Quando li duas semanas atrás a repeito da passeata pró Amazônia que reuniu muitíssimos cariocas, anônimos e ilustres, na praia de Ipanema, percebi uma grande oportunidade para chamar a atenção para a situação dramática dos ecossistemas urbanos da cidade do Rio de Janeiro que constituem o bioma Mata Atlântica. Ora, se a turma se mobilizou pela importantíssima Amazônia em chamas, iria também se mobilizar pela degradação sistêmica de nossas lagunas, baías, manguezais, restingas, brejos e demais ecossistemas de nossa cidade. Afinal nós vivemos aqui e dependemos desses ecossistemas de forma direta para sobreviver.

Bom, isso é pelo menos o que eu espero de forma otimista e esperava de forma realista.

No entanto lá no meu âmago, eu sei que não tenho nenhum elemento para funcionar de catalisador de ódios e tão pouco de xingamentos durante o evento denominado "Grito das Lagoas", quando será apresentado uma breve diagnose das causas e principalmente das potencias consequências do que está para acontecer na baixada de Jacarepaguá em resposta ao processo de degradação.

Portanto, será um ato cívico em defesa dos ecossistemas de uma cidade que se especializou historicamente em destruir o que tinha e ainda residualmente tem de melhor: seu ambiente.

Outro aspecto importante, é que a causa ambiental tem servido de "bucha de canhão" para os mais diversos interesses, tanto os nobilíssimos como também muitíssimo menos nobres, onde o que de fato se objetiva é atacar desafetos de todos os tipos, ficando o tema ambiental apenas como suporte simpático para os ataques.

Acompanhando profissionalmente o ecocídio em nosso país desde o final dos anos oitenta, com um olhar bastante crítico, clínico e envolvido diretamente no combate de delinquentes públicos e privados, eu já vi de tudo, principalmente muito gasto de energia em determinadas mobilizações com resultado prático nenhum, pelo menos em relação ao que em tese está se defendendo.

Não sei bem o que acontece em nossa cidade tão maltratada, principalmente com a cabeça das pessoas que vivem por aqui. Um lugar que tinha tudo para dar certo mas que insiste pelos mais variados motivos em repetir os mesmos erros até que as esperanças começam a escassear, a resignação e o medo se enraizar diante da destruição galopante que se impõem sem medo de ser enfrentada.

Em resumo, além de ter encaminhado para várias autoridades do executivo, legislativo e judiciário do estado do Rio de Janeiro, documento fotográfico que expõem claramente o monstro que estamos engordando e que por fim irá nos engolir, espera-se que a mobilização da sociedade para o assunto, também se materialize, visto que a Amazônia também é aqui!