Recentemente, li um provérbio africano, que me deu um gás na minha jornada: “Se não puder mudar o mundo, conte sobre isso”. Provérbio eritrês.

Para você, pessoa leitora, entender melhor, vou contextualizar: Eu sou uma mulher negra de pele clara (parda, conforme classificação do IBGE) e 40+. Esses marcadores definem os meus acessos na sociedade, principalmente no mercado de trabalho.

Em 2021, eu passei por um episódio de racismo no ambiente de trabalho, por conta das tranças. Desde, 2020, eu desenhei a minha transição de jornada, para a área de Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento e fui compreendendo, que o “meu caso”, não era um caso isolado, principalmente no mercado de trabalho.

Também sou mentora de jornada, em especial de mulheres negras. Ainda me deparo com situações de total exclusão dessas mulheres, quando falamos em oportunidades. Segundo o Relatório de Perfil Social, Racial e Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas (2023-2024) do Instituto Ethos, temos o seguinte cenário:

  • 60% das lideranças dessas organizações, são homens brancos;

  • 26,5% das pessoas estagiárias, são mulheres negras (englobe-se mulheres pardas e pretas);

  • 53,7% das pessoas treinees, são mulheres negras (englobe-se mulheres pardas e pretas);

  • 9,2% de mulheres negras ocupam os cargos de gerência;

  • 3,4% de mulheres negras, ocupam os cargos Executivos;

  • 1,8% de mulheres negras ocupam o Conselho de Administração.

Diante desse e de tantos outros fatos, eu diariamente me questiono, o que de fato pode ser feito para mudar essa realidade. Temos uma pesquisa realizada pelo Instituto Identidades do Brasil, que somente em 2.192 vamos alcançar a equidade racial no mercado de trabalho. Sei que às vezes, não podemos fazer algo grandioso pelo mundo inteiro, mas podemos fazer a nossa parte. Podemos buscar alternativas ou soluções menores, pensando como podemos impactar o território onde estamos, influenciar nossas conexões virtuais, dar um abraço em uma “irmã”.

Mesmo que não possamos acabar com o racismo hoje, há várias ações que você, enquanto pessoa pode fazer no momento: ouvir e aprender com as histórias e experiências de pessoas que enfrentam o racismo, compartilhar informações e conscientizar seus amigos e familiares, apoiar causas e organizações que lutam contra o racismo, e praticar o respeito e a empatia no seu dia a dia. Cada pequena ação conta e ajuda a construir um mundo mais justo e igualitário.

É importante lembrar que a construção do racismo no Brasil tem raízes profundas na história do país, especialmente durante o período colonial. A escravidão de pessoas africanas trazidas para cá foi uma das bases do racismo, pois criou uma estrutura de desigualdade e desumanização que perdura até hoje.

Após a abolição, em 1888, muitas dessas desigualdades continuaram, e o racismo foi reforçado por práticas sociais, econômicas e culturais que marginalizaram e discriminam pessoas negras e indígenas. Além disso, o racismo foi alimentado por estereótipos, preconceitos e pela falta de políticas de inclusão ao longo do tempo. Essa história complexa contribui para a persistência do racismo na sociedade brasileira, mas também há movimentos e ações que lutam por justiça e igualdade.

Nesse sentido, é preciso compreender sobre racismo estrutural e institucional, que são conceitos importantes para entender como o racismo funciona na sociedade.

Racismo estrutural é aquele que está enraizado nas estruturas e instituições da sociedade, ou seja, faz parte do funcionamento normal do sistema. Ele não precisa ser necessariamente intencional ou explícito, mas se manifesta nas desigualdades que existem em áreas como educação, saúde, moradia, emprego e justiça. É como se o sistema, de forma geral, estivesse organizado de modo a favorecer certos grupos e desfavorecer outros, muitas vezes de forma invisível.

Racismo institucional é uma forma de racismo que ocorre dentro de instituições específicas, como escolas, empresas, órgãos públicos ou o sistema de justiça. Ele acontece quando as políticas, práticas ou procedimentos dessas instituições discriminam ou prejudicam determinados grupos raciais, muitas vezes sem que os responsáveis percebam. Por exemplo, uma política de seleção que favorece um grupo e desfavorece outro, ou um tratamento desigual por parte de funcionários públicos.

O racismo estrutural é o que está na base do funcionamento da sociedade como um todo, enquanto o racismo institucional é a manifestação desse racismo dentro de instituições específicas. Ambos são desafios importantes para serem enfrentados na luta por igualdade racial.

Não há uma estimativa concreta para o fim do racismo no Brasil, pois ele é um fenômeno profundamente enraizado na história, cultura e estrutura social do país. O combate ao racismo é um processo contínuo que envolve mudanças de atitudes, políticas públicas, educação e conscientização ao longo do tempo. Embora haja avanços e esforços constantes para promover a igualdade racial, ainda há muito a ser feito para reduzir significativamente o racismo na sociedade brasileira.

As políticas de minimização do racismo são ações e estratégias que visam reduzir a desigualdade e combater o preconceito na sociedade. No Brasil, essas políticas incluem a implementação de leis que promovem a igualdade racial, como a Lei nº 12.288/2010, que cria o Estatuto da Igualdade Racial, e ações afirmativas, como cotas em universidades e concursos públicos para pessoas negras e indígenas.

Além disso, há programas de educação que promovem a valorização da diversidade e o combate ao racismo desde a escola, campanhas de conscientização, e ações de inclusão no mercado de trabalho. Essas políticas buscam criar um ambiente mais justo, onde todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades, e ajudar a desconstruir os estereótipos e preconceitos enraizados na sociedade.