Erika é mulher preta, lésbica, mãe solo e profissional das ciências humanas. Aos 32 anos, construiu uma trajetória marcada por escolhas que refletem consciência política, sensibilidade social e compromisso com a transformação coletiva. Iniciou em Serviço Social, atua com escuta ativa e olhar crítico sobre as estruturas que sustentam desigualdades históricas. Sua prática é atravessada por experiências reais, por vivências que não cabem em teorias rasas, e por uma ética que valoriza o cuidado, a escuta e o enfrentamento.
Atualmente cursando Direito, mergulha nas contradições entre o campo jurídico e o campo social, reconhecendo que o Direito pode ser tanto ponte quanto barreira. Seu interesse pela área surgiu da necessidade de compreender como as leis operam na vida das pessoas — especialmente daquelas que vivem à margem. Para ela, o saber jurídico precisa ser desmistificado, acessível e comprometido com a justiça que ultrapassa os limites da norma. Essa intersecção entre o social e o jurídico é onde sua atuação se fortalece: entre o que é dito e o que é vivido.
Além das graduações, sua formação inclui estudos em psicanálise, história das relações étnico-raciais, políticas públicas, direitos humanos, gênero e sexualidade. A interseccionalidade não é apenas uma teoria que orienta sua escrita — é prática cotidiana, é lente de leitura do mundo. Erika se aprofunda em temas como infância e juventude, população LGBTQIAPN+, relações raciais e ambientais, sempre com o compromisso de compreender os atravessamentos que moldam a vida em contextos de vulnerabilidade.
É integrante da ABRAMD — Associação Brasileira Multidisciplinar de Drogas — onde participa de estudos sobre o uso desordenado de substâncias psicoativas. Sua abordagem é crítica, não punitivista, e parte da compreensão de que o uso de drogas está profundamente ligado a questões sociais, afetivas e econômicas. Erika defende políticas públicas que respeitem a dignidade dos sujeitos e que rompam com os estigmas que historicamente criminalizam corpos periféricos.
Sua militância é antiga e plural. Já esteve em manifestações contra governos autoritários, em ações ambientais e em rodas de conversa sobre direitos humanos. Acredita que a transformação começa no cotidiano, nas trocas sinceras, nos afetos construídos com respeito. Valoriza o contato com outras culturas, outras vozes e outras formas de ver o mundo. Sua escuta é generosa, sua presença é política, e sua escrita é extensão dessa escuta.
A arte também é parte essencial de sua jornada. Apaixonada pelas músicas de Liniker, movida pelo rap nacional especialmente Bia Ferreira e embalada pelas vibrações da banda Maneva, encontra na música um espaço de equilíbrio e elaboração. A terapia vem em forma de verso, de melodia, de batida. É nesse território afetivo que recarrega forças para seguir lutando, estudando, escrevendo. A arte, para ela, é resistência e refúgio.
Mas não é só a música que a toca — a arte também se expressa nesse corpo. Com mais de 20 tatuagens que contam histórias, revelam afetos e manifestam ideias. Letras do Teatro Mágico e da Legião Urbana, uma moça em meditação, um útero que simboliza o feminismo, fases da lua, máscaras do teatro — tragédia e comédia. Cada traço é memória, manifesto e identidade. Esse corpo fala antes mesmo que ela diga qualquer palavra. Ele é extensão de uma luta, de uma sensibilidade e de uma presença no mundo. Nesta revista, inaugura um novo capítulo: o da palavra compartilhada. Seus textos serão espaços de denúncia, de afeto, de reflexão e de resistência. A abordagem é crítica, mas nunca distante; firme, mas sempre acolhedora. Cada palavra será escolhida com cuidado, cada tema tratado com profundidade. Escreve para construir pontes entre saberes, provocar reflexões e abrir caminhos para que outras vozes também possam ser ouvidas.
Sua presença aqui é convite à escuta, à troca e à construção coletiva de sentidos. Porque, como costuma dizer, “a mudança começa quando a gente se permite olhar de verdade”. E é com esse olhar que ela chega: inteira, atenta, generosa.
