O escultor israelita-francês Mier Eshel nasce na cidade de Ashdod, em Israel, no ano de 1964. É em Israel que cumpre os seus estudos, na escola da força aérea, onde vem a trabalhar como técnico numa base aérea no deserto perto da cidade de Bersebá.

O contacto com o deserto desperta nele um modo habitar solitário, que vem a ser o mote predominante do seu trabalho enquanto artista. Este tema é primitivamente explorado inicialmente na construção do seu primeiro refúgio em madeira, nas dunas a sul de Ashdod, onde trabalhava como joalheiro.

Em 1987, imigra para França, e deixa para trás não só a sua vida como a compreendia até então, como também o seu nome. Adopta o nome de Absalon, uma referência directa a uma personagem bíblica e prossegue os seus estudos enquanto artista plástico.

Enquanto escultor, Absalon explora com objectos minimais de grande escala como propriedades habitáveis ou de relação entre a peça, o espaço e o observador. Se inicialmente estas esculturas de grande escala geravam espacialidade na relação do objecto construído com os espaços vazios entre eles, no seu trabalho mais notável, Cellules d’habitation de 1991-1993, estas esculturas passam elas próprias a ser o espaço habitável. O curso natural dos projectos artísticos de Absalon levaram-no a uma exploração assumida do objecto escultórico através da sua visão de habitar isolado.

«I would like to create my own setting and belong to nothing else. My living unit will be comprised of the six habitation units which I construct, and my homeland will be in-between them».
(Pfeffer, Susanne: Absalon, 2013. Tel Aviv Museum of Art. p. 181)

As seis esculturas habitáveis de Absalon

Células, ou no seu título original Cellules d’habitation, são a sua mais reconhecida e última exposição da sua curta carreira enquanto artista. A exposição constituída por seis células habitacionais, desenhadas para si mesmo e com base nas suas rotinas e movimentos diários, estão destinadas a seis diferentes cidades, Paris, Zurique, Nova Iorque, Tel Aviv, Frankfurt e Tóquio. Foram construídas na altura que Absalon se mudou para a Villa Lipchitz, uma habitação desenhada por Le Corbusier, situada na comuna de Bolonha em França, que teve também a sua cota parte de importância na inspiração para as esculturas, enquanto espaço habitacional e enquanto espaço arquitectónico escultórico.

Inspiradas em diversos movimentos artísticos, como o minimalismo e a produção em massa e em movimentos arquitectónicos, como o movimento moderno ou mesmo o construtivismo russo, o objectivo final destas esculturas não seria as suas configurações formais, mas sim cumprir o desejo de nomadismo e anseio de viver isolado da sociedade do artista. Esse desejo transmitia, quase que como una premonição, de uma era que se aproximava, onde a sociedade perderia os seus espaços privados em prol da vigilância descomedida.

Com uma área entre 4 a 9m2, estas esculturas tinham a pretensão de se tornar verdadeiras habitações funcionais, apesar de apenas uma ter sido completada. Todas as seis esculturas tiveram um protótipo construído a uma escala de 1:1, em madeira pintada no interior e no exterior de um branco higienizado. A forma exterior das células desenhava-se pela reacção com local da sua implantação e a sua forma interior correspondia a uma reacção pela função em si e pela relação com os hábitos rotineiros e forma de habitar do artista. Estas rotinas do artista, para além do básico necessário do habitar humano, comer, dormir, trabalhar e higienizar, também contavam com as suas singulares necessidades psicologias, isolamento, contemplação e evolução. As formas complexas das esculturas serviam para causar desconforto para o habitante perante as simples actividades diárias, de forma a tencionar e despertar o seu utilizador.

A afinidade abstracta entre os bunkers militares e as células de Absalon

Estas células tornaram-se um mecanismo de defesa e resistência do artista para com a sociedade, que a seu ver, declarava guerra à sua personalidade através da contaminação e da tentativa de desvio da sua personalidade do seu curso natural.

Não é possível dissociar a sua vontade de isolamento da sociedade da sua experiência militar. Muito menos dissociar a imagem imaculada e brutalista das suas esculturas dos monólitos arquitectónicos, que são os bunkers militares da segunda guerra mundial, abandonados ao longo da costa francesa, retratados por Paul Virilio no seu livro Bunker Archeology, de 1994.

Os pontos comuns formais entre as células e os bunkers são os mecanismos habitáveis de defesa, um psicológico e outro físico, e as suas configurações arquitectónicas. Se as células escultóricas de Absalon serviam para o defender dos ataques exteriores da sociedade que o combatiam psicologicamente, os bunkers militares serviam para defender os militares da segunda guerra mundial das armas sofisticadas dos seus atacantes que os combatiam fisicamente.

Arquitectonicamente estes objectos têm em comum a sua escala de abrigo, as suas formas que reagem como protectoras do exterior, as suas pequenas e controladas fenestrações, o aspecto de matéria escavada e a sua poesia visual. Territorialmente as suas implantações estratégicas criam uma nova geografia, uma linha defensiva e por fim uns espaços intersticiais entre os monólitos habitáveis.

Os bunkers têm como característica essencial ser «uma das raras arquitecturas monolíticas modernas» (Virilio, Paul. 1994, Bunker Archeology, p. 37) e neste caso as esculturas de Absalon reacendem em si essa essência. Em ambos os casos, os espaços foram uniformizados, para as suas funções, a solidão tornou-se real e por fim as suas formas, os monólitos, são em última instância a memória do seu propósito de salvação pessoal.