As ilhas britânicas forneceram uma grande contribuição ao palco, dificilmente a arte teatral seria a mesma sem os dramaturgos da nação. O teatro tem uma longa e densa história dentro do país. Os primeiros teatros foram construídos na Inglaterra pelos romanos, eram auditórios nos mesmos moldes do resto da Europa.
Depois que os romanos abandonaram a ilha, o teatro inglês foi constituído principalmente por peças de pantomimas nas ruas realizadas no meio do povo, as histórias eram peças folclóricas com atores amadores e masculinos (atrizes demoraram a serem aceitas) que eram levadas para ser encenada em pubs ou nas casas do público. Os atores viajavam entre diferentes regiões para levar o show em troca de dinheiro e comida.
Muitas vezes essas peças continham batalhas entre duas figuras com o personagem perdedor morrendo e sendo revivido em seguida. Muitas dessas peças lidavam com temas populares como dragões ou Robin Hood. Durante a metade da idade média o teatro inglês começou evoluir graças a igreja católica. Os religiosos incentivaram a encenação de peças dos “ciclos de mistério” trazendo adaptações de histórias bíblicas ou de peças de milagres baseados nas histórias de santos. Diferente dos textos acadêmicos escritos em latim, as peças eram realizadas na língua falada para serem acessíveis ao grande público para educá-las sobre o cristianismo.
Ao invés de palcos essas histórias eram realizadas em carroças que percorriam as cidades e paravam em pontos específicos para serem encenadas. Entre essas obras eram comuns as chamadas “peças de moralidade”, gênero popular no final da idade média, nessas obras conceito como virtudes e vícios são personagens que juntos a anjos e demônios tentam se comunicar com um ser humano sem personalidade influenciando suas ações. Encarnando o conceito cristão do homem tendo que escolher entre o bem e o mal.
A Reforma protestante no começo da era moderna alterou profundamente a dinâmica do teatro, os tradicionais dramas religiosos foram suprimidos e no lugar surgiram os teatros tutelados pela nobreza. Companhias de teatros brigavam por licenças que permitiriam que se apresentassem em público desde que um nobre lhes financiasse. Essas obras costumavam ter ainda contornos morais para agradar seus patrocinadores. Vários teatros foram sendo construídos durante o século 16, a maior parte deles circular para que o público ficasse em pé ao redor do palco assistindo os atores.
Devido a crescente demanda por peças, novos escritores eram continuamente recrutados. Dentre essas peças um gênero popular era a tragédia de vingança que trazia o protagonista buscando retaliação contra ofensas do passado, tal estilo evoluiu das tragédias romanas antigas, estas eram peças sóbrias contendo fantasmas, assassinatos, loucura e até mesmo canibalismo. Entre esses escritores estava alguém que ia marcar sua arte para sempre. Após assistir uma peça sobre o rei guerreiro oriental Tamerlão cheia de violência e mortes, ele decidiu criar suas próprias peças brutais mas humanas, era William Shakespeare. Entre suas obras de vinganças está o clássico máximo “Hamlet”.
Durante esse período a influência dos artistas franceses e dos italianos era muito grande entre os ingleses, entre os artistas desta geração se destaca o poeta Ben Jonson que desenvolveu a chamada “comédia de costumes” que trazia situações realistas com humor satírico. Por causa da influência estrangeira os ingleses apreciavam muito um estilo chamado Mascarada que trazia um estilo festivo cheio de música, canto, dança e cenografia. Sendo relativamente caras e elaboradas.
Após a queda da dinastia Stuart e a ascensão de Oliver Cromwell, o ditador ordenou o fechamento de todos os teatros, bem como todas as outras diversões na nação. Apenas com o fim de seu governo o entretenimento voltou. O Rei Carlos II era um hedonista que havia passado grande parte do período em que esteve exilado se divertindo assistindo peças. Por isso, após seu retorno decidiu não apenas reabrir os teatros como também incentivá-los. O rei foi um grande mecenas da arte dramática e ao mesmo tempo reduzindo a censura.
O período da restauração foi de grande importância para os palcos, várias mudanças aconteceram, com a suspensão da censura a arte pode abordar temas controversos, grande partes das histórias é não apenas amorais, mas mesmo imorais com o errado abertamente triunfando no final. O gênero favorito eram as “comédias da restauração” que abordavam temas como casamentos, adultério e moralidade sexual. As comédias da restauração eram impregnadas da ideologia da época. Com a aristocracia voltando ao poder após o fim da revolução, as peças geralmente mostravam nobres galanteadores seduzindo as esposas dos burgueses.
Os aristocratas usavam o teatro para debochar de seus velhos inimigos. Linguagem chula e de baixo calão eram incentivadas pelo próprio rei. Durante o período da restauração, os atores conseguiram uma grande ascensão social. Antes desta época, artistas eram de modo geral figuras marginalizadas pela sociedade. Entretanto, durante esse momento pela primeira vez alguns deles começaram a desfrutar do status de grandes celebridades dentro da cultura popular, tradição que persiste até os dias de hoje nas imagens das grandes estrelas de cinema.
Antes da era da restauração, mulheres dificilmente trabalhavam como atrizes, os papéis femininos eram interpretados por homens usando disfarces. Agora com a mudança da mentalidade, finalmente algumas puderam brilhar nos palcos e ter grande sucesso. Entre elas estava a atriz Nell Gwynn que tinha a distinção de ser amante do próprio rei Carlos II. Uma figura comum na época eram as atrizes em roupas masculinas, interpretando uma personagem fingindo ser homem para poder desfrutar da liberdade sexual.
Depois da revolução gloriosa as comédias tiveram uma pequena revivida, mas devido a rejeição do rei William e sua mulher pelo teatro o apelo delas diminuiu. O público estava se tornando cada vez mais moralistas e não apreciava mais as comédias sujas da geração anterior. Mesmo as comédias que ainda eram lançadas tinham um tom mais sutil e comportado do que as do período anterior. Até o reinado de Carlos II, o sucesso de uma peça dependia do patrocínio real, mas quando William demonstrou não ter interesse em proteger o teatro, os produtores tiveram que buscar o retorno financeiro através do apelo com o público. Por isso o foco do teatro mudou da vida da elite para o cotidiano do povo.
Durante o chamado “período georgiano” (durante o reinado de vários reis chamados Jorge), imperou o chamado “drama augustano” (Jorge I gostava de se chamar de Augusto). As peças começaram a se concentrar no melodrama, e o foco das histórias mudou da nobreza para a burguesia. Surgiram as chamadas “tragédias burguesas” , gênero que se dispersava por toda a Europa.
Diferente das histórias antigas que tratavam de homens de distinção social, as figuras eram cidadãos comuns de classe média e o texto enfatizava sua vida familiar e seus problemas pessoais. A primeira peça do estilo foi “The London Merchant” do dramaturgo George Lillo. Infelizmente os artistas enfrentaram dificuldades, pois o parlamento começou a temer que a liberdade artística fosse usada para criticar o governo, o que fez com que estabelecessem “Licensing Act” que permitia às autoridades censurar o teatro.
Apesar do gosto das plateias por temas da vida cotidiana, também havia interesse por peças grandiosas como figurinos elaborados, cenários bem construídos e belas mulheres em cena. Essas eram as peças de espetáculos que tinham um espaço nos palcos similar ao que os modernos blockbusters tem no cinema. Peças chamativas e caras foram sendo produzidas, muitas vezes tais espetáculos quase nem possuíam textos dramáticos reais, sendo apenas shows de efeitos especiais, contendo dragões, tempestades e grandes batalhas, o que claro era muito chamativo.
O desespero para atrair as plateias era tanto que alguns produtores chegaram até mesmo a incluir elefantes reais nos espetáculos. Os dois principais responsáveis pelo gênero do espetáculo durante o período georgiano foram John Rich e Colley Cibber, ambos eram artistas-empresários que apesar de saberem criar obras de arte focaram mais no retorno financeiro. Hoje em dia os espetáculos não são mais encenados tendo sido esquecidos pelo tempo.
Durante o governo da rainha Vitória, o mais longo da história inglesa, o teatro floresceu, pois as camadas mais baixas da sociedade puderam frequentar os estabelecimentos com mais frequência. O aumento no público causou também a abertura de mais teatros para atendê-los, tanto nas grandes cidades como no interior. Entre os principais dramaturgos do período vitoriano estava o mordaz Oscar Wilde sempre pronto para criticar a cultura inglesa, George Bernard Shaw foi outro autor prolífico da época, criando mais de 60 peças.
Devido aos rígidos códigos morais do período vitoriano várias peças clássicas, mesmo obras de Shakespeare tiveram que ser alteradas para diminuir elementos considerados imorais. Apesar desta barreira cultural, não houve como impedir o acesso das camadas populares a obras mais apelativas. O teatro Grand Guignol, especializado em peças de horror e violência, acabou adentrando a Inglaterra no começo do novo século 20, vindo de seu berço em Paris.
Durante o novo século o teatro começou a perder relevância sendo substituído pelo cinema no imaginário da maior parte da população. Ainda assim a arte dos palcos não perdeu seu valor, muitas peças continuaram sendo criadas além de muitas adaptações dos palcos para as telas do cinema. Os grandes dramaturgos, diretores e atores deixaram sua marca no entretenimento que sobrevive até hoje.