Passada a vindima (época de colheita das uvas para a produção de vinho), e com a aproximação do inverno no hemisfério sul, nada melhor do que desfrutar dessa estação com um bom vinho. Seja degustando apenas uma taça no final do dia ou junto de uma bela refeição, o momento de beber um saboroso vinho nunca deve ser rejeitado.

Hoje em dia, principalmente com a vida pós-pandemia, a preocupação com a saúde e a crise ambiental, uma busca por comidas e bebidas mais próximas do consumidor ganhou cada vez mais força. Com isso, a tendência de vinhos biodinâmicos, orgânicos e naturais encontrou uma brecha e vem ocupando seu espaço na indústria. O que antes era algo que passava despercebido nas prateleiras para os consumidores de vinho, hoje é um artigo que recebe uma procura específica, apesar de seu preço ainda ser um pouco elevado.

Mas como identificar esses vinhos, diferenciar eles e seus benefícios? Para isso, eu vou lhe mostrar uma breve diferença entre eles e como consumir essas bebidas pode gerar um impacto promissor para o futuro.

Antes de existir o uso de agrotóxicos, o que inclui pesticidas, fungicidas e fertilizantes, toda a agricultura era considerada orgânica. Para preservar a cultura das plantações os agricultores encontravam formas de manter seus cultivos de maneira totalmente natural, dessa forma buscavam o equilíbrio entre todas as espécies que habitavam as plantações.

O surgimento de agrotóxicos, subprodutos advindos da guerra, veio com a necessidade de acabar com pragas em lavouras onde era preciso produzir mais para acabar com a fome da população em um curto período. Embora o uso de agrotóxicos tenha se difundido em larga escala desde então, ainda existem agricultores que optam pela plantação de produtos de forma natural. Segundo eles, os produtos naturais expressam melhor a localidade que foi produzido e preservam suas características originais.

Então todos os vinhos que não fazem o uso de agrotóxicos são considerados orgânicos? Não. Para isso, a diferença na forma como são cultivados influencia em sua denominação e são elas: Orgânicos, Biodinâmicos e naturais.

Vinhos orgânicos

Esses são vinhos certificados sem o uso de nenhum agrotóxicos ou qualquer outro tipo de defensivo. Vale frisar que nessa forma de cultivo os defensivos não são utilizados de forma química, como são conhecidos, mas de maneira orgânica. Os adubos orgânicos, como compostos feitos de esterco de cavalo e vegetais, além de preparados de plantas e minerais, são um exemplo de fertilizante que pode ser utilizado, caso o produtor veja necessidade para tal. Já em algumas regiões o produtor pode adicionar alguns aditivos como o dióxido de enxofre ou sulfato de cobre. Nas plantações também é estritamente proibido a utilização de organismos geneticamente modificados (transgênicos).

No Brasil o processo de produção segue regras rígidas para obter uma certificação de um vinho orgânico. Para isso é necessário seguir diretrizes para o padrão de qualidade estabelecidas por órgãos reguladores como IBD (instituto biodinâmico), que atua hoje com certificador de produtos orgânicos no país. Porém, nem todos os vinhos orgânicos são necessariamente certificados, isso é uma escolha do produtor.

A produção orgânica é focada exclusivamente no método de plantio e cultivo, utilizando de uma cadeia de produção totalmente sustentável. Esse sistema preza pela saúde e qualidade do ambiente, fertilidade do solo e equilíbrio do lugar. Para isso é importante manter o equilíbrio entre a biodiversidade existente no vinhedo.

As uvas orgânicas têm mais compostos benéficos para a saúde, como antioxidantes, do que as uvas “normais”. Esses vinhos costumam apresentar coloração mais escura e densa, devido à conservação das suas características naturais ao longo do processo de produção e também apresentam aromas mais intensos e autênticos.

Vinhos biodinâmicos

Esses vinhos seguem a filosofia antroposófica criada em 1924 pelo cientista austríaco Rudolf Steiner. Os vinhos biodinâmicos envolvem uma prática autossustentável, com a mínima interferência possível do homem, a terra, a videira, animais, insetos e o cosmos. Essa prática segue um calendário astronômico, esse sistema se inicia com o cultivo orgânico das videiras e adição de adubos. Para cada parte da planta um tipo de adubo é utilizado. Existem adubos que agem durante a etapa de plantio (na raiz das videiras), nas folhas, na floração e no período de frutificação.

O livro The Spiritual Foundations of Biodynamic Methods traz todas essas regras estabelecidas. Nele se afirma que todos os processos são regidos pelas posições dos planetas e pelas fases da lua. Por ele se sabe que a propriedade trabalhada é um “organismo agrícola”. Sendo assim, se compreende que todo cultivo biodinâmico é orgânico, mas nem todo orgânico é biodinâmico.

Com base nas técnicas utilizadas nesse sistema se diminui a exaustão do solo, reduzindo a matéria orgânica da terra, como desmatamento, queimadas, uso excessivo de máquinas no campo, uso irregular de irrigação do campo, entre outras. Esse manejo também utiliza a rotação de culturas, prática essa que consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais em uma mesma área agrícola para uma melhor recuperação do solo. Algumas fontes acreditam também que até o cultivo de plantas como o girassol são benéficos para o sistema. Essa planta atrai muitos insetos como as abelhas, que são ótimos animais para trazer uma melhor qualidade aos frutos, sabor e aroma.

Os vinhos biodinâmicos já se estabeleceram em diversos lugares do mundo como Brasil, Suíça, Itália, Espanha, Áustria, Alemanha, Austrália, Chile, Peru, África do Sul, Canadá e Estados Unidos.

Vinhos naturais

Os vinhos naturais são os mais complexos de classificar dentre as três denominações desses tipos de cultivo. Não existe uma regulamentação oficial para o uso do nome “vinho natural”, isso só é algo que os produtores entram em um certo consenso sobre as práticas permitidas para obter a bebida nesse estilo.

Esses vinhos são bebidas que durante a sua vinificação nada foi adicionado para alterar ou melhorar o sabor da uva, tais como corrigir acidez e taninos presentes. Para a maioria dos produtores, o vinho natural é basicamente o mosto da uva de vinhas orgânicas que fazem sua fermentação de forma espontânea. Muitos deles inclusive se opõem até o uso do envelhecimento em barril de carvalho.

A proposta do vinho natural, além de promover a saúde e o cuidado com o produto final, é manter a originalidade do produto, preservando suas características naturais e resultando em líquidos puros, o que torna a bebida bastante sensível e instável. Sendo assim, o produtor deve redobrar a higiene na vinícola, pois é um ótimo local para a proliferação de fungos e bactérias.

Independente de todos os esforços dos produtores para cultivar e produzir diferentes vinhos, não existe uma maneira concreta de afirmar se esses vinhos são mais saborosos que os produzidos de forma convencional, pois isso é critério decidido pelo consumidor. A única coisa que se sabe é que essa forma de cultivo opta pelo respeito à natureza e com a utilização de frutas livres de aditivos somam inúmeros benefícios para a saúde.

De qualquer forma, se você busca novas experiências em questões de sabores e aromas, essa é uma ótima pedida para degustar. Sendo assim, beba com consciência para que esse seja sempre um ótimo momento de lazer.