Lembram da Anne, aquela mulher de 22 anos que tinha orgulho de ter apenas 3 calcinhas beges? Da noite em que sua amiga, Renata, a libertou para sempre do grilhão desse 'inocente' símbolo da vontade feminina. Assim nos fizeram acreditar.

Na verdade, inclusive para Anne, era um freio, um limite que ela usava para regular seus desejos sexuais. Para se enquadrar, cuidadosamente, no estigma de moça de família, aquela para casar. Ainda que seu discurso fosse de ser uma mulher independente, dona de si e dos seus próprios desejos.

Aquela noite foi uma libertação tão intensa que ela nunca mais foi a mesma. Renata jogou no lixo não apenas uma calcinha horrível qualquer, mas toda uma construção de identidade de Anne.

Claro que a noite com Felipe foi maravilhosa. A manhã seguinte, é que foi muito desafiadora. De forma alguma, ela esperava acordar tão diferente, tão desconexa. Uma sensação estranha de não pertencimento. Perdida, ela não sabia o que estava sentindo. Não entendia o que tinha sido tão diferente.

Como uma calcinha podia mudar tanto assim sua vida? Olhando para o teto, ela seguia inerte em seus pensamentos, sem nem se dar conta de que Felipe estava bem ali ao seu lado. Não sei se ela compreendia os pensamentos sombrios que corriam pela sua mente. Agora, não vou mais casar? Não serei mais aceita como uma digna moça de família?

Uma coisa ela sabia, e isso era o mais estranho, nada tinha a ver com Felipe. Moça de família não 'se entregava' a qualquer um, mas ela já não se sentia mais refém de tal premissa. Como ela podia estar se sentindo assim? Livre? O que iam pensar dela? Com certeza era um pensamento que insistia em questionar o que o racional dela gritava como liberdade. Simples assim! Agora eu sou uma mulher livre.

Já em casa, depois que a euforia passou e as coisas se assentaram, ela começou a refletir sobre o que havia acontecido. A primeira pergunta: como eu nunca pensei nisso antes? Era tão simples, jogar a calcinha no lixo. Quase tão simples como não usá-la. Ela se sentia em turbilhão, ou em uma espécie de montanha russa, que no frenético sobe e desce dos pensamentos, causava frio na barriga e coluna.

De repente, a sensação de liberdade que invadiu todo o seu ser foi indescritível. Como num passe de mágica, no melhor estilo abracadabra, ela descobriu que podia transar no primeiro encontro, quantas vezes ela assim desejasse.

O primeiro efeito colateral dessa revolução, você já conseguiu entender. Sim, isso aconteceu. Por um bom tempo, ela ligou o volume do desejo no máximo. Parou de ter critérios. Era o retrato fiel do ditado: 'quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza'.

Sabemos que mudar, especialmente tão radicalmente, tão intimamente, não é tarefa fácil para ninguém. Mudanças de paradigmas tão enraizados em toda uma geração, normalmente necessitam de atitudes radicais assim. É preciso ir do 8 para o 80 e só então conseguir, aos poucos, encontrar o equilíbrio.

Quantas Annes você conhece? Quantas pessoas necessitam que os seus próprios limites sejam determinados por terceiros? Por que é tão difícil regular o seu botão de intensidade?

Por que existe uma busca tão frenética no que está fora de nós? Onde fica a autorresponsabilidade? Porque é tão mais fácil, e porque não dizer, confortável buscar fora de nós?

Assumir o controle real da sua vida, em todos os aspectos, pode parecer assustador. Pois pressupõe assumir as culpas, os erros e tudo o mais que vem no pacote. Mas também é assumir o poder real. Um poder que é só seu e pode te levar a viver o seu extraordinário, em todos os aspectos da sua vida.