Esconde-esconde, pega-pega, estátua, bolhas de sabão, stop, cabo-de-guerra, pipa, queimada, caça ao tesouro, bola, bolinha de gude, pular corda, cabra-cega, siga o mestre, mímica, gincana, massinha, teatro de fantoche, dramatização, amarelinha, ciranda, casinha, cartas, desenhos, pinturas, jogos. Não importa a sua idade, é bem provável que muitas dessas brincadeiras fizeram parte de sua infância. Ao olhar para trás, para a sua criança, agradeça aos momentos lúdicos experienciados, pois foi por meio deles que você é quem é.

A palavra “ludicidade” vem do latim ludus, que significa “brincadeira”, peça fundamental para o desenvolvimento integral da criança. Não foi à toa que Albert Einstein disse que brincar é a mais alta forma de pesquisa. Além dele, outras figuras importantes para o processo histórico educacional, também debruçaram o olhar à temática. Jean Piaget, por exemplo, disse: Os jogos não são apenas uma forma de divertimento, mas são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Já Vygotsky, acreditava que a criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos e não apenas ao universo dos objetos a que ela tem acesso. Maria Cristina Trois Dorneles Raul foi assertiva ao dizer que o brincar é a linguagem da infância e Denise Pozas afirmou que crianças que brincam aprendem mais. Para Celso Antunes, o jogo é a forma de expressão mais natural da criança. Mas o que faz a brincadeira ser um momento tão importante para a infância?

De acordo com a neurociência, o brincar pode promover o desenvolvimento dos cinco pilares da inteligência emocional: autoconsciência, autogestão, automotivação, empatia e habilidades socioemocionais.

Autoconsciência é a capacidade do indivíduo reconhecer a si mesmo como um ser único e separado dos outros, provido de suas próprias emoções. Ao brincar, as crianças têm a oportunidade de explorar seus próprios sentimentos. Elas podem aprender a identificar e nomear o que estão sentindo e a entender como isso afeta seu comportamento. Além do mais, é na brincadeira que a criança explora o mundo ao seu redor e experimenta diferentes papéis e identidades.

Exemplos de brincadeiras que podem desenvolver a autoconsciência:

  • Brincar de faz de conta: Ao brincar de faz de conta, a criança assume diferentes papéis, como de professora ou de super-herói. Isso ajuda a criança a experimentar diferentes perspectivas e a desenvolver uma compreensão de si mesma como um indivíduo único;
  • Brincar com espelhos: Ao brincar com espelhos, a criança se vê como um objeto externo. Isso ajuda a criança a desenvolver uma consciência de si mesma como um corpo físico;
  • Brincar com outras crianças: Ao brincar com outras crianças, a criança aprende a se relacionar com os outros e a desenvolver uma compreensão de si mesma como parte de um grupo.

Autogestão é a capacidade de regular as próprias emoções de forma eficaz, controlando seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. É uma habilidade fundamental para o sucesso na vida pessoal e profissional. Ao brincar, as crianças precisam aprender a tomar decisões, a resolver problemas e a lidar com frustrações. Assim, a autogestão é a capacidade do indivíduo de controlar seus próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Exemplos de brincadeiras que podem desenvolver a autogestão:

  • Brincar com regras: A criança aprende a seguir instruções e a respeitar os outros;
  • Brincar com desafios: A criança aprende a superar obstáculos e a perseverar;
  • Brincar com conflitos: A criança aprende a resolver problemas de forma pacífica.

Automotivação é a capacidade de se motivar e persistir para alcançar objetivos. Elas podem aprender a estabelecer metas, a planejar estratégias e superar desafios.

Exemplos de brincadeiras que podem desenvolver a automotivação:

  • Brincar de faz de conta: Ao brincar de faz de conta, a criança assume um papel e estabelece metas para alcançá-lo. Por exemplo, uma criança que brinca de ser uma professora pode estabelecer a meta de ensinar uma lição para seus alunos;
  • Brincar com desafios: Ao brincar com desafios, a criança aprende a superar obstáculos e a perseverar. Isso ajuda a criança a desenvolver um senso de determinação e de capacidade;
  • Brincar com outras crianças: Ao brincar com outras crianças, a criança aprende a trabalhar em equipe e a cooperar com os outros. Isso ajuda a criança a desenvolver um senso de propósito e de competência.

Empatia é a capacidade de compreender, sentir e se colocar no lugar dos outros. É uma habilidade relevante para o desenvolvimento social e emocional. Ao brincar, as crianças aprendem a entender os sentimentos e perspectivas alheias e a agir de forma compassiva.

Exemplos brincadeiras que podem desenvolver a empatia:

  • Brincar de faz de conta: Ao brincar de faz de conta, a criança assume o papel de outra pessoa. Isso ajuda a criança a desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro e de ver o mundo de sua perspectiva;
  • Brincar com outras crianças: Ao brincar com outras crianças, a criança aprende a compartilhar, a cooperar e a resolver conflitos. Isso ajuda a criança a desenvolver a capacidade de compreender as necessidades e os sentimentos dos outros;
  • Brincar de jogos cooperativos: Os jogos cooperativos ensinam as crianças a trabalhar em equipe e a ajudar uns aos outros. Isso ajuda a criança a desenvolver a capacidade de se preocupar com o bem-estar das pessoas e seres ao seu redor.

Habilidade social é a capacidade de se relacionar com os outros de forma positiva e respeitosa. Ao brincar, as crianças aprendem a se comunicar de forma eficaz, a cooperar e a resolver conflitos. Todas as brincadeiras que desenvolvem os outros pilares da Inteligência Emocional se aplicam ao desenvolvimento das habilidades sociais avançadas (saber compartilhar uma opinião, agir com assertividade, solicitar ajuda, pedir desculpas, seguir instruções, saber ouvir), emocionais, de negociação (comunicar e expressar os próprios sentimentos com respeito diante de uma situação conflituosa) e de organização.

Como vimos, a brincadeira é uma atividade essencial para o desenvolvimento humano, pois contribui para desenvolver habilidades físicas, cognitivas, sociais e emocionais. Infelizmente, a ludicidade, que é uma ferramenta poderosíssima no processo de aprendizagem para torná-lo mais significativo, inclusivo e engajante, tem sido substituída pelas inúmeras folhinhas de atividade para traçar um ilusório perfil acadêmico nas salas de aula das crianças mais jovens e adolescentes. Quem dera ter o jardim de infância para a vida toda, pois nas atividades lúdicas, ativas e inovadoras que a aprendizagem criativa (imaginar, criar, brincar, compartilhar e refletir) acontece, facilitando o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a conviver e o aprender a fazer.

Estudos têm comprovado os benefícios do brincar para o aprendizado. A Universidade de Harvard, por exemplo, mostrou que crianças que brincam com mais frequência têm melhor desempenho acadêmico do que aquelas que brincam menos. Outro estudo, realizado pela Universidade de Yale, mostrou que o brincar pode ajudar a melhorar a memória e o raciocínio lógico. Desse modo, ao incluir atividades lúdicas no currículo escolar, os educadores podem ajudar os alunos a se concentrar, a se envolver com o conteúdo e a aprender de forma eficaz.

Diante do exposto, não há razões para dissociar as brincadeiras do processo de desenvolvimento humano e educacional porque é essa união que vai promover fortes conexões neurais na construção do “eu” singular e plural em prol de uma sociedade mais consciente, motivada, empática e ética.