O projeto Windows of New York, de José Guízar

Na correria frenética do dia a dia, é comum passarmos por ruas, prédios e paisagens urbanas sem realmente notar a riqueza dos detalhes que nos cercam. Entre a pressa do trabalho, os compromissos e a rotina exaustiva, deixamos escapar pequenas joias visuais que contam histórias e dão personalidade ao cenário urbano. Mas e se desacelerarmos por um instante para observar o que nos rodeia? Foi essa inquietação que levou o designer mexicano José Guízar a criar o Windows of New York, um tributo visual à diversidade arquitetônica das janelas da cidade que nunca dorme.

José Guízar é um designer gráfico e diretor de arte que nasceu no México, mas escolheu Nova Iorque como lar. Movido por uma curiosidade insaciável e pelo desejo constante de aprender, ele encontrou inspiração no que muitos de nós ignoramos diariamente: as janelas da cidade. O projeto nasceu em 2013 como um exercício pessoal de observação e criatividade, transformando janelas aparentemente comuns em ilustrações vibrantes, detalhadas e cheias de significado.

Na página oficial, Guízar descreve seu trabalho como "uma coleção de janelas que, de alguma forma, capturaram meu olhar inquieto em meio ao burburinho incessante das ruas". O que começou como uma pequena obsessão pessoal rapidamente se tornou um projeto artístico contínuo, chamando a atenção de designers, arquitetos, ilustradores e amantes da arte ao redor do mundo. Afinal, em meio a uma cidade onde tudo parece correr em ritmo acelerado, parar para observar uma janela é quase um ato de rebeldia poética.

O conceito por trás da obra é simples, mas poderoso. Durante o período mais ativo do projeto, a cada semana, José Guízar escolhia uma janela que lhe chamava a atenção e a transformava em uma ilustração digital, registrando seus detalhes com precisão meticulosa. Sua manifestação artística se tornou assim um verdadeiro estudo da arquitetura urbana de Nova Iorque, destacando a beleza muitas vezes ignorada dos prédios que compõem a paisagem da metrópole.

Entre as áreas retratadas por Guízar estão bairros icônicos como Lower East Side, Midtown, Greenwich Village, SoHo e partes do Brooklyn — lugares que, mesmo sendo conhecidos mundialmente, guardam elementos únicos em cada esquina. Suas ilustrações capturam a singularidade de cada janela, destacando adornos, cores, instalações de ar-condicionado, cortinas, flores, grades, toldos e outros pequenos elementos que revelam, ainda que discretamente, um pouco da história e da personalidade de quem vive por trás delas.

Cada ilustração em sua página vem acompanhada pelo endereço correspondente, permitindo que os espectadores possam se situar geograficamente em relação à arte e, quem sabe, até mesmo visitar os locais para conferir as janelas ao vivo. Ao fazer isso, Guízar transforma a cidade em uma espécie de galeria a céu aberto, onde o visitante pode traçar uma rota afetiva pela arquitetura e pela vida cotidiana nova-iorquina. Mais do que observar fachadas, trata-se de mergulhar em um universo de possibilidades visuais e narrativas silenciosas.

O trabalho de Guízar nos lembra que a arquitetura é mais do que um conjunto de edificações funcionais: é uma manifestação da identidade cultural e histórica de uma cidade, um espelho dos hábitos, estilos e mudanças de uma sociedade. Cada janela é um fragmento dessa história, carregando em si a memória do tempo e a expressão dos moradores que ali vivem, viveram ou viverão.

Desde seu lançamento, Windows of New York foi amplamente elogiado por sua sensibilidade artística e pelo convite à contemplação. Em um mundo onde a velocidade, a produtividade e a distração dominam nosso cotidiano, o projeto se tornou um lembrete valioso de que é possível — e necessário — parar, respirar e enxergar o belo nos detalhes mais simples. Seu impacto vai além da estética: ele nos reconecta com o espaço urbano de maneira mais afetiva e consciente.

Além do impacto visual, o trabalho de Guízar também desperta reflexões mais profundas sobre nossa relação com o ambiente urbano. Em meio ao concreto, ao barulho e à pressa, quantas histórias deixamos de perceber? Quantas vezes ignoramos os pequenos encantos que fazem uma cidade ser única e que, ao mesmo tempo, constroem parte da nossa própria experiência de pertencimento ao lugar?

Não se trata apenas de valorizar o que é bonito aos olhos, mas de cultivar uma presença mais atenta. Ao dedicar tempo a observar as janelas de Nova Iorque, Guízar nos convida, de maneira sutil, a desenvolver uma nova forma de olhar para o nosso entorno. É como se dissesse: “Olhe de novo. Há mais aqui do que você imagina.” E de fato, há. Em cada vidro colorido, veneziana descascada ou moldura de ferro, existe um pedaço da cidade esperando para ser descoberto.

O projeto também representou um ponto de virada na carreira do artista. Atualmente, José Guízar trabalha como designer e Diretor de Arte no Google Creative Lab, onde segue explorando sua paixão pelo design, pela criatividade e pela experimentação visual. No entanto, o Windows of New York permanece vivo, como uma obra em constante expansão, inspirando olhares atentos e novos criadores ao redor do mundo.

Mais do que um exercício estético, Windows of New York nos convida a desenvolver uma nova forma de presença — mais atenta, mais sensível, mais conectada ao que nos cerca. Quando aprendemos a olhar com mais cuidado, passamos a reconhecer que cada janela pode ser uma narrativa visual, uma expressão silenciosa de quem habita aquele espaço. Nesse sentido, o projeto de Guízar também se torna um lembrete de que há beleza mesmo nas rotinas mais cinzentas, bastando um pouco de atenção para que ela se revele.

Talvez o maior presente que essa obra nos oferece seja o de resgatar a capacidade de nos maravilharmos com o cotidiano. Quando nos permitimos ver o mundo como um colecionador de janelas, como fez Guízar, percebemos que a cidade pulsa em detalhes. E são esses detalhes — às vezes escondidos, às vezes escancarados — que nos reconectam ao encanto do viver urbano. A contemplação, nesse contexto, se torna uma forma de resistência ao automatismo e à superficialidade que tanto nos desconectam da experiência real de estar no mundo.

Inspirado pelo projeto de Guízar, proponho um desafio: da próxima vez que caminhar por sua cidade, tente notar detalhes que normalmente passariam despercebidos. Pode ser uma fachada antiga, um portão trabalhado, uma janela colorida, um azulejo antigo ou um grafite escondido. Quem sabe, você não descobre uma nova maneira de enxergar o lugar onde vive? Deixe-se inspirar pelo olhar atento deste artista e descubra a beleza oculta na cidade ao seu redor.