Controversa, assim é a sua obra e assim é Joana Vasconcelos. Mundialmente conhecida por peças emblemáticas, como a Noiva (candelabro feito com tampões higiénicos femininos OB), Marilyn (par de sapatos de salto alto gigantes feitos de tachos de alumínio) e muitas outras, nem todos conhecem as suas origens ou o seu método de trabalho.

Nascida em 1971, em Paris, Joana Vasconcelos mudou-se para Portugal com os pais, no fim da ditadura portuguesa. Cresceu, então, com o peso de pertencer à primeira geração portuguesa a crescer em liberdade, o que, segundo a artista, acarretava a pressão da competitividade e do “fazer como se fazia lá fora”.

Não sendo uma aluna brilhante, nem tendo uma inclinação clara para nenhuma área em concreto, Joana sente que teve mais liberdade para explorar e experimentar, tendo-se encontrado nas artes plásticas. O seu percurso enquanto artista plástica, foi sendo construído um pouco contra essa ideia de que o que vem de fora é melhor e de que é assim que devemos fazer. Joana procura, em todas as suas peças, a identidade nacional, porque, diz ela, o que se faz lá fora, já está feito, por isso, temos de fazer é como se faz aqui, porque isso sim, é único.

Assim, a artista procura inspiração em peças tradicionais portuguesas, objetos comuns que tinham lugar nas casas portuguesas até há muito pouco tempo, e que foram sendo rejeitados. Não por estarem estragados, mas porque não correspondiam ao ideal de modernidade e de consumismo que os portugueses perseguem atualmente. Joana revolta-se, de certa forma, com esta procura da modernidade, que parece levar todos os portugueses ao IKEA, afirmando que o IKEA promove a banalidade, ao invés da identidade. Identidade essa que encontra nos panos de croché, nos tachos de alumínio, nos cães de louça e em muitos outros objetos. É com eles que idealiza e constrói, com o auxílio de uma equipa, as peças que a tornaram famosa nacional e internacionalmente e com que participou em exposições no Palácio de Versalhes, no Palácio Nacional da Ajuda, na Bienal de Veneza, entre outras.

Conhecida pelas peças gigantes e espalhafatosas, a artista afirma que não começa por definir a escala da peça, mas sim por definir com que objetos quer trabalhar, sendo estes a ditar a escala. No caso de Marilyn, por exemplo, a obra começou pela escolha do tacho número 6, por ser o tacho mais comum, aquele em que usualmente se fazia o arroz em casa, e foi ele que definiu a escala do sapato. Com esta e outras obras, Joana Vasconcelos procura questionar o papel da mulher na sociedade, o lado público, do sapato elegante de salto alto, e o lado privado, dos tachos e panelas. Procura igualmente metamorfosear os objetos com que trabalha, conferindo-lhes uma nova modernidade, uma nova vida. E, acima de tudo, procura afastar as suas peças da categoria de bibelôs. Cria peças controversas, que desafiam o senso comum e que dão que falar.

Amada por uns e odiada por outros, as suas obras provocam o diálogo, têm impacto nas pessoas, o que as transforma em arte e não em bibelôs.

Para mais informações: Joana Vasconcelos