Desde final do século passado aos dias atuais os remakes têm sido frequentes. De filmes a desdobramentos dramatúrgicos e literários assistimos às coautorias explícitas e/ou implícitas. Afirmações pseudocientíficas também são ressuscitadas, como a ideia do bom selvagem por exemplo, e ainda, em outras áreas, o império dos conquistadores e salvadores, fazendo reaparecer profetas, líderes religiosos e políticos. Nesse panorama nada se cria, tudo se reutiliza e se tenta revitalizar. Quando não são cópias despudoradas, são mesmices reeditadas e fundadas nas mesmas questões e na não consideração das mudanças contextuais.

Supostos revolucionários e libertadores dos povos oprimidos aparecem reeditando teses de política, tanto à esquerda quanto à direita. Reeditar revoluções e ideologias fracassadas é uma prática compreensível pela permanência da opressão e da desigualdade, mas impossível pela repetição do método e maneira de arregimentar contradições em processo e já em novos contextos. Novas lideranças não podem surgir do que é reciclado, pois os pontos de contradição mudam e passam a existir em novas configurações. Lideranças e instituições nacionais e internacionais fomentam discursos e ações em prol da pobreza, mas alimentar e abastecer os menos assistidos é um processo voltado apenas para distribuição de bens e mesmo quando busca atingir suas contradições produtivas opera somente nesse mesmo universo que é a distribuição para todos. Isso está comprometido com ideias de camadas sociais, simples substituição de ordens ao invés de transformação.

Necessárias outras constatações, outra ideação acerca do que organiza e submete, do que determina e colapsa, do que desumaniza.

Seres humanos, como qualquer coisa no espaço, se movimentam. Suas trajetórias só expressam o que pode ser rastreado, o que foi deixado. As necessidades podem não mais configurar suas possibilidades. O possível pode não ser mais que o exequível e isso não é apreendido nem transformado quando apenas se vive o resultado de seu espaço percorrido, de seu caminhar. A exaustão de possibilidades, a perda de perspectivas demanda uma nova configuração que não mais funciona enquanto repetição salvadora. Não basta prover, tampouco satisfazer. Transformações são fundamentais e elas não existem por recolocação e ampliação de soluções.

Transformações, para que ocorram, implicam novas perguntas, novos problemas, novos questionamentos.

As clássicas perguntas "de onde viemos, para onde vamos, o que somos?" são pontualizações que fragmentam, mesmo ao polarizar soluções. Açambarcam um aspecto e desprezam outros. Da mesma forma, apostas colocadas somente na mudança do sistema foram apostas perdidas. Um outro ser humano, e não um novo mundo ou um novo sistema, é o que se impõe. Um ser humano não desumanizado, não coisificado é o que se requer.

Enfim, os questionamentos trazem novas configurações. Não há repetição. Surge liberação de compromissos. A descoberta da roda, a percepção das estrelas, a configuração da continuidade entre dia e noite, a descoberta da vida por símiles reguladores - não importa onde - foram libertadores.

Quando muda o contexto - o Fundo - muda a percepção. Situação A vivenciada em contexto B cria uma percepção diferente da situação A vivenciada em contexto C. Transpor é possibilitar novas realidades. Criar, transformar traz novidade, configura outras perspectivas. O editado é novo, não é o repetido, pois a sua configuração é resultante de recolocação. Não é plágio, não é mesmice, não é repetição, não são fios de meada que só permitem sair do labirinto nele se perdendo.