Todo sonhador sabe que é inteiramente possível sentir saudades de um lugar em que nunca esteve, talvez mais saudades do que ter um lugar conhecido
(Judith Thurman)
De mala e cuia, com ou sem destino, eu só sei que eu vou… A única coisa que importa é estar bem; comigo, consigo, com todos. É bem sabido que a grande maioria das pessoas acha insuportável o simples fato de fazer ou desfazer as malas, para alguns elas são essenciais, a depender do tempo, do destino e afins; para outros nem tanto, para mim por exemplo, sou a minha mochila e só.
Porém o curioso é que alguns amam viajar, enquanto outros se pudessem nem sairiam de casa. Descobertas recentes indicam que o desejo constante por viagens, pode estar cravado dentro de nós, é isso mesmo, trata-se de uma predisposição genética. E o autor desse empurrãozinho para sairmos do lugar é o famoso gene DRD4-7D, sim ele mesmo. Desde os primórdios sempre soubemos que alguns estão mais dispostos a viajar do que outros, mas se tem algo que fica extremamente claro para mim, é que nós não fomos feitos para estar parados nem mesmo quando achamos que estamos. Nós estamos sempre nos movendo, pelas mais diferentes razões.
Eu sempre me perguntei por qual razão eu viajo desde os oito anos de idade, enquanto muitos colegas com mesmo nível sócio econômico, as vezes até superior, preferem encher a pança de Brebotes sentados em frente a tv assistindo séries, futebol, novelas ou coisas do tipo; enquanto a vida de verdade corre lá fora. Houve um tempo em que eu cheguei a fazer quatro viagens em um espaço de doze meses, por quê? Vou perguntar aos genes … Talvez os colegas que preferem ficar em casa não passaram pela mesma impressora que eu, ou até mesmo a condição de preferir o conforto do próprio lar também possa ser respondida pelos famosos genes, eu não sei, só sei que eu viajo.
Para mim sempre ficou muito claro que ir e vir sem cessar é parte imutável da nossa espécie, em todos os sentidos. Questões importantes como, de onde viemos ou para onde vamos, só são respondidas com o primeiro passo, então que assim seja, passo a passo…
Voltando ao básico; o sujeito olha uma página e escolhe o roteiro, os dias, o hotel, os pontos turísticos, faz as malas e embarca. Uns preferem natureza, outros metrópoles, já outros querem praia, e ainda há aqueles que só vão para fazer uma dezena de fotos para deixar para a posteridade e nem sequer fazem uma imersão na cultura local, cada um com o seu gene … Também tem aqueles que somam, e aqueles que apenas subtraem, mas sempre vêm e vão.
Toda viagem é um encontro consigo mesmo, seja numa famosa avenida no velho continente ou numa praia paradisíaca e tropical; não importa, nós apenas vamos, seja sozinho ou em bando, a verdadeira companhia é você, e só você. Mas por falar em viagens e destinos tão ímpares, lembrei-me da primeira vez que fui a praia da Pipa, ela fica no estado do Rio Grande Do Norte, no nordeste brasileiro, e assim como tantas outras viagens que eu fiz em minha vida, nessa eu também fui “sozinho", mas uma coisa eu garanto; é de cair o queixo.
Pipa é um daqueles destinos que ficam para sempre em nossas mentes, com suas ruas estreitas e de casario colorido, o local é cercado por uma natureza exuberante e por um clima de verão o ano inteiro, com praias de água quente e povo idem, Pipa vai te pegar pelo braço e você não vai querer que te solte nunca mais. É impossível não se encantar com locais como a praia do amor, as falésias, a fantástica e agitada vida noturna, isto sem falar da maravilhosa gastronomia local.
Eu como curioso que sou, me hospedei na Rua do Céu, pensei que lá eu estaria mais perto de tudo e de todos, algo que comprovei estar correto, foram cinco dias naquela viela em que eu praticamente me desliguei, e só tinha olhos para aquelas paredes brancas, o vai e vem dos transeuntes, o aroma dos temperos pelo ar, e o barulho dos copos nos grandes encontros; não lembrei do concreto dos grandes centros, nem da poluição, tampouco da agitação da sociedade, eu vi que viajar é resposta, e o destino é onde eu quiser que seja…
Por tanto caro leitor, vou lhe propor um trato. Que tal se de hoje em diante você desse mais ouvidos aos gritos incessantes dos seu ser? Mesmo que te digam para estar sossegados em casa, mas se for em companhia de uma boa leitura também vale a pena, até porque quem lê viaja; agora, se você quiser pegar uma mochila e sair por aí, vá, quem sabe não nos encontramos e tomamos um bom café enquanto partilhamos nossas experiências de viagens.
Até a próxima!