Não há como negar que vivemos na era da interconectividade global, onde o cenário muda com o piscar dos olhos e as demandas surgem na velocidade da luz. No entanto, como o profissional pode acompanhar tantas mudanças se não mudar o seu próprio perfil? Até pouco tempo atrás, existiam apenas dois tipos de profissionais no mercado: os generalistas (sabem um pouco de tudo) e os especialistas (sabem muito sobre determinado tema).

De acordo com o registro histórico, durante o século XX, momento em que o mercado de trabalho era mais estável e previsível, os profissionais especialistas eram muito valorizados, pois detinham o conhecimento e habilidade para realizar as tarefas de forma eficiente e especializada. Mas, conforme as demandas do mercado mudaram, os especialistas tornaram-se vulneráveis, fazendo o empregador optar pela contratação de generalistas, pois, por terem conhecimento amplo e diversificado em várias áreas, eram capazes de adaptar-se e lidar com as mudanças de maneira mais eficaz.

Porém, com o advento da internet, trabalho interdisciplinar, com o rápido acesso à informação e com consumidores cada vez mais exigentes, não basta mais saber muito sobre algo ou sobre várias coisas, tornou-se primordial conectar saberes. Assim, outro perfil profissional surgiu: o nexialista. Tal perfil tem se tornado fundamental para a construção de cidadãos críticos-criativos, capazes de solucionar e lidar com diferentes desafios de maneira ética. Mas o que torna o nexialista tão especial?

O nexialismo é um termo que advém do conceito de “nexo”, que significa conexão, união ou vínculo. Trata-se de uma abordagem interdisciplinar, que busca integrar diferentes conhecimentos e habilidades: cognitivas, motoras, emocionais, linguísticas e digitais, promovendo uma visão holística do indivíduo, que será capaz de conectar saberes diversos aos aspectos de sua vida e experiências, ou seja, será preparado para a vida. É o indivíduo plural, apto para fazer a leitura social do mundo durante o seu crescimento pessoal, social, comercial, técnico, gerencial e de liderança, qualificando-se como profissional do futuro, para o futuro e com “futuro”.

O termo “nexialismo” foi cunhado por A. E. Van Vogt1 no seu livro Voyage of the Space Beagle, em 1950. A obra retrata o dia a dia de um grupo de tripulantes, entre eles o primeiro Nexialista - Capitão Kirk, que, embora não tivesse todas as respostas, sabia conectar saberes e procurar soluções para os desafios enfrentados, combinando os diferentes talentos da tripulação para obter resultados de sucesso, aliando sua missão aos seus valores e objetivos. Anos mais tarde, Walter Longo e Zé Luís Tavares, especialistas em comunicação, retomaram o termo no livro Marketing na era do nexo, empregando-o no ambiente corporativo e na publicidade.

Além disso, a palavra em questão, baseia-se no conceito de transdisciplinaridade2, que tem suas raízes no final do século XX. Jean Piaget, por exemplo, propôs uma abordagem interdisciplinar da educação, na qual diferentes áreas de conhecimento seriam integradas. Posteriormente, surgiram pesquisadores como Erich Jantsch e Basarab Nicolescu2, que aprimoraram ainda mais tal concepção, destacando a importância de uma abordagem holística e interconectada para lidar com problemas contemporâneos.

Destarte, o profissional nexialista é um “inquieto” solucionador de problemas e desafios complexos por meio de sua atitude multidisciplinar, comunicativa, criativa, inovadora, colaborativa, proativa, persuasiva, adaptativa, curiosa, holística, questionadora, que o faz estar em busca constante do conhecimento, uma vez que toda vida precisa de referência e repertório para usufruir as infinitas possibilidades existenciais. Sabendo disso, o nexialista busca conectar para aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a ser e aprender a fazer.

Portanto, o nexialista representa um novo paradigma no mercado de trabalho atual e preenche os requisitos do futuro por meio de sua capacidade de trabalhar com diversas disciplinas e sintetizar conhecimentos, estando preparado para enfrentar os desafios vindouros. Em suma, o perfil nexialista é a habilidade de conectar saberes para lidar com determinada situação de maneira criativa, inovadora e interdisciplinar, somando potencialidades para um bem comum. Como toda habilidade, o nexialismo pode ser aprendido, ou seja, você também pode empoderar a sua carreira e desenvolver tais aptidões a fim de se tornar um pilar do futuro.

Notas

1 Vogt, A. E. V. (2003). O Violão de Eden. São Paulo: Editora Francisco Alves.
2 Nicolescu, B. (2002). Manifesto da Transdisciplinaridade. Porto Alegre: Editora Sulina.