A lusofonia representa uma economia-mundo em transformação e revela uma área geoeconómica de limites estáveis e um ecossistema político, linguístico e cultural. O elemento ligante desse grande desígnio de prosperidade comum é, naturalmente, a língua lusófona – uma língua de cultura e diplomacia. Mas, também, uma língua empreendedora do futuro: com 340 a 400 milhões de falantes em 2050 segundo os dados da Unesco, é a quarta língua mais utilizada na Internet, a terceira língua mais utilizada no facebook e no twitter e o poder económico dos falantes de português representa 4% da riqueza mundial. Se a partilha de uma língua é, por si, um agente facilitador nas transacções, a língua portuguesa – uma extraordinária moeda de troca humana – poderia converter-se no eixo manante e luminoso de uma interdependência económica solidária entre as suas centenas de milhões de falantes.

Barómetro Calvet: o português em destaque

Ressalva-se, igualmente, que a língua portuguesa alcançou a nona posição de acordo com o Barómetro Calvet das Línguas do Mundo, que avalia o peso das línguas relativamente a 10 factores distintos, aos quais se atribui igual ponderação. Entre esses factores, destacam-se, entre outros, o número de falantes como língua não materna, o índice de desenvolvimento humano, o índice de penetração da Internet e as traduções que têm o português, tanto como língua de partida como língua de chegada. Estou convicta de que uma conjugação de esforços levará a uma rápida subida de posição.

A cultura lusófona abre mundos

Temos de valorizar os nossos trunfos à escala continental. Não se trata, unicamente, de divulgar a cultura lusófona no mundo, mas também as criações em língua portuguesa que abrem portas para outros universos, outras cosmogonias, outras maneiras de estar no mundo e entender o mundo.

Se nós não acreditarmos nessa extraordinária riqueza da literatura, da música, do cinema e da criação em língua portuguesa, se não tirarmos partido a nível das indústrias culturais, se não fomentarmos a circulação dos artistas e das suas obras, até mesmo no plano dos países da Lusofonia, então, é muito provável que um dia venhamos a ser formatados por um pensamento, um imaginário e sonhos padronizados.

Devemos assumir a nossa quota-parte nessa reconfiguração do mundo, com a convicção de que poderemos cimentar esse espírito de solidariedade que constitui a própria essência da Lusofonia, contribuindo para a afirmação e a difusão dos valores que a mesma veicula e, dessa forma, nestes tempos de crise, tornaremos compreensível e evidente a necessidade imperiosa de uma solidariedade com base nos actos.

Necessidade de uma afirmação política

Para tal, é fundamental que se arquitectem propostas concretas e não meras teorias vagas e pouco fundamentadas. Nesta matéria, não há lugar ao conformismo. Os problemas concretos não se resolvem com retóricas. Exige-se credibilidade, conhecimento aprofundado e experiência. Só assim é possível uma efectiva afirmação política que impulsione um novo rumo para a lusofonia.

Urge uma orientação política responsável para as questões da língua em Portugal, aplicada neste caso ao português, seja como língua materna seja como não materna, que não se compadeça com simples afirmações, normalmente tomadas como axiomas, mas dissociadas da realidade internacional. É verdade que não falta quem fale sobre política linguístico-cultural e científica limitando-se, frequentemente, à exclusiva indicação de formas concretas de difusão da língua nas suas diversas vertentes, sem se saber exactamente para quem, onde, como e para quê.

Necessidade de uma política linguística

Em França, demoramos cerca de 40 anos a implementar uma verdadeira política linguística que resultou na criação da Organização Internacional da Francofonia (OIF), da Agência Universitária da Francofonia (AUF) e de um Ministério da Francofonia, onde a excelência de um trabalho em rede promove, permanentemente, a língua francesa no mundo.

A questão é, pois, muito mais vasta e muito mais complexa do que meras acções fantasmagóricas ou efervescentes discursos floreados. Não é tempo de experimentalismos, aventuras ou fantasias. Estamos em tempo de mudança! Aproveitemo-lo para efectivar uma mudança que irradie o incontestável valor de ser lusófono – que nos outorgue a lusofonia como um valor seguro.