A Lourinhã, situada na região Oeste de Portugal, é uma vila pitoresca marcada por história, ligações à terra e ao mar e por um património cultural e científico notável.
Embora seja conhecida pelas suas praias e pelas descobertas paleontológicas que a tornaram a "Capital dos Dinossauros" em Portugal, a sua importância histórica remonta a séculos antes, atravessando períodos de ocupação romana, medieval e de resistência nas invasões francesas.
Mais do que um destino turístico, a Lourinhã representa um testemunho vivo da evolução histórica do território português, desde os primórdios da civilização até ao presente.
Origens e a ocupação romana
A presença humana na Lourinhã remonta a tempos pré-históricos, como demonstram vestígios arqueológicos encontrados na região. No entanto, foi durante o período romano que a ocupação se tornou mais estruturada. O nome da vila tem provável origem no latim Laurinianus, que fazia referência a uma propriedade agrícola pertencente a um romano.
A ocupação romana na Península Ibérica, que começou no século II a.C., teve grande impacto na organização territorial da região. Foram introduzidas novas técnicas agrícolas e infraestruturas, como estradas e pontes, algumas das quais podem ter deixado marcas na Lourinhã. Os solos férteis e a proximidade ao mar tornaram a vila num ponto estratégico para o comércio e para a produção agrícola.
Após a queda do Império Romano, a região passou por um período de instabilidade devido às invasões dos povos bárbaros, nomeadamente os Visigodos. Estes grupos mantiveram parte da estrutura administrativa romana, mas introduziram novas formas de organização política e social.
A reconquista cristã e a fundação da Lourinhã
No século VIII, a Península Ibérica foi invadida pelos mouros, que governaram a região durante vários séculos. A presença muçulmana deixou vestígios na cultura e na organização territorial, embora o domínio islâmico na zona Oeste tenha sido menos expressivo do que em outras partes do país.
A viragem deu-se no século XII, com a expansão da Reconquista Cristã. Em 1147, D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, conquistou Lisboa com o apoio de cruzados franceses e flamengos que seguiam para a Terra Santa. Após essa vitória, o rei começou a distribuir terras pelos nobres e cavaleiros que o ajudaram na luta contra os mouros.
Foi nesse contexto que a Lourinhã foi doada a D. Jordão, um cruzado francês que participou na conquista de Lisboa. D. Jordão recebeu estas terras como recompensa, tornando-se o responsável pelo seu desenvolvimento e povoamento. Este período foi fundamental para a estruturação da vila, que começou a ganhar importância económica e social.
Ao longo dos séculos seguintes, a Lourinhã consolidou-se como um centro agrícola e piscatório, beneficiando da sua localização estratégica entre o litoral e o interior do território.
A expansão marítima e a Lourinhã nos séculos XV e XVI
Os séculos XV e XVI foram marcados pelos Descobrimentos Portugueses, um período de grande transformação para o país. Durante este tempo, Portugal estabeleceu rotas comerciais pelo mundo e expandiu os seus domínios ultramarinos.
A localização da Lourinhã na costa oeste de Portugal permitiu que muitos dos seus habitantes participassem nas atividades marítimas. Pescadores da vila contribuíram para a exploração atlântica, e alguns navios passaram pela região em direção a expedições mais longínquas. Além disso, a proximidade a Lisboa fez com que a vila fosse influenciada pela crescente riqueza do império português.
A igreja de Santa Maria do Castelo, construída no século XIV e ampliada nos séculos seguintes, tornou-se um símbolo da prosperidade deste período. O gótico português, influenciado pelas novas correntes arquitetónicas da época, reflete-se na construção deste templo, que ainda hoje se mantém como um dos marcos históricos da Lourinhã.
As guerras peninsulares e a Batalha do Vimeiro
No início do século XIX, Portugal enfrentou um dos momentos mais críticos da sua história com as invasões francesas. A Lourinhã teve um papel estratégico durante a Primeira Invasão Francesa, em 1808, quando as tropas napoleónicas avançaram pela região Oeste.
A proximidade da vila ao campo de batalha do Vimeiro, onde se travou um dos combates decisivos contra os franceses, fez com que a Lourinhã testemunhasse movimentações militares intensas. O exército anglo-luso, liderado pelo general Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington), derrotou os franceses, marcando um ponto de viragem na resistência portuguesa contra Napoleão.
Após a vitória, o Tratado de Sintra foi assinado, determinando a retirada das tropas francesas de Portugal. Esta batalha histórica consolidou a importância estratégica da Lourinhã e das suas terras vizinhas durante este período conturbado.
Século XX: desenvolvimento e modernização
Durante o século XX, a Lourinhã passou por transformações significativas. A agricultura, que sempre foi uma das principais atividades económicas da região, modernizou-se com a introdução de novas técnicas e maquinaria. A produção de vinho e aguardente ganhou notoriedade, sendo que a Aguardente DOC Lourinhã se tornou uma das três únicas aguardentes no mundo com Denominação de Origem Controlada (DOC), ao lado do Cognac e Armagnac, em França.
A vila também começou a afirmar-se como destino turístico, especialmente devido às suas praias e ao crescente interesse pela paleontologia. O descobrimento de fósseis de dinossauros colocou a Lourinhã no mapa científico internacional, tornando-se um dos locais mais importantes para o estudo do Jurássico Superior.
A Lourinhã hoje: entre a tradição e a ciência
Atualmente, a Lourinhã é uma vila que mantém a sua identidade rural e histórica enquanto aposta na modernização e no turismo sustentável. A valorização do seu património histórico, das tradições locais e das descobertas paleontológicas tem sido fundamental para o seu desenvolvimento.
O Dinoparque da Lourinhã, inaugurado em 2018, consolidou a vila como um centro de referência para o estudo dos dinossauros, atraindo visitantes e investigadores de todo o mundo. Além disso, a gastronomia, com destaque para a aguardente DOC Lourinhã e os produtos do mar, continua a ser um dos pilares da cultura local.
Ao longo da sua história, a Lourinhã passou por várias fases de crescimento, desafios e conquistas. Desde os tempos romanos até à modernidade, a vila preserva hoje um passado rico, que se reflete no seu presente em expansão. Seja através das suas tradições, do seu património ou das suas contribuições para a ciência, a Lourinhã continua a ser uma das localidades mais fascinantes da região Oeste de Portugal.