Em São Paulo, quem passa pela avenida Paulista reconhece de longe aquele grande edifício com um vão livre imenso embaixo de um volume que parece pendurado em um grande pórtico vermelho, esse é o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido como MASP. Mas o que muitos não sabem é sobre a autora dessa obra tão icônica da arquitetura. Claro que no meio da arquitetura e artes o nome Lina Bo Bardi é conhecido e respeitado por sua contribuição na arquitetura do século XX.

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Imagem 1: Lina Bo Bardi, arquiteta italiana e naturalizada brasileira.

Lina Bo Bardi é o apelido de Achilina di Enrico Bo Bardi, nome da arquiteta italiana, naturalizada brasileira e autora de obras como o Sesc Pompéia, a Casa Vidro, Teatro Oficina, MASP e outros tantos projetos. Lina nasceu em Roma, em 1914, e foi através dos ensinamentos de seu pai, que era engenheiro e pintor, que desde criança sinalizou interesse para os desenhos e pintura em guache e aquarela. Aos 25 anos se formou pela Facoltá di Architettura da Università degli Studi di Roma, sendo uma das poucas mulheres a frequentar a instituição de ensino na época.

Após se formar, Lina se muda para Milão em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial e forma um escritório em sociedade com o arquiteto Carlo Pagani além de também fazer algumas parcerias profissionais com o arquiteto Gio Ponti. Nesse período durante a guerra, Lina teve seu escritório bombardeado em 1943 e durante essa fase ingressa no Partido Comunista Italiano e participa da resistência à invasão alemã. Além de importantes projetos, Lina tem uma produção editorial com uma série de artigos, publicações e ilustrações para revistas de muita importância para a arquitetura italiana, e inclusive foi coordenadora e fundadora de uma revista de arquitetura, a Quaderni di Domus. No fim da Segunda Guerra Mundial, Lina retornou para Roma, onde conheceu Pietro Maria Bardi, e em 1946 Lina e Pietro se casam.

O Brasil entra na história de Lina e Pietro em 1946, quando o casal decide vir para o país que era visto como promissor para as artes e arquitetura. Se instalaram primeiro no Rio de Janeiro e após alguns meses, a convite de Assis Chateaubriand, um importante empresário, mudaram-se para São Paulo para fundar o Museu de Arte de São Paulo, MASP e se tornaram grandes admiradores da cena cultural e intelectual brasileira. Já em São Paulo, em parceria com outros arquitetos, Lina criou o Estúdio de Arte Palma em 1947, para projetos de mobiliário. O casal funda a revista Habitat em 1950 e 1951 Lina se naturaliza brasileira, no mesmo ano que finaliza sua primeira obra no Brasil, a Casa de Vidro, projeto desenvolvido para a sua residência e de seu marido e foi a primeira casa do bairro recém fundado chamado Morumbi, situado na região sul da cidade de São Paulo. A casa está sob pilotis, com seu bloco principal elevado do pavimento térreo e tem a sala principal rodeada com vidro, dando vista para a densa vegetação de mata atlântica. Lina também atuou por um período como professora substituta na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

A arquiteta foi convidada para a fundação e direção do Museu de Arte Moderna da Bahia, o MAM-BA, em 1958, após uma visita a cidade de Salvador para participar de algumas conferências e mudou-se para a Bahia no mesmo ano. Na Bahia, Lina realizou projetos de restauro, cenários para teatro e exposições. E em 1964 voltou a morar em São Paulo.

Com seu retorno a São Paulo, Lina voltou a trabalhar no projeto do MASP e em sua obra. O museu foi inaugurado 1968. O envolvimento de Lina com a cenografia já vinha dando os primeiros passos em Salvador, mas foi nos anos seguintes a inauguração do MASP que, juntamente com nomes importante da cena teatral paulistana, como José Celso e Flávio Império, que Lina se envolveu com a produção de cenários de algumas peças e filmes. Na década de 70, Lina inicia o projeto de outro grande edifício icônico de sua arquitetura: O SESC Pompéia, que foi finalizado e inaugurado em 1982. Nessa mesma década, o projeto do Teatro Oficina inicia com os primeiros desenhos e em 1990 iniciam suas obras e também o projeto da nova sede do Palácio das Indústrias para a Prefeitura de São Paulo, último projeto de Lina Bo Bardi.

Grande admiradora da cultura popular brasileira, Lina soube unir o moderno ao regional. Era evidente em seu trabalho a preocupação do lugar do humano em seus projetos, e a vontade de criar para uso social. No dia 20 de março de 1992, Lina Bo Bardi faleceu em São Paulo, aos 77 anos, tendo se tornado referência mundial pela sua trajetória e conjunto excepcional de sua obra e ganhou em 2021 o prêmio Leão de Ouro, na 17ª Mostra Internacional de Arquitetura de La Biennale di Venezia.