Na trajetória da história humana, a busca incessante pelo conhecimento e progresso científico moldou a sociedade de maneiras inimagináveis. A era contemporânea, marcada por uma superprodução sem precedentes, testemunha os avanços exponenciais da tecnologia e da ciência. Porém, nos cabe a reflexão de nos questionar se esses avanços realmente tornaram o ser humano melhor.

A revolução elétrica, que teve início no final do século XIX, trouxe consigo uma transformação radical na forma como vivemos. A luz elétrica rompeu as barreiras da escuridão, proporcionando não apenas segurança, mas também possibilitando atividades noturnas. Com a expansão da iluminação artificial, a sociedade experimentou um aumento na eficiência e na produtividade, porém também desencadeou uma remodelação do seu sistema sono-vigília. Atualmente, de acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz, 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia.

A internet, nascida no século XX, conectou o globo de maneiras inacreditáveis. A comunicação instantânea derrubou fronteiras, permitindo a rápida troca de informações. A evolução humana, consequentemente, testemunhou aumentos na longevidade e na população, marcando uma era de prosperidade e interconexão global. No entanto, esse caminho de superprodução não é isento de desafios e dilemas éticos. A mesma internet que conecta as pessoas também serve como veículo para a propagação de conteúdo tóxico. Redes sociais como Facebook, Discord, WhatsApp e Telegram, inicialmente concebidas para aproximar as pessoas, hoje muitas vezes se tornam palco para a disseminação de fake news, polarização política e segregação racial.

Os avanços tecnológicos também se manifestam em outros aspectos da vida cotidiana, nem sempre de maneira positiva. O aumento alarmante de acidentes de carro, muitos relacionados ao uso de dispositivos eletrônicos durante a condução, levanta questionamentos sobre a responsabilidade do progresso tecnológico na segurança pública. De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o número de mortes relacionadas à ausência de reação ou reação tardia do condutor, no comparativo entre 2021 e 2022, aumentou 22%; na mesma base de comparação, o registro de feridos cresceu mais de 28%. E esta reação tardia pode ser provocada por desatenção relacionada a distrações com dispositivos eletrônicos.

A conexão intrínseca entre ciência, tecnologia e os aspectos negativos da sociedade contemporânea é evidente na história recente. A Guerra Fria, marcada pela corrida armamentista e pela ameaça constante da bomba atômica, exemplifica como o avanço científico pode ser utilizado para fins destrutivos. A ciência, por si só, não é boa nem má; é a aplicação que determina seu impacto na humanidade.

A era da superprodução levanta a questão crucial: o homem é o lobo do homem? A resposta não é simples, pois está enraizada na dualidade inerente à natureza humana. A tecnologia e a ciência proporcionaram inúmeros benefícios, mas também abriram portas para desafios e dilemas éticos. Cabe à sociedade, em sua busca por progresso, encontrar um equilíbrio que promova o bem-estar coletivo, minimizando os malefícios que podem surgir da superprodução desenfreada.

Em última análise, a avaliação do impacto humano na era da superprodução não pode ser unilateral. Devemos reconhecer e enfrentar os desafios, buscando soluções que permitam a coexistência harmoniosa entre avanço tecnológico e bem-estar humano. A jornada rumo ao futuro exige não apenas inovação, mas também uma reflexão constante sobre os valores que queremos preservar em meio à torrente de progresso que nos cerca.

Neste palco complexo da dicotomia humana, onde o progresso e a confusão social dançam em um delicado equilíbrio, cabe à humanidade, com sua capacidade única de escolha, traçar os próximos passos. Entre as estrelas da descoberta e os abismos da desordem social, a dicotomia persiste, desafiando-nos a compreender que o progresso, muitas vezes, é um fio de esperança emaranhado nas complexidades da condição humana.