Teia à toa apresenta um recorte da produção de Barrão dos últimos 20 anos, reunindo obras em cerâmicas multicoloridas, esculturas monocromáticas em resina e bronze, aquarelas e instalações. É a primeira vez que esse conjunto de obras é mostrado em Curitiba, revelando a complexidade e as sutilezas de sua prática artística.

Ao longo de mais de quatro décadas, Barrão desenvolveu uma linguagem marcada pela intuição e pela transformação na combinação de elementos do cotidiano – objetos reconhecíveis, extraídos do nosso universo doméstico e urbano. Em seu ateliê, prateleiras abrigam peças de origens diversas – acumuladas e organizadas por critérios tão intuitivos quanto enigmáticos. Desses fragmentos surgem esculturas híbridas que desafiam funções e estilos, sempre atravessadas por humor e ironia.

O título da exposição é também um convite: a caminhada por uma floresta de formas e cores onde tudo está conectado por fios invisíveis. Como aranhas que tecem suas tramas no ar, Barrão trabalha combinando objetos e pedaços de objetos preexistentes – cerâmicas quebradas e coladas, objetos moldados e fundidos em outros materiais, pedaços de objetos organizados em composições improváveis. Resina, bronze, louça: cada elemento carrega a memória do que foi e agora se apresenta como parte de algo maior.

Essas conexões não seguem uma lógica utilitária ou racional. Como as teias que variam de acordo com a espécie e o ambiente – circulares, irregulares, densas ou esparsas –, as obras se organizam segundo um sistema próprio. As esculturas, instalações e aquarelas não se apresentam como peças isoladas, mas se articulam no espaço em uma rede de relações formais, cromáticas e simbólicas, ativando o percurso do visitante como uma deriva sensorial.

Há também uma dimensão lúdica e imprevisível que atravessa toda a exposição. “À toa”, aqui, não é falta de direção, mas liberdade criativa. Cada obra parece surgir de um jogo – entre materiais, entre sentidos, entre títulos e formas. Os nomes das peças, sempre precisos e irônicos, funcionam como poemas: ora revelam, ora embaralham as possíveis interpretações.

Em Teia à toa, Barrão propõe uma experiência de encantamento e estranhamento, em que sentido se constrói no acaso, na surpresa, no olhar de quem vê.

(Texto por Luiza Mello. Curadora)