«Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida».

(Carlos Drummond de Andrade)

Até não haver mais o quê? É a pergunta que nos fazemos diante deste título, poético e imprevisível da exposição de Leandro Marcos. Até não haver mais arte? Até não haver mais espaço para a arte? Ou até não haver mais formas de o artista expressar o que sente através daquilo que faz?

A arquitetura era o destino inicial do artista – queria, como o pai, projetar espaços e construí-los, ver nascer do seu desenho uma casa, um prédio, uma escola. Ver nascer do seu desenho algo que estava para além do projeto. Mas, os caminhos da arte, muitas vezes são imponderáveis, e o seu chamado pode ocorrer quando menos se espera e quando, muitas vezes, não se espera nada. E a arte chamou, para si, o futuro arquiteto, que passou a pintar formas que nada tinham a ver com projetos arquitetónicos.

A escolha inicial de Leandro Marcos foi pelas formas puras, uma reinvenção do estilo de Piet Mondrian, uma apropriação consciente de um método que é também um modo de pensar a arte: o quadro é apenas superfície pintada e as linhas e cores bastam-se pelo que são, formas, e não pelo que podem significar. Não há uma intencionalidade narrativa ou dramática. Há traços que se entrecruzam e criam padrões. Uma arte mais ascética em que o artista se distancia do que faz criando, através de um gesto contínuo e repetido, uma obra formalmente bem resolvida e, propositadamente, sem alma.

Após envolver-se em diversos projetos que exigiram do artista uma tomada de posição, uma saída do seu lugar de conforto, o trabalho de Leandro Marcos caminhou numa direção mais pessoal e intimista - transfigurando o gesto dos primeiros quadros num movimento mínimo, quase num não-gesto, ou usando a tela como um diário em que podia expressar sentimentos e explicitar questões que a arte lhe foi colocando ao longo do seu percurso. A ideia de arte como linguagem, ou de arte reduzida à linguagem, à língua, à letra, não é nova.

Para não recuarmos tanto no tempo, podemos apenas espreitar os anos 60, do século XX, quando artistas como Robert Barry, Lawrence Weiner e Joseph Kosuth questionaram o fazer artístico a partir da linguagem escrita, transformando o texto não num poema, mas numa obra visual que era, ao mesmo tempo, arte e manifesto. Sem pretender ir tão longe, parece-me que a escrita, nos quadros de Leandro Marcos, é o resultado de um processo de reinvenção do artista que, sem descurar a forma, a superfície, decidiu deixar que a arte entrasse dentro de si e que voltasse à tona revestida de sentimentos e de questionamentos que ele, pelo menos no princípio, preferiu contornar.

E voltamos ao princípio, a pergunta que esta exposição nos coloca: até não haver mais o quê? Talvez até não haver mais um sujeito que se deixa envolver pelo que faz e que não para de pensar na arte e através dela. Até não haver mais artista. Pois enquanto ele cá estiver, haverá mais obras e mais arte e mais exposições. Porque seu trabalho traçou já um percurso e Leandro Marcos não pretende, ainda, parar.