No monitor, palavras. No palco, gritos. No corpo, tinta.
É na cidade de Porto Alegre, onde as raízes do underground musical se encontram com as narrativas sombrias, que eu resido. Meu nome é Kako Pereira, sou filho de pais falecidos há bastante tempo e produto da safra de 1977. Moro na capital gaúcha desde que nasci. Gosto de pensar que transito entre a força das palavras e o peso do som, já que escrevo também as letras da Esquife.
Já perdi a conta de quantas tatuagens tenho no corpo e cada uma delas marca uma época da minha vida, embora nem todas tenham uma história mirabolante por trás de seus significados. Todas são herança de uma época em que ser uma pessoa tatuada era sinônimo de revolta, de anarquia e de oposição ao sistema engessado e aos seres humanos padronizados, cinzas e sem alma. Junto a isso, tínhamos também a sonoridade do metal e do punk, que foram influências tanto musicais quanto escritas, junto com os filmes, os livros e os quadrinhos ditos "marginais".
Posso dizer que tudo isso fez de mim o que eu sou atualmente. Um sujeito que fala tudo na cara e, muitas vezes, precisa medir o que diz para não magoar nem ofender os mais sensíveis. Acho que posso me definir como Punk na fala, nas atitudes e na escrita. E sigo aprendendo a me moldar socialmente ao mesmo tempo que aprendo com os meus erros e também com os erros dos outros.
Por formação, sou publicitário, mas nem posso dizer que me formei, pois não tenho diploma e nunca precisei de um para exercer a criatividade através dos meus textos. E convenhamos, todos nós sabemos que a criatividade não é algo que costuma fluir com o aprendizado. É genético. Nascemos com ela. O ato de construir mensagens e narrativas envolventes para marcas e empresas conhecidas e desconhecidas é só uma questão de direcionamento criativo.
Quando o assunto são os contos que escrevo, costumo usar a inspiração das minhas vivências, das histórias das pessoas que conheço, dos filmes que vi, das séries que assisti, das músicas que ouvi e dos erros que cometi ao longo da minha insignificante existência. Tem humor, tem ironia e tem bastante podreira também. Mas, ao fundo, gosto de acreditar que é possível encontrar algum sentimento, nem que seja uma pitada dele.
Para a Esquife, eu escrevo sobre as mais conhecidas e também desconhecidas lendas de assombração brasileiras. Do Gritador à Noiva de Branco, passando pelo Corpo Seco e a Bruxa da Lagoa dos Patos. De todas as partes do nosso país, as lendas brotam e viram estrofes das músicas que têm origem punk, mas mesclam outros elementos do metal, seja nos riffs ou no andamento.
É no palco que eu solto a voz de forma primitiva e com a potência que eu acho que tenho, já que nem minha mãe teve a oportunidade de ir em um dos meus shows para me elogiar. A Esquife, minha banda, faz Horror Punk, que é um estilo pouco conhecido, mas basicamente mescla a potência musical do Punk Rock, do Hardcore e do Metal e tem como temática as letras sobre horror, seja de lendas, de filmes e até de acontecimentos cotidianos, vistos inclusive em jornais sensacionalistas.
Além disso tudo, também preencho minha rotina levantando pesos, hábito que tenho desde 1994, influenciado pelos filmes do Conan e da série do Hulk para a TV, com o Lou Ferrigno e o Bill Bixby nos papéis principais. Também gosto de assistir podcasts e vídeos no Youtube, ver filmes e séries, comer muito e ingerir quantidades moderadas de álcool de forma esporádica, já que a necessidade de me embebedar loucamente foi embora há muitos anos.