O Sportswashing é um termo que tem sido usado para descrever a forma como eventos desportivos globais ajudam certos Estados a aumentarem a sua relevância quando ao mesmo tempo varrem para debaixo do tapete as atrocidades que estes têm cometido.

O significado que o Dicionário de Oxford Online nos diz é que, Sportswashing signifca “the practice of an organization, a government, a country, etc. supporting sport or organizing sports events as a way to improve its reputation”. Este é um termo que tem sido cada vez mais falado nos últimos anos e honestamente, causou-me interesse em falar nisto devido ao acontecimento que foi o Mundial de Futebol no Qatar no passado ano de 2022. Um evento desta magnitude atraiu as atenções de todo o mundo para o pequeno e poderoso país que é o Qatar. A comunicação social portuguesa usou bastante este termo sobre o facto deste mundial se passar num país árabe com uma postura pouco ocidental para o gosto da generalidade das pessoas ou dos media.

Depois ouvi falar em boicotar este evento (por parte de tanto pessoas como de intervenientes políticos), não assistir a nenhum jogo deste evento mesmo que fosse a Seleção Nacional Portuguesa. Na altura pensei que isto não faria sentido. Passado um tempo vemos os movimentos ágeis da Liga de Futebol da Arábia Saudita a comprar alguns dos melhores jogadores do mundo por quantias excessivas de dinheiro. Isto levou-me a pensar sobre a realidade do Sportswhashing e o poder do desporto dum ponto de visto diplomático.

Posto isto, não estou a negar que a forma como os estádios foram construídos em que cerca de 6500 trabalhadores (maioritariamente migrantes) faleceram devido à falta de condições de trabalho, exaustão e calor extremo, isto é horrível e desumano.

Não estou também a negar que o Governo Qatari ou a organização do torneio tentou esconder ou passar por debaixo do tapete estes factos, como é exemplo na forma como caracterizaram a morte de um trabalhador de 43 anos como sendo de causas naturais, e como já não estamos na idade da pedra ninguém no seu perfeito juízo se convence com tais declarações. De facto, estes estados do Médio Oriente têm muito por responder em relação a crimes humanitários.

Como por exemplo o seu tratamento para com pessoas que tenham outra sexualidade sem ser a heterossexual ou uma limitação dos direitos das mulheres. Até aqui está tudo claro, mas será isto razão para não receberem um evento internacional? Não estou a passar pano no facto que vitimas de violação na Arábia Saudita possam ser julgadas por adultério, não há quase explicação para isto.

Todos os Estados procuram aumentar o seu prestígio através do desporto, é uma forma de diplomacia que faz com que estes países sejam vistos como importantes no cenário internacional. É eticamente incorreto? Sem dúvida. Podem chamar isto de diplomacia ou propaganda, o seu significado é idêntico. O meu problema é associar o termo Sportswashing apenas a eventos em estados não-ocidentais. Este termo é associado apenas a eventos fora do espectro ocidental, o que me faz questionar: uns Jogos Olímpicos em Londres ou Paris, são melhores do que se forem em Beijing ou Joanesburgo? Para mim são exatamente iguais, olhando para a forma mais pura de como o desporto tem um papel fundamental na vida das pessoas e na sociedade em geral.

Entendo a crítica claramente e não concordo com a forma com que estes Estados conduzem a sua política, mas não poderão ser os Jogos Olímpicos de Londres uma forma de Sportswashing para nos fazer esquecer as atrocidades coloniais que o Estado Inglês praticou durante séculos? O mesmo argumento uso para os próximos Jogos Olímpicos de Paris. E poderão dizer, “mas estes países não praticam estas políticas atualmente” e têm parcialmente razão, mas acima de tudo, os povos afetados não se esqueceram deste facto como também ainda sentem os efeitos da política desastrosa do colonialismo até os dias de hoje.

Posso também referir que o próximo Mundial de Futebol será parcialmente organizado pelos Estados Unidos da América, que bem sabemos que nunca cometeu qualquer crime contra humanidade. Basta fazer uma pequena pesquisa para se perceber que este país organizador nunca teve envolvimento em qualquer tipo de guerra. Pedimos desde para os vietnamitas ou os iraquianos na sala que se pronunciem sobre este assunto.

Qualquer Estado cometeu de alguma forma algum crime contra a humanidade, e estão são sempre errados, mas escolher que eventos são ou não Sportswashing parece-me a apenas a visão como percepcionamos os países que vão acolher esses eventos. Antes de terminar este texto, devo mencionar também que além da crítica que este mundial e qualquer evento que não esteja localizado no ocidente tenha, o policiamento destes eventos não acontece de certa forma quando estes mesmos sauditas e qataris investem no futebol europeu. Engraçado que seja permitido este capital entrar no futebol europeu à vontade, mas no que toca ao investimento saudita no próprio país já existe aí criticismo.

Portanto, a meu ver o termo Sportswashing não me parece um termo adequado para relacionar qualquer tipo de evento desportivo que qualquer Estado queira realizar, cabe-nos lutar pelas injustiças que ocorrem dentro de cada Estado e apontá-las, julgá-las, agir contra elas até que a vida dessas pessoas melhore num futuro próximo. Qualquer evento desportivo é feito de forma a promover o prestígio de qualquer país ou região, seja em Portugal ou na Índia.