Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito.

(Oscar Niemeyer)

“Pai, o que é esse cilndro gigante de vidro?” Perguntava para o meu pai sempre que voltávamos da casa da minha avó em Vila Isabel em direção ao Recreio dos Bandeirantes, na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) onde moráva com a minha família na década de 80. Essa é apenas uma das histórias reais que povoavam a minha mente infantil em relação aquela obra de arte, ali na Praia de São Conrado.

Em silêncio, que guardei até agora, fiz uma promessa para mim mesmo: “um dia irei nesse lugar e verei a praia de dentro do cilindro gigante”.

O tempo passou, várias mudanças aconteceram na minha vida e do tal cilindro, também.

Crises financeiras forçaram o hotel Nacional a ficar fechado por mais de 20 anos. Parecia que o hotel acompanhava a história do Brasil: de desordem e pouco progresso, mas ele continuava ali, imponente, uma das mais de 600 obras do pai da arquitetura modernista brasileira e mundial, o gênio Oscar Niemayer, que morreu em 2012, antes da sua obra reabrir.

Niemeyer é conhecido até hoje pelo arrojo e ousadia, em dar movimento ao concreto em curvas perfeitas: “Não é a linha reta que me atrai. O que me chama a atenção é a curva livre”. Como não ser atraído pelas curvas do hotel Nacional, ali, na frente do mar azul de São Conrado?

Após uma semana cobrindo as eleições presidenciais do Brasil em 2022, decidi realizar o sonho daquela menininha que assistia pela televisão os fogos de artifícios e que demorou mais de 40 anos para entrar dentro do tal “cilindro de vidro”.

O prédio foi tombado em 1998, pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - é patrimônio da humanidade onde arte e história são muito além de hóspedes.

Ao chegar na recepção a pergunta mais comum que as pessoas fazem é: “Isso é um hotel ou uma galeria de arte?”

Obras por todos os lados, inclusive no teto, como a incrível luminária de 12 metros do artista Pedro Correa de Araújo, feita de papel machê, com folhas de papel moldadas à mão em formas de caudas de sereias e cristais pendurados, representando o respingar das águas do mar causado pelas sereias.

Um painel do artista argentino Carybé, que esculpiu em placas de concreto um mosaico contando histórias do seu grande amor, a Bahia, numa parede de 45 metros de comprimento por três de largura que narram histórias e personagens baianos.

O símbolo do hotel é “A Sereia”, do escultor Alfredo Ceschiatti, que era um dos grandes amigos de Niemeyer e responsável por várias obras importantes, como a escultura que foi depredada por terroristas bolsonaristas no dia 8 de janeiro desse ano, “A Justiça”, que fica na frente da Suprema Corte Federal, em Brasilia.

O jardim criado pelo famoso paisagista Roberto Burle Marx, seria a cauda da sereia. Burle Marx veio da mesma escola modernista de Niemeyer e também optou pelos caminhos sinuosos, com curvas e um espelho d’água com plantas aquáticas no jardim, um dos lugares de onde é possível admirar o mar azul de São Conrado e as montanhas do Arpoador.

São 32 andares e cada quarto do prédio tem uma vista diferenciada a se deslumbrar, sim, impossível não ter um êxtase com a vista do mar, das montanhas, mesmo em dias nublados ou de sol, da cidade maravilhosa. Como toda obra de arte, o hotel Nacional, nos permite várias interpretações, é possível ver todos os lados do bairro de Sao Conrado, por diferentes perspectivas.

“É um projeto de grande responsabilidade e um apelo afetivo muito grande para o carioca, para o brasileiro, para o mundo, porque é um projeto que respira história e arte”, diz Eduardo Borghetti CEO da HN Empreendimentos, empresa proprietária do Hotel Nacional.

A empresa arrematou o hotel e fizeram toda a restauração do prédio entre 2012 até 2016. Borghetti enfatiza: “Sendo esse hotel uma obra de arte e parte da história do Rio de Janeiro, onde aconteceram grandes festivais, quando ele foi o hotel da F1, além de hospedar artistas como Lisa Minelli, BB King, festivais de jazz, temos hoje o propósito e a responsabilidade de termos um hotel contemporâneo”, diz.

Com o objetivo de retornar à história, o antigo teatro do hotel está sendo reformado para ser palco de grandes peças teatrais no Rio de Janeiro, mais uma opção de arte e cultura na cidade maravilhosa.

Há no hotel um espaço infantil que me deu vontade de voltar a infância! Cuidadores bilingues e especializados fazem gincanas lúdicas com vários brinquedos, o chão e as paredes são revestidos para proteger as crianças de possíveis quedas, um verdadeiro paraíso infantil e tranquilidade para os pais.

Como não voltar ao Hotel Nacional? Impossível! Já tenho outra data marcada com essa obra de arte.

Ia quase me esquecendo do inesquecível: o café da manhã no restaurante do hotel, sem palavras, é acordar cedo e tomar o café, sugiro experimentar a tapioca feita na hora pelo chef, e ir para a beira da piscina.

O Brasil desde o começo de 2023 tem respirado novos ares democráticos e esse ano, com toda certeza terei férias, e dessa vez de verdade! Sem gravar ou escrever nenhuma reportagem, hehe, porque não é todo dia que temos a possibilidade de dormir, sonhar e acordar dentro de uma obra de arte da arquitetura e da hotelaria mundial, seja em qualquer estação do ano.