Quando Charles Darwin visitou a América do Sul durante sua expedição pelo mundo ficou assustado com o fóssil de um animal que lhe mostraram. Era um Toxodonte, uma criatura vagamente semelhante aos rinocerontes da África, mas que não tinha chifres e não era aparentado com nenhum animal vivo. A estranha criatura não era exceção, a América do Sul durante 60 milhões de anos teve uma fauna única que não compartilhava com nenhuma outra região da Terra. Hoje, seus fosseis não são tão lembrados, sendo raramente citados na cultura pop. Boa parte dessas criaturas eram difíceis sequer de descrever pela falta de paralelos no mundo moderno.

Na era dos Dinossauros, o planeta estava inicialmente formado pelo supercontinente de Pangeia, durante a era dos répteis, o continente se dividiu em dois Laurásia, no Norte, e Gondwana no Sul. Gondwana eventualmente se dividiu nos continentes da América do Sul, África, Austrália e Antárctica. Cada uma dessas massas de terra percorreu seu próprio caminho evolutivo. A África se aproximou dos continentes do Norte assumindo com o tempo fauna similar. A Antárctica foi para o polo Sul, ficando congelada e seus animais vindo a perecer. Austrália permaneceu isolada, conservando até hoje seus animais únicos no mundo. A América do Sul até pouco tempo atrás, trilhou um caminho semelhante ao da Austrália, tendo seus animais exclusivos.

Depois da Extinção dos dinossauros a 65 milhões de anos, o continente sul-americano passou a era dos mamíferos quase toda separada do resto do mundo. O istmo do panamá, ligando o continente à América do Norte não existia, então os mamíferos, aves e repteis tiveram toda sua evolução separada.

Poucos milhões de anos após o sumiço dos Dinossauros o planeta passou por um período de superaquecimento, em que o clima ficou consideravelmente mais abafado do que atualmente, florestas cobria o mundo do polo Norte ao polo Sul. Esse ambiente foi propício ao aparecimento de répteis, por isso a América do sul foi dominada pela maior serpente que existiu, a Titanoboa, que chegava a 13 metros de comprimento e podia pesar mais de 1 tonelada. Junto das cobras gigantes, viviam também tartarugas gigantes como Carbonemys de 2 metros de comprimento, e crocodilos.

O planeta foi se esfriando com o passar do tempo, se tornando mais propício para animais de sangue quente como mamíferos e pássaros. A américa do sul possui um tipo único de mamíferos: Os Xenarthras; mamíferos com dentes frágeis e temperatura corporal mais baixa que os demais mamíferos. Hoje, o grupo é formado por tamanduaís, tatus e preguiças. Entretanto, os animais eram muito mais diversificados no passado.

As preguiças que hoje são animais pequenos que se alimentam das folhas das árvores, antes eram muito maiores, entre elas se destaca a Megatherium, ou preguiça gigante, que podia atingir o tamanho de um Elefante. Junto delas, viviam preguiças do tamanho de vacas que construíam cavernas para usar como lar nas montanhas. Algumas preguiças desenvolveram armaduras ósseas de baixo da pele para lutar entre si. Entre as preguiças, algumas fizeram a transição para o mar, vivendo nas praias do continente e mergulhando para comer algas marinhas.

Além da Preguiças, os Tatus também eram diversificados neste ambiente. O maior deles era o Gliptodonte, animal do tamanho de um Fusca e 1,4 toneladas, com uma armadura cobrindo o corpo igual seus primos modernos. Nem todos eram tão grandes, mas ainda assim eram diferentes, como o Doedicurus, com 1,5 de altura, mas possuía uma formação óssea na cauda com espinhos, que podia ser usada como a clava de um cavaleiro medieval para atacar seus inimigos. Alguns tatus até fizeram a troca das plantas para a carne, e se tornaram predadores, o caso do Macroeuphractus que atingia o tamanho de um leopardo.

Os Xenarthas não estavam sozinhos. A maior parte dos mamíferos sul-americanos eram únicos não existindo fora do continente. Mesmo os animais que eram comuns ao restante do mundo eram diferentes e próprios. Hoje é comum acreditar que os chamados macacos são todos iguais, mas na verdade o que o senso comum denomina assim são 3 grupos de animais diferentes. De um lado estão os grandes macacos que não possuem cauda, como gorilas, chimpanzés e orangotangos, do outro os macacos do velho mundo, como os babuínos que têm caudas pequenas e frágeis, mas corpos volumosos e fortes.

E do outro lado do planeta, estão os macacos da américa que são animais menores com caudas grandes que funcionam como um quinto braço, tem uma visão menos eficiente. O motivo da distinção é claro, o isolamento do continente fez com que os macacos da américa evoluíssem de modo separado dos seus primos no resto do planeta. Enquanto os primatas do velho mundo ficaram maiores e suas caudas perderam importância, os da américa permaneceram pequenos e dependentes da cauda para pular entre as árvores.

Não só os macacos, mas também os roedores da América tinham seu diferencial. Como ocorreu com os primatas, os roedores vieram para o continente através das chamadas jangadas naturais, que se formam dos restos de árvores, folhas, galhos e arbustos que se prendem uns aos outros quando caem na água, formando um barco acidental, é comum alguns animais pequenos ficarem presos à essas estruturas e serem levados para novos locais além do oceano. Assim criaturas que não voam, nem nadam, conseguem conquistar novos mundos e prosperar.

Os roedores do continente pertencem ao grupo chamado Caviomorpha, que inclui os maiores animais já chamados de roedores. De fato, o maior rato do mundo vive hoje nos rios sul-americanos: A Capivara, um roedor capaz de nadar que serve de presa para onças e jacarés. Mesmo que os caviomorphas sejam animais grandes atualmente, eram gigantescos no passado. Onde hoje era o Acre, existia um roedor que chegava aos 80 quilos e quase dois metros de comprimento. Ainda assim, era um animal pequeno perto do maior que já existiu, o Josephoartigasia monesi, que atingia o tamanho de um hipopótamo e talvez vivesse como um.

A fauna sul-americana deu origem grupo de mamíferos mais diferenciada do mundo moderno e que hoje existe do outro lado do mundo: Os marsupiais. Atualmente, esses animais vivem principalmente na Australia, mas o grupo surgiu na América do Sul pré-histórica. Na época, América do Sul, Antárctica e Austrália estavam unidas por terra, os marsupiais puderam atravessar entre os três continentes.

Quando as massas de terra se separaram, os marsupiais americanos foram obrigados a competir com outros mamíferos e ficaram restritos a pequenos tamanhos. No presente, o mais conhecido deles é o gambá ou opossum. Na Antárctica, os mamíferos foram obrigados a enfrentar o frio extremo quando o continente migrou para o sul e congelou, não resistindo a tragédia. Mas no novo lar da Austrália, os marsupiais encontraram um ambiente para eles crescerem e se diversificar ainda que bem longe do seu berço no novo mundo.

Os mamíferos não eram os únicos animais icônicos do continente. Foram as aves quem se destacaram no terreno. A América do Sul apresentou o grupo de aves predadoras mais bem sucedido da evolução, as chamadas Aves do Terror, que estavam no topo da cadeia alimentar. Esses animais podiam chegar a ser maiores do que um homem, não voavam e tinha um corpo semelhante ao de um avestruz, entretanto, enquanto o animal africano tem uma cabeça pequena que serve para comer pequenas plantas, as aves do terror tinham cabeça e bicos enormes que as permitiam matar grandes mamíferos a bicadas, similar a boca de um velociraptor.

O corpo e a aparência das Aves do Terror eram tão impressionantes que após sua descoberta, alguns cientistas acreditaram que tinham sido dinossauros primitivos que haviam sobrevivido a chegada do meteoro e ainda governavam a América do Sul. Mas elas não eram os animais mais incríveis, esse posto recaia sobre a Argentavis magnificens, a maior ave voadora da história que conseguia ter até 9 metros de uma asa até a outra. A Argentavis sobrevoava o continente americano vasculhando do alto por alimento, era um condor gigante e que talvez fosse capaz de matar suas próprias presas, diferente dos seus primos modernos.

As aves precisavam ser grandes predadoras, pois enfrentavam uma concorrência feroz. Alguns dos maiores crocodilos viviam no continente, incluindo os chamados crocodilos terrestres, que tinham pernas compridas para correr atras de suas presas, ao contrário dos atuais que esperam a chegada delas. Pelo menos dois animais notáveis evoluíram, o Purussauru, o maior jacaré da história, com 13 metros de comprimento, e o terrestre Barinosuchus de 6 metros de comprimento, além deles, outros como o pequeno Sebecus, do tamanho de um lobo, dividiam a paisagem.

Ainda que a quantidade de aves e repteis predadores fosse notável, havia considerável número de mamíferos carnívoros. Eles eram conhecidos como Sparassodontas, um grupo de animais hoje desaparecido. Não tendo equivalente no mundo moderno, seus parentes mais próximos são os marsupiais como o gambá e o canguru. Os sparassodontas eram muito diferentes de seus parentes modernos. Entre eles se destacava o Thylacosmilus, um animal semelhante ao dente de sabre que existiam em outros lugares do mundo. A grande diferença era que seus dentes cresciam a vida toda, o que significava que após uma batalha em que um dos seus sabres se quebrassem, ele se recuperaria para lutar novamente. Seus primos como o Borhyaena, se assemelhavam mais a pequenos ursos. Já outros como o Cladosictis pareciam com lontras.

Essa grande diversidade de predadores necessitava, obviamente, de muito herbívoros para serem caçados. E para ocupar esse espaço, existiam os Meridiungulatas, grupo formado por enorme diversidade de animais com muito tamanhos e formas. Iam desde animais semelhantes a coelhos (Pachyrukos) até outros com corpos que remetiam a rinocerontes (trigodon). Alguns como o Astrapotherium, lembravam um misto de hipopótamo e anta. Dentro do grupo estava o Toxodon, o estranho animal como um rinoceronte sem chifres que foi descoberto por Darwin e ajudou a elaboração da teoria da evolução. Outro dos animais reconhecíveis era o Macrauchenia. Com o corpo igual ao de um antílope, mas provido de uma pequena tromba.

Apesar da enorme riqueza de seres vivos únicos, a fauna da américa do sul não iria durar. Há cerca de 3 milhões de anos, o continente se aproximou da América do Norte, uma ponte de terra se formou entre as duas, onde hoje é o Panamá, a fauna das duas Américas pôde pela primeira vez se encontrar, e os animais do norte levaram vantagem. A riqueza sul-americana foi desaparecendo a medida que animais do norte vinham para ocupar o sul. Aves do terror foram sobrepujadas por tigres dentes de sabre, onças pintadas, lobos e pumas. Hoje, apenas os fósseis desses estranhos animais permaneceram para serem estudados pelo Homem. Mas, felizmente, essas criaturas não foram esquecidas pela ciência.