Recentemente no Brasil, tivemos um caso de grande repercussão na mídia: duas ingressantes do ensino superior desdenharam de uma colega de classe que tinha mais de quarenta anos. A mulher, com mais idade na questão, disse em reportagem que demorou para conseguir adentrar a universidade, pois não tinha recursos logo que terminou os estudos regulares.

O que era para ser um sonho, acabou se tornando em ridicularização por jovens que julgaram que ela, por ter mais de quarenta anos, deveria estar em casa cuidando do filho e do marido.

Infelizmente, este não é um ato isolado. Muitas pessoas que por diversos motivos não conseguiram concluir seus estudos dentro da faixa etária esperada, voltaram a estudar após anos, devido as políticas públicas como bolsas de estudos, financiamentos estudantis e mensalidades mais acessíveis em caso de cursos à distância.

Mas, o que era para ser motivo de orgulho para essas pessoas, acabou virando tema de discussões em universidades e em redes sociais. As universidades fizeram campanhas para que esse público crescente permanecesse em suas instituições. Influenciadores também saíram em defesa dos estudantes mais velhos e durante um tempo, não se falou sobre outro assunto, o que levou até a expulsão das agressoras citadas, pela universidade.

Essa discussão serviu para trazer à luz um questionamento importante: há um limite para voltar a estudar? Existe um tempo limitante para o cérebro humano aprender? Bom, de acordo com a ciência, não! Segundo os estudos atuais em neurociências, nosso cérebro (claro, dentro de circunstâncias normais) está apto para aprender algo novo sempre que estimulado.

No entanto, a sociedade talvez não esteja preparada para receber os considerados “novos jovens”, ou seja, pessoas na nas casas dos quarentas e cinquenta anos que retornam as carteiras escolares, academias, círculos sociais considerados para jovens, danceterias e qualquer meio de interação social.

É crescente os casos de discriminação com essas pessoas e o nome dado para esta violência é denominado de etarismo. O etarismo não está presente apenas na universidade, mas no mercado de trabalho também. Durante muito tempo pessoas com mais de trinta anos, principalmente do sexo feminino, não eram contratadas por serem consideradas desatualizadas e velhas demais para determinados cargos.

O etarismo sempre atingiu mais as mulheres e é mais um obstáculo a ser superado pelas profissionais que já enfrentam o machismo para conseguir ter uma boa formação ou um cargo de destaque em uma grande empresa. As mulheres com mais de quarenta anos são duramente esquecidas e subestimadas, tanto em ambientes universitário quanto nas empresas, basta observar a quantidade de líderes homens comparado ao número de líderes mulheres nas empresas e de reitores com o número de reitoras.

Todavia, as universidades estão cada vez mais de olho neste público que, geralmente procuram por uma segunda formação e já possuem uma vida financeira estável e maturidade para seguir até o final do curso escolhido. As empresas, por sua vez, também estão de olho nessa faixa etária e tem, cada vez mais, criado programas de inclusão com oportunidades para profissionais aposentados ou da terceira idade.

A contratação de pessoas mais velhas como consultores ou coach para os novos talentos, tem sido uma artimanha importante para o mundo corporativo, pois une a jovialidade criativa dos mais novos, com a experiencia e vivência de mercado pelos profissionais com mais idade.

Esta atitude vai na contramão da sociedade que apenas enxerga no novo a possibilidade de avanços tecnológicos ou intelectuais quando na verdade, deveria aprender com a experiência de pessoas que já vivenciaram diversas experiências profissionais e pessoais.

É estranho escrever de um preconceito sobre uma situação que todos, independente de cor, credo, status social, origem e etc, iremos vivenciar. Até onde se sabe, a formula da juventude não foi descoberta e envelhecer é inato aos seres vivos.

Ao invés de nos preocuparmos com a idade para realizar ou não determinada coisa, que tal usar esse tempo para descobrir maneiras de envelhecer bem? Cuidar da mente, do espírito, do corpo físico e fortalecer laços afetivos são atitudes mais construtivas.