Louis XIV marcou a história da França e consequentemente do mundo. Numa época em que todos voltavam os olhos para o velho continente, o luxo e o requinte que o rei Louis XIV trouxe para o país era admirado e desejado por muitos.

Após a morte de seu pai, o rei Luís XIII, o pequeno Louis assumiu o trono aos meros 5 anos de idade, sob a regência de sua mãe, a rainha Ana da Áustria e tendo o cardeal Mazarin como primeiro-ministro. Como esperado de um futuro monarca, Louis teve uma educação primorosa, estudando religião, história, geometria, línguas, além de equitação, esgrima e dança.

Aos 13 anos, com a morte do primeiro-ministro, Louis já era considerado maior de idade e decidiu ele mesmo assumir o trono definitivamente dali em diante, auxiliado por alguns poucos ministros. E assim o fez. Iniciava, então, um novo período para o país, marcado pelo absolutismo. Louis XIV centralizava todo o poder, e acreditava que este direito lhe era dado por Deus.

A mais imponente herança do reinado de Louis XIV, o palácio de Versalhes, foi o maior símbolo da Monarquia Absoluta. Buscando um local próximo à Paris, mas ao mesmo tempo longe o suficiente do caos e da desordem que a capital enfrentava à época. Foi em Versalhes, no antigo pavilhão de caça da família, onde o rei decidiu alojar-se. Uma vez lá, iniciou seu grande projeto de construir um local onde centralizaria o poder e criaria um governo forte para seu país.

Durante décadas ampliou o local e transformou Versalhes em um palácio majestoso, um dos maiores do mundo até hoje. Além dos próprios monarcas, Louis e sua esposa a rainha Maria Teresa da Espanha, o palácio abrigava ministros, funcionários e toda a corte. Estima-se que mais de 10 mil pessoas moravam no local.

Com esta quantidade de pessoas concentrada em um mesmo lugar, mesmo este lugar sendo Versalhes, foi preciso criar inúmeras regras de convivência, tanto para manutenção da ordem, como na forma de enaltecer o rei.

A vida no palácio era um verdadeiro ritual, inclusive para Louis, que tinha horários pré-definidos para executar suas atividades. Ele também seguia protocolos rígidos em sua rotina. Seu dia, por exemplo, iniciava às 08:00 em ponto, diariamente. Ao ser acordado um arsenal de pessoas pré-selecionadas tinham o privilégio de ver o monarca sendo vestido, lavado e penteado. O chamado Le Grande Lever (O Grande Despertar) ou Le Lever du Roi (O Acordar do Rei) era considerado um evento.

Foi em Versalhes que regras de etiqueta conhecidas e seguidas até os dias atuais foram criadas. Certos tipos de roupas também eram exigidas em determinadas situações. Os espartilhos foram criados. O uso de perucas entre monarcas de todo mundo se propagou a partir do uso constante feito pelo rei da França, o salto alto também se originou por lá, na época projetado para elevar a estatura do próprio rei. Versalhes ebulia em termos de moda e ostentação e o mundo todo buscava copiá-los. Os nobres franceses e membros da corte, tinham que seguir a moda, que mudava rapidamente em Versalhes, vestirem-se sempre de maneira luxuosa, e gastarem quantias significativas com jogos, carruagens, cabelereiros e tantas outras futilidades. E, desta forma, a economia girava, exatamente como desejava o rei. Rios de dinheiro eram gastos para manterem os padrões ditados por Versalhes e aqueles que não os seguissem corriam o risco de serem expulsos do palácio.

O estrito regime criado pelo rei dentro dos muros de Versalhes tinha o objetivo de controlar a nobreza, e assim ele o fez. Disputa por títulos ou por melhores condições na corte eram uma constante e Louis XIV sabia bem como manter a nobreza sob controle, tudo era um jogo político e de poder.

Contudo, mesmo com os nobres gastando fortunas em Versalhes, para financiar os luxos dentro do palácio o rei sangrava o povo com cobranças de impostos cada vez mais ferozes. Grandes festas eram oferecidas pelo rei ao menos 3 vezes por semana, algumas duravam dias com óperas e jogos no jardim. A comida era abundante e os melhores chefs eram selecionados para prepararem os banquetes. Os jardins do palácio eram um atrativo à parte, o próprio rei costumava caminhar quilômetros diariamente por eles e para mantê-los verdes e em ordem além de um mutirão de empregados, eram necessários mais de 3.600 metros cúbicos de água por hora. Um esbanje inimaginável!

Grandes nomes da arte também eram financiados pelos monarcas, entre eles Mozart, que se apresentava em concertos semanais. A rainha financiou mais de 1.200 peças de teatro que foram apresentadas no palácio durante o seu reinado. Além do acervo de desenhos, pinturas e esculturas do palácio contar na época com mais de 20 mil itens. Por conta deste estilo de vida, a França era considerada o berço da Arte e da Cultura, apesar desta realidade estar presente exclusivamente em Versalhes.

Com isto, o rei Louis XIV, que se auto intitulava Le Roi Soleil (O Rei Sol) e tinha toda sua corte girando em torno de si, chamou também a atenção do mundo. Seu reinado, que durou 72 anos, e foi o reinado mais longo de toda a história da humanidade, foi marcado pelo luxo e pela ostentação. Um dos monarcas franceses mais poderosos da história, Louis XIV liderou três guerras diferentes, a Guerra Franco-Holandesa, a Guerra dos Nove Anos e a Guerra da Sucessão Espanhola. Além de outros conflitos de menor porte. Foi ele também o responsável pela construção do complexo conhecido como Hôtel des Invalides (Hotel dos Inválidos), situado em Paris, que até hoje serve de moradia a militares que lealmente serviram a França, mas que foram dispensados por conta de ferimentos de guerra ou idade avançada.

Outra grande obra de seu reinado foi o Canal do Midi, que uniu o Mediterrâneo e o Atlântico e foi de extrema importância para o desenvolvimento da França e da Europa. Pensado como solução econômica, militar e política, para transportar mercadorias e evitar a navegação em águas abertas, é o mais antigo canal marítimo da Europa ainda em funcionamento. Foi fundamental também para a Revolução Industrial. Desde 1996 foi classificado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, mas hoje tem função meramente turística.

O grande defensor do Absolutismo, morreu poucos dias antes de completar 77 anos, sendo sucedido por seu bisneto de 5 anos de idade, o rei Luís XV, visto que todos os demais herdeiros ao trono já tinham morrido, incluindo seu filho mais velho, Luís, Grande Delfim da França.

O rei que marcou a história pela centralização do poder, construções monumentais que até hoje são admiradas e por um estilo de vida extremamente luxuoso deu a França uma imagem de glória e superioridade. Mesmo que fora de Versalhes essa não fosse bem a realidade. Contudo, sua importância histórica foi tão significativa que até hoje inúmeras são as biografias, livros e documentários que retratam não apenas a vida de Louis XIV, mas também de sua principal obra, o Palácio de Versalhes.

E mesmo com o passar dos séculos, o Sol da França continua a brilhar.