguiram superar aquele doloroso período em que vidas foram ceifadas em massa. Há de se considerar o quão importante se mostrou a contribuição dos pesquisadores, rápidos em desenvolver vacinas.

Por essas razões, eduquemos as novas gerações para uma constante busca pela valorização da ciência. É preciso estimular as futuras gerações para que valorizem todos aqueles que julguem pertinentes valorizar, mas, também, que tenham o devido respeito pelo trabalho científico e pela humanidade como um todo. Aplausos para todos os cientistas, não só os atuais, mas também para aqueles que, durante toda a história da humanidade, contribuíram para uma vivência com melhor qualidade de vida.

Tão importante quanto os aspectos comentados, é a questão da superação do negacionismo que tantas vidas ceifou. A ciência é o lugar do debate e da argumentação racional, pode haver críticas em relação a uma teoria, mas é necessário validar cientificamente as críticas, não podemos criticar levianamente, comentar notícias sem antes comprovar a veracidade e a fonte, e, sim, fundamentar cada posicionamento. É inaceitável regredir e acabar defendendo postulados negacionistas da Idade Média. Pelo contrário, precisamos avançar cada vez mais, refletindo em uma dinâmica de busca constante pela valorização do progresso científico. Não se trata de blindar a ciência de críticas, mas, sim, de considerar que é possível criticá-la, mas não de maneira a desvalorizar o conjunto do progresso científico. Pelo que foi noticiado internacionalmente, muitos países poderiam ter adiantado a vacinação em muitas regiões do mundo e acabaram não realizando tal intento porque correntes ideológicas negacionistas questionaram a ação dos cientistas.

A humanidade não poderá mais, de forma alguma, deixar de valorizar a dimensão da humanização. “Mais do que máquinas, precisamos de humanidade, doçura” nos dizia Charles Chaplin e tal mensagem realmente é muito importante, porque de nada adianta tanta tecnologia, mergulhar-nos no mundo virtual, sem contato com a realidade concreta das pessoas. Urge que busquemos, de diversas formas e meios, valorizar a ética e a solidariedade humana para a construção de uma sociedade em que se valorizem as tecnologias, as questões do avanço da aquisição dos bens materiais, mas também que não percamos de vista a dimensão da humanização.

Os momentos difíceis da história servem de lição e reflexão para pensarmos nos futuros capítulos da humanidade, sem perder de vista a emancipação humana e a concretização dos sonhos de prosperidade. Que a pandemia nos possibilite pensar e refletir sobre o sentido da vida e sobre nossa condição, tão frágil enquanto humanos.