Uma colega do escritório de Lima me solicita que leve uma garrafa de guaraná Antarctica, um desejo comum a quase todos os meus amigos e conhecidos estrangeiros. Como normalmente viajo com mala de mão e não é possível passar pela inspeção das malas com recipientes contendo mais de 100 ml, resolvo comprá-lo quando já estivesse na sala de embarque.

Busco pelo guaraná na lanchonete em que resolvo fazer uma merenda antes do embarque. Não encontro! Busco em outra lanchonete, loja e nada. Somente encontro o seu similar, produzido pela grande marca de refrigerante global (aquele de rótulo vermelho e branco e líquido preto). Após indagar a uma vendedora, sou informado que devo encontrar apenas numa loja que fica mais no final da sala de embarque. Putz! Justo hoje resolvi viajar com um tênis novo que incomoda meus calcanhares!

Caminho e caminho por aqueles longos salões do Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos. Paro, endireito a meia na tentativa de reduzir o incômodo em meus calcanhares, volto a andar. Por todas as partes me deparo com aquele de rótulo vermelho e branco. Mas, e o guaraná Antarctica?

Por fim, o encontro numa versão em latinha.

Não sei a razão, mas começo a refletir sobre se seria possível ou não entrar com uma latinha no avião (É seguro? Explode?). Hoje em dia existem tantas restrições! Me perco nas reflexões; o embarque se aproxima; preciso encontrar o meu portão... Desisto! Ficarei em dívida com a minha colega.

Para variar o meu portão de embarque é no piso inferior, ou seja, embarque remoto feito através de ônibus até a aeronave. Fico sempre com a sensação de que o Aeroporto de Guarulhos coloca alguns voos da América Latina com acesso remoto! Inicio outras reflexões... É mais barato para a companhia aérea? É discriminação regional? Faltam pontes de embarque? Este terminal já está saturado? Não concluo!

Desisto dessas reflexões e começo a me concentrar no meu destino. Memórias são reacendidas, histórias divertidas, algumas que até então não havia contado aos meus amigos peruanos... Lembro do quanto me gusta estar en Lima, da sua história pré-colombiana e principalmente da sua rica culinária.

No dia seguinte, num almoço, começo a relatar como foi a minha primeira experiência com a culinária peruana há mais de vinte anos. Comento que saí para jantar com alguns amigos e disse que gostaria de experimentar a comida peruana. Então, solicitaram um Pisco Sour de drink e Ceviche para compartilhar de entrada. Me apaixonei! Aquela mistura de peixe cru marinado com limão, milho, temperos e especiarias me pareceu fascinante!

Enquanto nos deliciávamos com o drink e a entrada, escolhemos o prato principal. Alguém me indicou que o Tacu Tacu seria outra comida típica. Influenciado pela boa experiência do Ceviche, concordo com a sugestão sem analisar muito os seus ingredientes.

O Tacu Tacu chega. Me assusto com o tamanho do prato! Era gigantesco! A comida? Uma base feita de uma massa de feijão moído, numa correlação com o que temos no Brasil... é como se fosse um pirão consistente feito de feijão moído com temperos. Sobre esta base se escolhe alguma proteína. Creio que na época solicitei com cubos de frango.

Confesso que após o Ceviche e o Pisco Sour já não tinha tanto apetite para encarar um prato desta natureza à noite. Com muito esforço, por educação e alguns risos amarelos, segui a missão de comer até a metade daquele prato. Obviamente dispensei a sobremesa!

Tempos depois retorno em uma nova visita a Lima. Saio para jantar com outro amigo. Comento que tinha comido um prato típico maravilhoso quando visitei Lima por primeira vez, mas que não lembrava o seu nome. Então ele responde que deveria ter sido o Tacu Tacu. Consinto feliz!

O prato chega e me desespero! Mais uma vez, por educação e novos risos amarelos, o como até a metade. No dia seguinte pesquiso qual teria sido o prato que comi e gravo para nunca mais esquecer: Ceviche!

Voltando ao almoço atual, minhas amigas peruanas comentam que o Tacu Tacu não seria uma melhor escolha para jantar e que nem mesmo seria uma unanimidade entre eles. Fico imaginando se teriam me aplicado um trote de iniciantes... Hum! Uma delas me convida a experimentar comê-lo no almoço numa próxima oportunidade, pois como a nós brasileiros nos gustan los frijoles, então o paladar do Tacu tacu não deveria me provocar tanta estranheza.

Comento, neste mesmo almoço, que desde meus primeiros contatos com o Peru, fui aprendendo e gostando de outros sabores. Que adoro tomar Chupe de Langostinos à noite num determinado hotel. Elas comentam que também não seria a melhor opção para o jantar, pois assim como o Tacu tacu seria muito forte para noite. Mas reafirmo que adoro o seu paladar!

Por fim, relato a minha mini lista gastronômica que preciso consumir quando estou em Lima: Ceviche, Chupe de Langostinos, Causa, Tiraditos, Pisco Sour, Chicha Morada e Inca Kola. Este último tratasse de um refrigerante típico peruano com uma cor amarelada, com um gosto que lembra tuttifruti e deve ser consumido bem gelado, do contrário tem um gosto de remédio. Bom, não é uma unanimidade! É uma bebida que você ama ou odeia.

Um dos meus filhos adora Inca Kola. Quando criança sempre que eu viajava para o Peru, ele me pedia brincando “traga pipi cola”, em alusão a cor da bebida. Aí volto ao início...

Jamais tive dificuldade de comprar Inca Kola na sala de embarque do Aeroporto de Lima! A encontramos por todas as partes! Bem diferente da minha experiência em buscar o guaraná Antarctica no Aeroporto de Guarulhos. Atualmente, a empresa proprietária do refrigerante de rótulo vermelho e branco é sócia da Inca Kola. Seria esta a razão? Chegando para férias em Salvador também rapidamente me dou conta que vejo o refrigerante de rótulo vermelho e branco por todas as partes na sala de embarque do aeroporto

O guaraná Antarctica pertence a uma mega multinacional. O que falta para que ele tenha uma presença marcante em outros países? Ao menos na América Latina!?

Alô dona do Antarctica! Precisamos ver o Guaraná virando pauta consistente de produção e distribuição mundial! Os brasileiros e, creio que principalmente, os estrangeiros agradecem! Imagina o apelo de um produto atrelado ao Brasil, a Amazônia!

Mas... agora... férias... esqueço tudo e vou tomar mesmo é uma água de coco!