A herança cultural das tribos anasazi, pueblos e navajos nas terras do sudoeste dos Estados Unidos da América é inegavelmente inspiradora e fecundante de uma identidade própria. Bem como a herança deixada pelos espanhóis aquando da sua fixação, principalmente no estado do Novo México, no século XVI. O estado do Novo México e o Sudoeste Americano é povoado por um estilo arquitectónico regional designado de Pueblo Revival, uma estética que se inspira e replica a arquitectura nativa ancestral dos Pueblos como também as igrejas construídas na época da missão dos espanhóis nestas terras. Este estilo desenvolveu-se nos inícios do século XX e atingiu o seu auge nas décadas de 20 e 30 desse mesmo século e mantendo-se preservado até aos dias de hoje.

“Na minha primeira viagem ao Novo México (…) fui tomado pelo poder da paisagem e da beleza dos edifícios. A adequação tanto da forma como dos materiais, a qualidade da luz, e as subtis variações da cor do adobe nos diversos locais deixam uma impressão permanente a quem visita pela primeira vez, e eu não fui excepção.”

(Trieb, Marc. «Sanctuaries of the Spanish New Mexico», 1989/1993)

Sem desmemoriar as obras da cultura nativa e os santuários da missão espanhola, que são na verdade a génese deste estilo, este artigo avança diretamente para uma breve noção da estética pueblos revival e para isso é necessário revisitar algumas das obras mais relevantes desta época.

Apenas cingindo os exemplares ao território do Novo México, temos como primeiro exemplo deste estilo de arquitectura regional o Museu de Arte do Novo México, situado em Santa Fé e construído em 1917 pelo Arquitecto Isaac Raap (1854-1933). As suas formas suaves construídas com paredes grossas de adobe e a sua cor forte e serena que remete para os tons ocre do deserto, são elementos característicos desta nova estética, também chamada de “Estilo de Santa Fé”. Continuando pela cidade de Santa Fé, são inúmeros os exemplos que podemos encontrar, desde os edifícios de habitação mais comuns até aos edifícios de caracter público importante.

O hotel La Fonda é outro exemplar, construído pelo mesmo arquitecto do Museu de Arte do Novo México, em 1922. Aqui vemos mais uma vez as cores fortes da terra, as formas boleadas e irregulares, os tectos planos que formam terraços a vários níveis de altura e as vigas estruturais salientes em madeira a relembrar as construções das vilas nativas de Taos. O edifício do Instituto e Museus de Arte Índio Americano (IAIA), contruído em 1920, é um outro exemplo, bem como o Museu Georgia O’Keeffe (1887-1986), ambos no centro de Santa Fé. Já mais a norte de Santa Fé, em Abiquiú, temos o exemplo da Casa-Estúdio também de O’Keeffe, contruído em 1949, pela própria e pela sua amiga e advogada Maria Chabot (1913-2001).

O revisitar do revivalismo

No caso do Estado do Novo México o revivalismo é revisitado vezes sem conta quase sem nunca se ter deixado de aplicar este estilo na arquitectura local. O revivalismo dos Pueblos também se alargou a outras artes, para além da arquitectura, existindo na melhor das versões uma simbiose entre a arte e a arquitectura em prol de conservar a identidade deste lugar. Millicent Rogers (1902-1953), foi uma entusiasta e apoiante desta cultura nativo americana e suportou artistas contemporâneos como a Georgia O’Keeffe, como anteriormente referido, e Agnes Martin. Estas artistas, entre outros/as, foram instigadas a explorarem e a revisitarem essa cultura e a manterem-na viva.

Agnes Martin realiza um dos espaços contemporâneos mais próximos do que seria um espaço sagrado na altura dos pueblos. A sua galeria, no Museu Harwood, criada em 1993, revisita esta cultura e estabelece uma relação directa entre a cultura nativo americana, o estilo pueblo revival e a arquitectura e pintura contemporânea. As suas pinturas colocadas em torno de um espaço octogonal iluminado por uma cúpula central e completado por quatro bancos amarelos desenhados por Donald Judd, colocados na posição central do octógono debaixo da luz da cúpula, recriam uma Kiva contemporanea . Uma Kiva é o espaço mais sagrado dos pueblos onde realizavam rituais religiosos, reunião politicas e cerimonias espirituais.

Já no na viragem do século e no século XXI, nas cidades mais próximas desta estética, continua-se a revisitar e a perpetuar este estilo dos pueblos revival na arquitectura contemporânea. Edifícios de habitação continuam na sua maioria a manter esta tradição como também edifícios de caracter público e sagrado. Temos como exemplo o condomínio comunitário Zocalo do Arquitecto mexicano Ricardo Legorreta (1931-2011), contruído nos anos entre 2002 e 2005 e o Centro de Artes Visuais de Santa Fé, contruído no ano de 1999, pelo mesmo Arquitecto, ambos situados em Santa Fé. Outro exemplo, poderá ser entre inúmeros, a Capela da Luz construída pelos arquitectos locais Archaeo Architects entre os anos de 2007 e 2015, é uma obra que mantem não só a estética dos Pueblos como também o seu lado espiritual.

O estilo arquitectónico Pueblos revival continua presente e contemporâneo naqueles lugares transformando-os em espaços de cultura viva. Aquelas terras permanecem sagradas e as paisagens desertas , são lugares em constante mutação, mas que permanecem com uma forte ligação á cultura e ao lugar, sem nunca esquecer o passado e coabitando com as diferentes passagens pelo tempo e heranças culturais, perpetuando assim uma identidade destinta e inspiradora.