Muitos podem não reconhecer o nome João Artacho Jurado, mas basta mostrar a um paulistano ou arquiteto qualquer imagem de edifícios como o Cinderela, Viadutos, Planalto, Bretagne, Piauí, Louvre e tantos outros que logo irão dizer que conhecem ou já passaram em frente. Esses são edifícios de um arquiteto polêmico, que foi contra tudo que era considerado arquitetura na época em que viveu e por isso que, por muito tempo, falou-se pouco ou quase nada de Artacho Jurado.

Filho de imigrantes espanhóis e com um pai anarquista, foi tirado da escola ainda no ensino primário para não ter que jurar a bandeira, isso fez com que Artacho não conseguisse obter um diploma e, quando adulto, se tornasse um arquiteto autodidata. Porém, Artacho não conseguiu assinar nenhum de seus projetos autorais pela falta de um ensino formal e fez com que houvesse a necessidade de ter colaboradores para assinar a responsabilidade técnica e autoria de seus projetos e obras. Esse fato não atrapalhou Artacho de se tornar um empresário de sucesso com sua construtora na década de 1950 oferecendo aos paulistanos uma arquitetura nova e chamativa. Porém, isso fez com a classe de arquitetos da época o visse com maus olhos e o perseguisse durante toda sua vida.

Artacho Jurado iniciou sua vida profissional como letrista, aos dezenove anos, na cidade do Rio de Janeiro, criando cartazes e placa para anúncios e propagandas. Após abandonar sua primeira profissão, abre na cidade de São Paulo uma empresa de produção de luminosos com gás néon, que eram utilizados nas publicidades da cidade. Com sua empresa, Artacho consegue a chance de projetar estandes e começa a se envolver na organização de feiras, como a I Feira Nacional de Indústrias de São Paulo. Com o desenvolvimento urbano da cidade, Artacho e o irmão começam a realizar pequenas obras por volta de 1945.

Fundou a Construtora e Imobiliária Monções em 1946, que tinha uma publicidade única que vendia os novos prédios oferecendo grandes áreas comuns e de lazer, fachadas cheias de cor, varandas com guarda-corpos decorados com arabescos, amplas marquises e muito conforto aos moradores. Suas obras e construções incomodaram os arquitetos da época por ir contra a escola moderna de arquitetura, e foi muitas vezes denunciado ao conselho de engenharia que fiscalizava suas obras e placas de obra. Arquitetos da época chamavam os prédios projetados por Artacho de “aberrações” e ficavam extremamente irritados que o mercado imobiliário procurava por empresas como a Construtora Monções e não a arquitetos.

Apesar de uma grande torcida contra, houveram personagens que estiveram ao lado de Artacho e de certa forma defenderam o estilo arquitetônico de seus prédios. Um deles foi o arquiteto e que já havia sido prefeito da cidade de São Paulo, Christiano Stockler das Neves. Christiano parabenizava a Construtora Monções e o amigo Artacho para os jornais da época e reconheceu a inauguração do Edifício Bretagne como um edifico para o corpo e também para o espírito, e não apenas uma máquina de morar, segundo uma entrevista dada em 1958 pelo ex-prefeito da cidade.

A arquitetura de João Artacho Jurado era composta de uma mistura de diferentes estilos, mas já chegou a ser resumida em uma única palavra: kitsch, expressão alemã e estilo de arquitetura que tem elementos exagerados e decorativos como esculturas e molduras e ornamentos todos usados em um mesmo espaço, uso de materiais coloridos, brilhantes e reflexivos, como espelhos e vidros e mistura de estilos como rococó, barroco e neoclássico. Foi o edifício Bretagne, projetado e idealizando por Artacho, um dos primeiros prédios a oferecer piscina e área de lazer dentro condomínio. O edifício Cinderela chama atenção pela sua fachada na cor rosa, um amplo salão de festas e um jardim de uso comum dos condôminos na cobertura. E assim seus edifícios foram trazendo novidades, uma preocupação com o trabalho de texturas em superfícies das edificações, uso de cores e compor os ambientes como espaços cenográficos.

A aceitação do público fez com que a obra de Artacho Jurado se tornasse icônica, compusesse a paisagem urbana da cidade de forma peculiar e com o passar dos anos sua arquitetura também se tornou valorizada e estudada pela mesma classe que o julgou.