Mudança depende do impacto resultante de constatações realizadas ao longo da vida ou dos processos psicoterápicos. A constatação decorre sempre de questionamentos. É uma atitude possibilitada pela descoberta de que ocorre o que não se esperava ou imaginava ocorrer. Vida acomodada, psicoterapia de apoio e relacionamentos compreensivos, jamais questionam, jamais criam impactos, jamais provocam constatações, pois o caminho de constatar já é ocupado, trilhado pelo do reconhecimento das próprias fraquezas e qualidades, transformando-se em justificativa para validar os acontecimentos. E assim não há constatação, o que existe é reconhecimento do “caber na forma”, estar adequado/inadequado aos processos que ajudam e apoiam ou massacram e desestabilizam.

A constatação é sempre um impacto, enquanto as verificações geradas pelas avaliações de adequação/inadequação se constituem em reconhecimentos de existentes prévios. Por isso na constatação não existe familiaridade, é sempre o novo que se impõe, daí o questionamento que traz mudança - as certezas foram derrubadas. Lidar com estas novas configurações é abrir mão de posições anteriormente definidas que já não significam. Quando isto ocorre surge honestidade, surge coerência e reconhecimento das próprias motivações às vezes não detectadas, ou armazenadas no depósito geral da incoerência.

Sair desta linearidade - certezas e certezas - alça o ser humano a situações mais amplas, sejam as de disponibilidade, sejam as de contingências reveladoras. A amplidão das demandas ultrapassa os posicionamentos de certo/errado atribuídos por outros contextos e estruturas relacionais. As motivações individuais podem ser diversas da sociedade, tanto quanto as sociais podem diferir das regras familiares. Sem as amarras do compromisso, o indivíduo se defronta consigo mesmo e estabelece questionamentos que mudam dependências e ampliam seus horizontes. A mudança sempre quebra amarras pois ela sempre implica em movimento, em ampliação de panoramas vivênciais e relacionais. Sair de posicionamentos, movimentar-se é descobrir, constatar possibilidades, medos, encontros, desencontros; é também estar com o outro integrado ou desintegrado pelas novas constatações.

A mudança amplia ao quebrar posicionamentos, tanto quanto limita ao gerar implicações acerca de constatações inumeráveis que precisam ser vivenciadas - são os impasses. Quando a mudança gera impasse é fundamental não se apegar a resultados compensatórios. O sucesso poderá apenas trazer mais dúvidas, medo e manutenção, fazendo, assim, se jogar fora constatações desalienantes. É exatamente aí que se pode perceber como mudar e manter estão próximos, como as pontas do processo se encontram. O cotidiano psicoterápico sempre nos revela isto. É importante não perder de vista que as similaridades criam diferenciações responsáveis por questionamentos, por constatações, por movimentos gerados por teses e antíteses estabelecidas.