O isolamento da cultura de um determinado local, fez e faz desdobramentos que contribuem com o aparecimento de fragmentos dos sentimentos humanos. As realizações humanas fazem parte da cultura. Para tanto, a cultura eleva a consciência pelo modo como percebemos, imaginamos e simbolizamos o mundo.

Então, será que a busca das realizações dos seres humanos está apenas voltada para o dinheiro? Pelo visto, o efeito do mundo capitalista com a ideia de democracia foram fermentos nessa incessante busca nas realizações humanas. Quando perguntamos a um jovem o que ele quer para sua vida , e a maioria responde – dinheiro, o que pensar do mundo? Como dizia o cantor subversivo cearense Belchior, “não quero a fama, quero a glória.” Pois bem, a fama desenvolve e alimenta os instintos, enquanto a glória evidencia a história de vida pelas suas realizações.

Pensamos, poderíamos substituir a pergunta para uma criança, o que você quer ser quando crescer? Quais seriam suas realizações em benefício da comunidade e da sociedade? Para tanto, iremos encontrar explicações na educação. O iluminado professor José Pacheco, ou melhor como gosta de ser chamado, o amigo Zé, do extraordinário projeto Escola da Ponte, lembra que “a educação não é para amadores” que está no seu livro - Inovar é um compromisso Ético com a Educação. Com uma proposta transformadora baseada nas relações cotidianas com as relações curriculares pela autonomia, responsabilidade e solidariedade surgem as comunidades de aprendizagem. Ou seja, espaços de ações educativas de sucesso. As comunidades de aprendizagem criam condições de convivialidades unindo ciência, arte e relações cotidianas, a partir dos dispositivos pedagógicos que surgem mediante o aparecimento das necessidades de convivialidades na reconstrução das relações sociais.

A comunidade de aprendizagem é a cena, a dinâmica, a sinergia entre ações, contemplações e projetos. O que alimenta uma comunidade de aprendizagem é o prazer nas convivialidades pela dimensão da investigação. Seria então, os acontecimentos do dia a dia com a vontade da descoberta por algo de interessante interesse o desafio das Comunidades de Aprendizagem? Essas comunidades de aprendizagem incentivam as metodologias na perspectiva da criatividade. Seus parâmetros estão na família, costumes, cultura, identidade favorecido pelo encontro. Assim, Zigmunt Bauman denomina comunidade como aconchegante coletivo.

Há de se considerar que, o que alimenta as comunidades de aprendizagem é a intersecção entre ciência, literatura e a vontade de aprender existente na comunidade. Gabriel García Marquez diz que o maior feitiço que existe na vida é a vontade. E, nas comunidades de aprendizagem não faltam vontade de aprender. Por quê? Porque como diz Jacob Bronoviski “E todos os paradoxos da Ciência e da Literatura nascem da nossa tentativa de falar de nós mesmos simultaneamente como um “eu” e como objeto. Este último fato tem uma importância fundamental porque é através dele que nós identificamos com outros seres humanos, e, na verdade com todas as coisas vivas.” (Bronoviski, 1997, p. 36)

Ainda com Bronoviski ele diz que “não há permanência para os conceitos científicos, porque eles são apenas a nossa interpretação dos fenômenos naturais.” Digamos que há num mundo uma riqueza de conexões, e precisamos ter consciência dessa riqueza. Cá pra nós, o que alimenta a comunidade de aprendizagem é justamente a riqueza das conexões existente no mundo. A consciência surge pela capacidade de imaginar. Onde há imaginação, há vontade e há consciência. Necessitamos de unidade mental comum em vez de instintos comuns. Para refletir temos que compreender o sentido de futuro para vida dos seres humanos.

Temos vários autores que retratam este tema. Margaret Mead em seu livro Continuidades da Evolução Cultural, investiga as realizações do homem e sua mudança social. O Pierre Teilhard de Chardin em seu livro, O Futuro do Homem, investiga numa direção cósmica a coletivização da humanidade. Essas reflexões servem para compreensão da natureza humana, a identificação com seu semelhante e as diferenças, a ideia de tempo, o encontro, as inovações e as realizações. Assim, se a ciência organiza o caos para criação da ordem, aprender e estudar é fundamental. Na carta de Paulo Freire aos professores é preciso que, “Partamos da experiência de aprender, de conhecer, por parte de quem se prepara para a tarefa docente, que envolve necessariamente estudar.” Daí, estudar e investigar são condições existentes nas comunidades de Aprendizagem. Fundamentalmente a curiosidade e o uso dos conceitos ajudará o andamento das comunidades de aprendizagem.

Nela encontramos um laboratório de convivialidades diante do paradigma da comunicação. A educação torna-se subversiva quando a comunicação envolve o processo da aprendizagem. Aprender é realizar. O livro de Salman Khan, Um mundo, uma escola, busca repensar o sistema vigente respeitando os diferentes ritmos para libertar um modelo de mais 200 anos. Vários autores já trazem um pensamento do paradigma da Comunicação como o Oliveira Lima, Agostinho Neto, Antônio Nóvoa entre outros que nos ajudam a pensar a Educação numa dinâmica do encontro com o mundo.

A Escola, está, digamos perdida diante de tantas novidades e inovações tecnológicas, com isso precisamos inovar com o compromisso ético na educação. Deixar o modelo autoritário, patriarcal, ditado pela indústria dos livros didáticos para uma postura de construção de novos livros realizados pela Comunidades de Aprendizagem. Inovar nas tarefas de casa. O modo como as crianças percebem o mundo não faz conexão com os livros didáticos.

Precisamos trazer de volta os seres humanos. Trazer a poesia, a fé, a curiosidade, a solidariedade, a autonomia, a responsabilidade e a ternura. A partir da Cidadania do Afeto construiremos espaços de educação de sucesso. A partir das virtudes, de uma matriz axiológica de valores poderemos trilhar um novo tempo nas Comunidades de Aprendizagem como diz o professor Pacheco. Não poderemos continuar a construir uma educação pela autonegação. Singularidade e alegria devem pautar as Comunidades de Aprendizagem.

Mas, quais os limites que dificultam a inovação na Educação? O que devemos compreender é a inovação social que passa pela tecnologia da informação, ou seja pela comunicação. Cada comunidade tem sua singularidade, sua trama. Por isso, pergunto, o que te diverte? Surpreendentemente o prazer em fazer algo, em aprender, é valor fundamental na educação.

Solicitamos, então, que a partir de hoje, olhemos com ternura nossos alunos como seres humanos. Dignos de realizações. Escolas como o Projeto Âncora e a Summerhill são verdadeiras cidade da educação. Para começar poderemos criar um memorial de cada aluno, com seus gostos, suas músicas, poesias, livros, filmes, lugares, cores, jogos, brincadeiras, onde sua matrícula não seja apenas um número. Não viemos para este mundo só para competir, viemos para mostrar nossas realizações em benefício da coletividade. Que cada aluno seja compreendido pela formosura de ser um humano e que a educação seja sempre subversiva.