Lucas Frade
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Lucas Frade

Apaixonado por moda desde muito cedo, venho traçando meu caminho por esse universo há mais de uma década. O Brasil é meu berço, e dele absorvo todas as riquezas que dão vida ao meu trabalho — a mistura de cores, sons, texturas, expressões e histórias que formam o DNA de um povo plural. Crescer em meio a tanta diversidade me ensinou que a moda vai muito além da roupa: é um reflexo da sociedade, um espelho da identidade coletiva e um instrumento de transformação individual. Sempre acreditei que vestir-se é uma forma de arte, um gesto silencioso capaz de dizer muito sobre quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir.

Com o tempo, percebi que minha curiosidade pela moda era, na verdade, uma curiosidade pela alma humana. Cada peça de roupa carrega intenções, significados e contextos culturais profundos. Por isso, uma das minhas maiores paixões sempre foi mergulhar em diferentes culturas e aprender com suas formas de expressão. Foi assim que nasceu meu fascínio pela Ásia — especialmente pela cultura japonesa, cuja relação com a moda e a estética é tão singular quanto poética. Tenho um carinho especial pelas vestimentas tradicionais japonesas, como o quimono, o hakama e o yukata. Cada dobra, cada tecido e cada amarração parecem carregar séculos de sabedoria e filosofia. Estudar essas peças é como estudar a própria alma de um povo: um encontro entre o respeito à tradição e a constante reinvenção que caracteriza o Japão contemporâneo.

Mergulhar nesse universo foi um dos passos mais inspiradores da minha trajetória. É fascinante observar como os trajes milenares japoneses se conectam com o presente, dialogando com a moda moderna e as expressões urbanas. O equilíbrio entre o minimalismo e a complexidade, entre o silêncio e o impacto, é algo que me inspira profundamente. A moda japonesa me ensinou que a beleza pode estar tanto no excesso quanto na ausência, tanto na ousadia quanto na sutileza. Essa dualidade é algo que busco refletir nas minhas criações: peças que unem o instinto e o intelecto, o antigo e o novo, o local e o global.

Falando em Japão, seria impossível não mencionar outro amor que pulsa dentro de mim: a cultura pop japonesa, especialmente os mangás e os animes. Desde criança, fui atraído pelas narrativas intensas, pelos personagens complexos e pelo universo visual vibrante dessas histórias. O que sempre me encantou foi o modo como o storytelling japonês consegue abordar temas profundos — solidão, amor, identidade, transformação — de uma maneira estética e simbólica. De certa forma, essa sensibilidade acabou se tornando parte da minha linguagem criativa. Em muitas das minhas coleções, há traços desse universo: o contraste entre luz e sombra, o drama das formas, a emoção contida nas cores. Os animes me ensinaram que cada detalhe pode ter significado, e que a beleza, assim como a moda, nasce do olhar atento.

Além das referências estéticas, existe em mim uma forte necessidade de propósito. Sou um ativista dedicado do movimento LGBTQIA+, e acredito que a moda tem um papel social muito mais profundo do que o simples ato de se vestir. Para mim, ela é um território de liberdade — um espaço onde o corpo se torna uma tela e a roupa, uma declaração de existência. O modo como escolhemos nos apresentar ao mundo é, muitas vezes, um ato político. Acredito que todos devem se sentir confortáveis em sua própria pele, sem medo de julgamento ou exclusão. Luto para que a moda seja inclusiva, acolhedora e sem preconceitos. Uma moda com alma, com verdade, com propósito. Porque vestir-se também é um ato de resistência e celebração. Outro aspecto essencial na minha vida é o desejo constante de aprender. Tenho uma curiosidade quase insaciável por novos conhecimentos, e isso se manifesta principalmente no estudo de línguas e culturas. Aprender um novo idioma, para mim, é como abrir uma nova janela para o mundo — é compreender outras formas de pensar, sentir e expressar. Essa busca constante por aprendizado me mantém em movimento, com os pés no presente e a mente sempre voltada para o futuro. E essa inquietude também se reflete no meu processo criativo. A cada nova descoberta, novas ideias surgem, novas conexões se formam. A moda, afinal, é feita de referências — e quanto mais o olhar é alimentado, mais ele se torna capaz de criar algo autêntico.

Entre as corridas do dia a dia, reservo sempre um tempo para ler. A leitura é meu refúgio e, ao mesmo tempo, meu combustível. Informar-me, explorar novas ideias e mergulhar em outros universos através dos livros é uma forma de expandir não apenas o vocabulário, mas também a imaginação. Ler é um exercício de empatia, de escuta e de silêncio criativo. É o que me permite construir narrativas mais ricas, tanto nas palavras quanto nas roupas. Acredito que a mente, assim como o corpo, precisa ser constantemente exercitada — e a leitura é a academia da alma.

Falando em criatividade, é impossível não reconhecer o quanto ela permeia minha vida de maneira absoluta. Por um lado, é uma bênção: as ideias surgem como um turbilhão, uma enxurrada de imagens, sons e sensações que se misturam dentro de mim. Por outro, é um desafio. A mente criativa é inquieta, às vezes caótica. É uma batalha constante entre criar e organizar, entre sonhar e realizar. Aprendi, com o tempo, que esse caos é parte essencial do processo. A beleza está justamente nessa imperfeição, nesse movimento constante entre ordem e desordem. É ele que dá vida ao meu trabalho, que faz cada projeto ter uma energia única e intransferível.

E por fim, há algo que sempre esteve ali, me observando em silêncio: a escrita. Escrever sempre foi uma paixão tímida, quase secreta. Por muito tempo, o medo de não ser bom o suficiente me fez adiar esse encontro. Mas percebo agora que a escrita, assim como a moda, é uma forma de expressão inevitável. Ambas contam histórias, provocam emoções e nos fazem enxergar o mundo de maneira diferente. Decidi, então, acolher essa nova fase — deixar as palavras fluírem, mesmo que imperfeitas. Talvez escrever seja apenas mais uma maneira de continuar costurando o mundo à minha volta. Afinal, tanto as roupas quanto as palavras têm o poder de transformar, libertar e, acima de tudo, revelar quem realmente somos.

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