Found Footage, um termo nem tão conhecido quando falamos sobre filmes, mas que pode pegar a atenção de alguns ouvidos apaixonados por terror.

O estilo de narrativa cinematográfica consiste em shots gravados pelas mãos dos personagens, que muitas vezes interagem com a câmera, vivendo e contando suas histórias diretamente para o espectador.

Considerado o primeiro filme do gênero, Holocausto Canibal (1980), um filme italiano produzido na onda do “cinema apelativo” se popularizou e se tornou um clássico preenchido de violência e controvérsias, sendo banido em diversos países. Porém, vale a pena notar que enquanto Holocausto Canibal fora lançado em 1980, O Outro Lado do Vento, lançado apenas em 2018, fora produzido nos anos 70.

Ambos os filmes, sejam eles o primeiro ou não, abriram espaço para esse novo gênero, que enfim fora popularizado nos Estados Unidos com A Bruxa de Blair (1999).

Apresentando as filmagens encontradas de três estudantes, Heather, Josh e Mike (nomes reais dos atores) que se aventuram por uma floresta perto de uma cidade fictícia para encontrar a criatura chamada de Bruxa de Blair e são assombrados por ela, o filme fez sucesso e logo se tornou um clássico.

Grande parte desse sucesso se dá ao marketing, que aproveitou profundamente do estilo “Found Footage” para quase transformar a história em realidade.

O primeiro passo desse marketing fora o site, que detalhava o desaparecimento dos três estudantes, com fotos e pedidos de informações, incluindo filmagens de atores como policiais investigando o caso.

Durante festivais como Sundance e Florida Film Festival, os produtores ainda distribuíram panfletos de “pessoas desaparecidas” e a página do IMDb dos atores chegou a listá-los “desaparecidos” dizendo que a filmagem que estavam prestes à ver havia sido encontrada por eles em uma floresta.

Apesar de ser apenas um filme, com atores contratados e uma equipe de produção, Heather, Josh e Mike viveram experiências reais naquela floresta. Durante o dia, a equipe passaria com eles cenas básicas, sugestões do que eles poderiam dizer, e durante anoite, quando todos estavam a dormir, eles faziam barulhos, deixavam galhos e pedras perto das cabanas dos atores, deixando-os genuinamente assustados.

No fim, a Bruxa de Blair é realmente só um filme, absurdamente bem executado e que merece seu título de clássico, e enquanto nenhuma bruxa assombrou os atores, eles definitivamente abriram o caminho para novos filmes de found footage, como Atividade Paranormal (2007) e Creep (2014).

Atividade Paranormal conta a história de um casal que começa a perceber certos acontecimentos inexplicáveis em sua casa, enquanto Creep conta a história de um cameraman que consegue um trabalho para filmar uma fita de despedida para um homem que está morrendo.

A arte desse gênero é a habilidade de criar um filme barato, utilizando nada mais nada menos do que uma câmera e sua criatividade.

Enquanto Atividade Paranormal, conhecido por ser o filme mais rendável já feito considerando que seus gastos iniciais foram 15 mil dólares, levou sete dias para ser gravado, utilizando a mesma técnica que a Bruxa de Blair, onde os atores recebiam o contexto da história e algumas dicas sobre suas falas apenas, Creep fora gravado em um fim de semana, quando dois amigos se encontraram em uma cabana com uma câmera e começaram a explorar o drama e a psicologia de seus personagens.

Existe algo sobre esses filmes, algo que nos puxa mais para perto, que vemos os personagens olhando diretamente para a câmera, quase olhando para nossos olhos e trazendo os sustos para dentro de nossas casas.

Em Leaving D.C. (2012) conhecemos o personagem Mark, um homem que muda da capital para uma casa isolada perto de uma floresta procurando por paz. Sua forma de lidar com a solidão é gravando vídeos que envia para seu grupo de apoio.

Nós vemos sua história se escrever, Mark conhecendo a nova casa, mostrando como está vivendo os seus dias, e então começamos a notar, junto com ele, os pequenos incômodos. Barulhos inexplicáveis vindo pelas janelas sempre no mesmo horário, e até mesmo uma música sendo tocada por uma flauta, mas dividida perfeitamente entre as noites.

Em filmes como A Bruxa de Blair ou Creep, nós vemos uma história acontecendo, acompanhamos de perto como um novo integrante daquele terror que os personagens vivem, mas um integrante sozinho. Já em casos como Atividade Paranormal e Leaving D.C., somos levados para dentro da casa dos personagens.

O medo já não está mais lá fora, ele está aqui dentro. Está do lado de fora de nossas janelas, embaixo de nossas camas. Eles brincam com a nossa sensação de segurança de estar dentro de casa.

E nós estamos assistindo esse terror em primeira pessoa.

Existe algo sobre alguém olhar no fundo dos seus olhos, com pânico escrito por toda a sua face, e detalhar todos os horrores e medos que viveu durante anoite.

Outro ponto que sempre falamos sobre o found footage, é a possibilidade de qualquer pessoa com uma ideia poder produzir algo que será aterrorizante e sensacional.

A série de antologias de terror V/H/S demonstra isso muito bem, cada filme possui pequenos segmentos que utilizam a técnica e são dirigidos por diferentes pessoas, como Ti West e Aaron Scott Moorhead.

Enquanto as histórias curtas da antologia captam seu interesse por si só, uma história ainda é contada no fundo, sobre quem está vendo aquelas fitas e o que está acontecendo com essa pessoa.

É claro que o found footage não é uma técnica exclusiva do terror, e muitas vezes é mistura com o mockmentary, um estilo de filmagem que demonstra histórias como se fossem de verdade, sendo The Office um ótimo exemplo da técnica.

Porém, enquanto o found footage não pertence unicamente ao terror, é claro que esse gênero possui uma capacidade incrível de contar suas histórias o utilizando.

Desde jovens perdidos na floresta caçando uma bruxa ou o pé grande e até jovens que enquanto andavam de skate se encontram com um culto que está tentando acordar uma criatura. Histórias que nos envolvem, que não se utilizam de sons altos e gritos para nos deixar assustados, mas que utilizam aquilo que temos de mais profundo: nossas emoções e medos do desconhecido.