Se olharmos com olhos de ver, os corpos dos jovens de hoje, o que de imediato salta à vista é a velocidade dos polegares que tenazmente trabalhar, ou melhor, tricotam sem parar no visor do smartphone... O que procuram? O significado de uma palavra? De imediato! Procuram um conceito novo? De imediato: Fast!

E como tal, não se dão conta que as palavras podem ser armadilhas, mentiras, obsessões...mas que também podem ser inovadoras e criativas a ponto de criarem nações, fazerem revoluções (USA, Revolução Francesa)... podem tornar-nos melhores pessoas, mais resilientes e inabaláveis como assistimos agora ao exemplo dos discursos de Zelensky que inspiram o mundo, que convocam resistência à ditadura e poder absoluto...percebemos que as palavras constroem o nosso destino individual e plural, no micro e macrocosmos da vida!

Mas será que estes jovens e adolescentes do tricô digital querem mudar o mundo? Fazer uma revolução de consciência?

Será que querem encontrar a sua palavra? A palavra que os define enquanto pessoa? Será que gostariam de criar um poema, de fazer a sua pintura? De expressar o seu sentir e comunicar o que vai lá dentro de si?

No cinema do pensamento todos nós temos cores, voz, tacto, cheiro, volume, textura, paisagens emocionais.. e por mais que as palavras sejam deuses, vão sempre “nascondere nostro pensiero”, como afirma o provérbio italiano e não chegam para ilustrar o que vai na nossa cabeça...Agora imaginem os SMS!? Anti comunicação; fast food emocional...imediatismo sem alma, nem coração!

Então, o que pode transmitir verdadeiramente o que temos de melhor dentro de nós?

A Arte!

Por quê?

Vai mais além...transcende a matéria, porque nos faz sentir grandes, olímpicos, piramidais e únicos! Seria bom que os jovens e adolescentes de hoje, século XXI, da geração do tricô digital, aprendessem outras manualidades, tais como, manusear o pincel e a caneta...no vazio do espaço em branco que é a tela ou da folha de papel e aí dessem o seu melhor, como apelou Fernando Pessoa: “Põe quanto és no mínimo que fazes”... se inscrevesse, recriasse, instaurasse o melhor de si mesmo! E nem que fosse por um segundo, se espantasse consigos e pudesse surpreender e ser capaz de criar, de ser pessoa, nos seus múltiplos eus, facetas, emoções, sentires...sem medos; tabus ou preconceitos; com liberdade e imaginação, entusiasmo, com partilha única, distinta, fantasticamente e altamente humana!

Deixo aqui um belo poema sobre as palavras, de Alexandre O`Neill, e boas inspirações!

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

(Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca')