A Galeria Vera Cortês apresenta “…an adventure in which humans are only one kind of participant…”, a nova exposição individual de Gabriela Albergaria.

As obras que Gabriela Albergaria apresenta nesta exposição partem da instabilidade cromática, alquímica e estrutural da natureza enquanto potência para questionar o modo como os seres vivos humanos e não humanos alteram a natureza, assim como a natureza os (e nos) altera, enquanto entidades que vivem em partilha empática na fuga a um apocalipse anunciado.

Os limites entre a paisagem e a natureza são porosos na maior parte da produção artística, mas não na obra de Gabriela Albergaria: nela tudo é natureza. É naquilo que a paisagem tem de invenção que reside, como tão bem notou Anne Cauquelin, a sua vontade de criar “um objecto cultural sedimentado, tendo a sua função própria, a de garantir permanentemente os quadros da percepção do tempo e do espaço”. A natureza, por seu lado, esquiva-se a esta objectificação e aquilo que garante não é óbvio nem estável. Aliás, são as instabilidades congénitas (e desconhecidas) da natureza e do natural que têm transformado estes campos numa das saliências mais prolíficas do pensamento artístico.

Numa ficção visual e plástica, que se situa tanto ao nível da crença pessoal como da investigação científica, a artista leva o espectador a repensar as metanarrativas e as macro-estruturas que regem o status quo contemporâneo em todos os seus eixos fundamentais: social, económico, cultural, técnico, tecnológico, etc. Contudo, mais do que de uma antecipação da falência planetária, insinua-se aqui um imaginário artístico composto por forças regeneradoras, ancoradas numa ecologia subjectiva cujo desiderato é tanto estético quanto ético. No centro deste imaginário está a Terra regenerada na e pela terra.

O título da exposição - “…an adventure in which humans are only one kind of participant…” – é uma passagem que a artista toma de empréstimo ao livro The Mushroom at the End of the World de Anna Lowenhaupt Tsing, que explora as capacidades que os cogumelos e outros fungos têm de revitalizar terrenos, possibilitando-lhes uma pós-vida na era do pós-humano. Essa tese, que está longe de ser ficcional, pode constituir-se enquanto caso daquilo que são o optimismo e a diversidade de vozes do antropoceno: enquanto aviso, alarme, consciência, urgência, acção e moderação.

A exposição de Gabriela Albergaria revela uma ecologia (também do visual) em metamorfose constante, uma suspensão do tempo que corresponde à possibilidade futura, um ocupar do espaço que o amplia em alternativas reais. Parece haver uma premediação fictícia que nos faz ter vontade de sermos cada vez menos humanos, num momento em que a humanidade é cada vez mais tecno-normativa. Mas afinal a ficção é só aquilo em que não estamos preparados para acreditar.