Não somos o que pensamos que pensamos. Existimos porque sentimos e, tendo por base esse sentimento, direcionamos o nosso pensamento numa certa direção ou noutra.
A base do Ser é a emoção, isto é, o facto de todo o nosso corpo, todas as nossas células terem emoções também desde a nossa fecundação. Os racionalistas podem-se rir, mas eu rio-me deles... Senão vejamos!

O que dá substrato ao nosso reponderar ou, melhor dizendo, repensar toda a nossa existência, não será: estou a sentir sofrimento ou alegria com esta minha ação ou inação, que sentido tenho eu afinal, no contexto do “real” que me rodeia?

O que dá poder sobre o controlo da mente, não é, na verdade, um comando lógico, mas sim uma metamorfose na maneira de sentir. De refinar o nosso processo emocional perante determinado evento com base no sucesso ou insucesso de experimentação anterior. Mas muitos dirão que essa refinação dá-se por pensamento. Mas, pensamento não cura pensamento. A emoção certa é que o cura... é que lhe dá impulso, é que lhe dá missão/razão.

Porque a consciência obedece, dado que o nosso inconsciente e todo o padrão de traumas de que diretamente damos conta ou não que nele estão inclusos, tem uma fonte, e essa fonte não foi o que nós pensamos quando os racionalizamos, mas sim os sentimentos que derivam do modo como o nosso sistema respondeu emocionalmente a essas situações menos alegres, e assim é que depois no córtex pré-frontal se acaba por dar uma racionalização para melhor ou não!
Porque na alegria, tudo é fácil, tudo é motivador, mas não é isso que nos permite evoluir, melhor dizendo, reformular e lapidar a nossa base emocional, mas sim o sofrimento, a perda do que se considerava um dado adquirido.

Quem é doente cerebral também existe, e existe não porque pensa que existe, simplesmente porque sofre, dentro do que lhe é possível, mais inconsciente do que conscientemente, o quanto custa existir na sua condição de vida pois não consegue emocionar-se “normalmente” dentro dos “padrões societários” perante os estímulos que vai captando.

A visão de Descartes mais não é do que uma segregação da classe intelectual e dita elitista do seu tempo face à classe menos afortunada do ponto de vista material e social. Há que emocionarmos-nos bem de que essência somos feitos!

António Damásio, distinto neurocientista português, em diversos dos seus livros e entrevistas alerta para o facto de não só Descartes ter cometido “erros”, como para as inovações de Spinoza em termos do que viria a se tornar a neurobiologia. Tendo por base a sua longa carreira como investigador na América, há que atentar o nosso foco para o seguinte de suas palavras proferidas recentemente: “Continuo fascinado pelo fato de que os sentimentos não são apenas o lado obscuro da razão, mas também nos ajudam a tomar decisões.(…) O cérebro está constantemente recebendo sinais do corpo, registando o que está acontecendo dentro de nós. Em seguida, ele processa os sinais em mapas neurais, que depois compila nos chamados centros somatossensoriais. Os sentimentos ocorrem quando os mapas são lidos e torna-se evidente que as mudanças emocionais foram registadas - como instantâneos de nosso estado físico, por assim dizer.(…) Curiosamente, nem todos os sentimentos resultam da reação do corpo a estímulos externos. Às vezes, as mudanças são puramente simuladas nos mapas cerebrais. Por exemplo, quando sentimos simpatia por uma pessoa doente, recriamos internamente a dor dessa pessoa até certo ponto. Além disso, o mapeamento de nosso estado físico nunca é totalmente exato. Estresse extremo ou medo extremo e até dor física podem ser descartados; o cérebro ignora os sinais físicos que estão transmitindo o estímulo da dor. (…) Um organismo pode possuir sentimentos apenas quando pode criar uma representação das funções do corpo e das mudanças relacionadas que ocorrem no cérebro. Desta forma, o organismo pode percebê-los. Sem esse mecanismo não haveria consciência”.

Máquinas nunca terão sentimentos, animais têm sentimentos e os humanos por muito que se afastem dos bons sentimentos serão arrebatados mais tarde ou mais cedo pela repressão deles por via de enfermidades difíceis ou até impossíveis de contornar.
Sem as emoções a nossa vida não tem cor nem atrativo, não somos cosmos nem altruísmo! A vida caracteriza-se pelo movimento e as emoções são o grande motor da nossa existência, motor esse que proporciona força mas essa força tem que ser dirigida pela razão. E por razão deve entender-se não uma filosofia mundana qualquer, mas sãs experiências de vida e princípios religiosos capazes de dominar as emoções mal sãs e de despertar as que são salutares, ou seja, uma conduta sensata e virtuosa, a qual assume-se como o único fermento para uma vida equilibrada.

Assim sendo, um escudo emocional bem estruturado e reafirmado, hábitos alimentares cuidados e exercício físico adaptado ao quadro clínico bem como fomentação da criatividade manual e daí neural do indivíduo nos mais variados ramos da sua vida consoante os dons que apresenta são os mais profícuos “medicamentos naturais” que certamente contradizem o nosso primitivo estado de trazer-nos separação àquilo a que temos de único e uno somos, que é o nosso espírito!
Cabe-nos a nós e aos que nos rodeiam nas intempéries emocionais ativar estas valências de prevenção para apartir daí termos substrato de sermos não uma luta mas uma vitória!