No Octógono da Pina Luz, a artista Mônica Ventura explora materialidades e símbolos associados às cosmologias afro-ameríndias em um site-specific produzido em diálogo com a escala monumental do espaço central do edifício. Ao entrelaçar as camadas de tempo que habitam o Octógono, a artista propõe ao visitante um lugar em que as conexões humanas possam confluir, receber e irradiar energia, a partir da relação entre corpo e arquitetura.

Ventura articula o repertório mítico e ancestral presente em uma arquitetura vernacular para confrontar algumas características do prédio: a verticalidade, a circularidade e os tijolos mantidos aparentes desde a inauguração como Liceu de Artes e Ofícios em 1905 e assim perpetuados, mesmo depois de a Pinacoteca ter se tornado museu e passar por sucessivas alterações até culminar na grande reforma do início dos anos 2000.

No espaço expositivo, um conjunto de cabaças pendem sobre uma estrutura em formato circular. Cada cabaça, ainda que represente uma unidade de sentido, conflui em coletivo pendente do céu para seguir, pelo reflexo de um espalho d’água, em um avesso do chão de terra onde o público é convidado a pisar. A cobertura, em formato circular, instaura uma horizontalidade outra ao espaço, criando uma atmosfera de intimidade, proteção e abrigo, evocando ainda a construção de um campo magnético. A experimentação entre o espaço criado e o público é potencializada através do cobre, material com alta capacidade de condução de energia, que reveste as estruturas que sustentam o céu criado pela artista.