Formas tão delicadas quanto grosseiras, feitas em igual medida de silêncio e eloquência, são a matéria fundamental do trabalho gráfico e fotográfico de Jesus Alberto Benitez.

Tais formas podem ser extremamente suaves ou ocasionalmente exibir uma brutalidade mal contida. Exemplo disso é esta placa de madeira, coberta em parte de uma camada de tinta parda (notoriamente pintada com os dedos num movimento que se adivinha decidido e repentino), através da qual se vislumbra a forma persistente de um quadrado1. Esta forma sugere uma aparição «deliberadamente fortuita», expressão para a qual podemos arriscar uma explicação: Apesar de não deixar nada ao acaso, Jesus Alberto Benitez deve-lhe bastante. É preciso, até meticuloso, tão exigente consigo quanto connosco. A sua precisão é confrontada com a mudança, com interrupções e obstáculos, ou seja, com acidentes. O estúdio é o local idóneo para os provocar. É neste momento que se torna evidente que o quadrado, inesperadamente destacado por uma sólida aplicação de cola, está longe de ser insignificante. É a marca de algo que desapareceu, a marca de uma superfície aderente que fixa a sua memória. Tal como este quadrado, o trabalho de Jesus Alberto Benitez é testemunho de tudo quando é transiente e das variações infinitas — um trabalho capaz de delinear os contornos daquilo que está por vir. Le bureau2 («O Escritório») também oferece indícios nesse sentido.

A impressão a jacto de tinta revela imperceptivelmente uma superfície que foi involuntariamente limpa, um trilho que nos parece levar ao resto da imagem. E esta é, portanto, a abordagem com que nos devemos comprometer: concentrar o nosso olhar nos detalhes ao mesmo tempo que deles nos tentamos abstrair ou, sucintamente, observar além daquilo que vemos.

Esta transgressão do visível traduz-se num pronunciado gosto pelo audível. Jesus Alberto Benitez revela um interesse na música ou sobretudo na matéria sonora. Tal como em Queens3, alguns dos seus trabalhos deixam-se impregnar de som. Aparentemente anedótica é a qualidade granulosa da sua fotografia de estúdio, aquilo a que habitualmente se refere em fotografia como «ruído». A analogia sonora volta a ser útil na descrição da forma como Jesus Alberto Benitez usa as linhas.

A linha é um elemento essencial encontrado nos seus desenhos, pinturas e fotografias. Em ocorrências raras, aparece sozinha ou parcamente acompanhada, como por exemplo neste trabalho4 de tinta sobre papel cuja margem rasgada o une a quatro perfurações redondas. As linhas fornecem o tom, classicamente referido como «l’ostinato» ou, talvez numa linguagem mais apreciada pelos músicos, o «riff». Refrões angulares estruturam Table à dessin5 («Estirador»); outros mais arredondados irradiam a imagem de uma fotografia evanescente6.

Jesus Alberto Benitez é um peculiar iconoclasta que, ao recusar a definição de limites, conjura imagística. Os seus trabalhos partilham o poder atribuído aos Pulsares, impulsos electromagnéticos emitidos por estrelas em colapso que produzem um sinal tão breve quanto estável, visual e auditivo.

Jesus Alberto Benitez (VE, n. 1978) cursou o bacharelato em Artes na École Supérieure d’Arts de Rueil-Malmaison (2005) e concluiu com distinção o mestrado em Belas-Artes na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Lyon (2007). Em 2010 foi residente no estúdio de pós-produção do Centre Photographique d’Ile-de-France, Pontault- Combault, França. Protagonizou as exposições individuais Time is the tiger (2013) no Centre d'Arts Plastiques, Saint-Fons, França; The center is not a point (2012) na Galeria Frank Elbaz, Paris; e Paper on the desk (2007) no Le Bleu du Ciel - Le Bureau, Lyon, França. Das exposições colectivas que contaram com a sua participação, destacam-se Most of the time (2013), comissariada por Martial Delfacieux, La Tôlerie, Clermont-Ferrand, França; The Prairies (2012), Les Ateliers de Rennes/Bienal de Arte Contemporânea, comissariada por Anne Bonnin, Rennes, França; Codex (2011), comissariada por Pierre Leguillon, LiveInYourHead, Genebra; Jeune Création (2011), Le 104, Paris; Sommerrundgang (2010), Kunstakademie, Düsseldorf; Identities - Lyon Photography September (2008), Maison de la Danse, Lyon, França; a Bienal Internacional de Fotografia (2006) no Museu Alejandro Otero, Caracas, Venezuela; e Bredi-Breda (2005), Le Plateau, Paris. A exposição Pulsar é a sua primeira individual na Galeria Caroline Pagès e em Portugal.

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