Às sete da manhã, Janis Andrade, atendente do Grupo Jaime Câmara, já sabe que seu celular será o primeiro colega de trabalho a dar “bom dia”. Antes mesmo de chegar à empresa, a Inteligência Artificial (IA) já filtrou as dezenas de mensagens enviadas pelos clientes durante a madrugada, agrupando assuntos semelhantes e até sugerindo respostas automáticas. “Ajuda a filtrar mensagens com mesmos assuntos, assim facilitando no atendimento e nas respostas”, conta.
Para Janis, que lida com um grande volume de contatos diariamente, a tecnologia é uma aliada essencial, mas não definitiva. “A personalização da IA melhora muito a experiência, porque torna o atendimento mais rápido e assertivo. Mas ainda falta o toque humano, que é essencial para criar vínculo e transmitir empatia. O ideal é equilibrar os dois.”
Esse equilíbrio é justamente um dos grandes debates quando o assunto é Inteligência Artificial: como aproveitar a eficiência das máquinas sem abrir mão da sensibilidade humana que constrói relacionamentos e toma decisões?
Escritórios de advocacia e algoritmos
A pergunta também ecoa em áreas que, à primeira vista, parecem distantes do universo tecnológico, como o Direito. Geovanna Reges, advogada, já sente na prática as mudanças que a IA trouxe “Ajuda de uma forma que não precisamos, por exemplo, contratar um estagiário. Muitas tarefas burocráticas que antes eram feitas manualmente agora podem ser automatizadas, o que libera tempo para nos concentrarmos em atividades mais estratégicas”, relata.
Quando questionada se a IA pode acelerar processos sem comprometer a análise crítica e a interpretação das leis, Geovanna é direta: “Sim. A tecnologia pode ser uma aliada importante, desde que usada com responsabilidade. O que não pode acontecer é deixar que uma máquina substitua a análise humana.”
E quanto às polêmicas mais comuns, como privacidade e ética? Geovanna não se intimida: “Como assim privacidade? Não vejo problema. A ética, para mim, também não chega a ser um risco.” A resposta dela revela um ponto importante: o debate sobre uso de dados e proteção da informação ainda não é claro para todos, mesmo em setores que lidam com documentos sigilosos diariamente.
IA invisível mas presente
Quem acha que só advogados ou atendentes lidam com IA no cotidiano se engana. A tecnologia já está presente em situações tão simples que, muitas vezes, nem notamos.
Plataformas de streaming sugerem séries e filmes de acordo com nosso histórico de visualizações.
Aplicativos de música criam playlists personalizadas com base no humor ou no ritmo que mais ouvimos.
Lojas online exibem produtos que parecem “adivinhar” nossos desejos, fruto de algoritmos que aprendem com cada clique.
Até dentro de casa, a IA ganhou espaço: robôs de limpeza que mapeiam ambientes, geladeiras que avisam quando um alimento está prestes a vencer e sistemas de iluminação que ajustam a intensidade conforme a hora do dia.
A mãe de um um filho, Lorrany Mendes já não imagina a rotina sem a ajuda do seu robô aspirador.
Com ele, consigo dedicar mais tempo para brincar com meu filho e menos tempo limpando a casa. Parece que finalmente a tecnologia trabalha a nosso favor, e não contra nós.
Benefícios e riscos de um mesmo movimento
Mas se, por um lado, a Inteligência Artificial simplifica a vida, por outro levanta preocupações sobre privacidade e dependência tecnológica.
“É uma mão dupla”, explica o especialista em tecnologia Rafael Torres. “Quanto mais interagimos com essas ferramentas, mais elas aprendem sobre nós. Precisamos estar atentos a como nossos dados são utilizados e exigir transparência das empresas que os coletam.”
Esse debate já chegou ao Congresso Nacional, onde projetos de lei discutem desde a regulação do uso de IA em empresas até a criação de um marco legal que defina responsabilidades em casos de vazamento de dados.
Educação, saúde e cidades inteligentes
Apesar dos riscos, especialistas veem um impacto positivo crescente em áreas como educação, saúde e mobilidade urbana.
Na educação, plataformas adaptam o conteúdo de acordo com a velocidade e o estilo de aprendizagem de cada aluno, tornando as aulas mais dinâmicas e eficazes.
Na saúde, algoritmos analisam exames com rapidez e precisão, auxiliando médicos em diagnósticos e até no acompanhamento de tratamentos complexos.
Nas cidades, a IA contribui para o planejamento do tráfego, a segurança e o consumo de energia.
Em Goiânia, startups já exploram essas possibilidades. Uma delas desenvolveu um aplicativo que cruza informações de trânsito em tempo real para sugerir horários alternativos de deslocamento. “Estamos tentando mostrar que a Inteligência Artificial pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, sem complicar o dia a dia”, afirma Mariana Lopes, fundadora da empresa.
O fator humano como diferencial
Para quem vive essa integração todos os dias, como Janis Andrade, o segredo é usar a IA como ferramenta e não como substituta. “Ela me ajuda a ganhar tempo e a atender melhor. Mas no fim das contas, é a forma como a gente se conecta com o cliente que faz a diferença”, conclui.
Geovanna no mundo do Direito, concorda:
A tecnologia pode acelerar muito o trabalho. Mas a análise final, a sensibilidade para interpretar uma lei ou entender o contexto de um caso, continua sendo nossa.
O especialista Rafael Torres reforça essa visão: “A IA é poderosa, mas ainda depende do toque humano para transformar informações em decisões inteligentes e impactantes. O futuro não é máquina ou pessoa. É máquina e pessoa, trabalhando juntas.”
Um futuro em construção
A revolução da Inteligência Artificial está apenas no início. Ela já molda rotinas, cria novas profissões, desafia leis e obriga empresas e governos a repensarem a relação entre dados e privacidade. Para o consumidor comum, porém, o resultado é claro: mais praticidade, personalização e velocidade.
Mas, como lembra Janis, “ainda precisamos de empatia, do olho no olho, da conversa que só um ser humano consegue ter.” O desafio e a oportunidade é encontrar esse equilíbrio.















