Estar detido pelo que ocorre (realidade) e pelos desejos ("realidade futura") esmaga, neutraliza e impede ações e iniciativas. Nessa condição, frequentemente emergem as clássicas perguntas: "o que fazer?"; "como isto aconteceu comigo?". São inúmeras as reações que surgem nesse panorama ou contexto. É comum desistir do enfrentamento e entendimento das situações ao se sentir impedido, e por meio de queixas e reclamações buscar ajuda, compreensão, novos mapas, novas direções. É igualmente comum saltar o obstáculo negando-o e fazendo de conta que ele não existiu (ao afirmar que o acontecido é diferente do que está atualmente ocorrendo), assim como negá-lo em inúmeras manobras para validar ou invalidar acontecimentos utilizando-os como plataforma, explicação e justificativa dos insucessos e desistências.

O impasse é a configuração da contradição, do antagônico, da antítese e somente quando é assim entendido — como contradição ou antítese — permite mudança e surgimento de novas perspectivas. Perceber a contradição inicia um processo de imersão quando ela é aceita, ou seja, quando é encarada e não repudiada. Responder ao contraditório, ao invés de negá-lo, é libertador e cria perspectivas. No cotidiano humano sempre há esbarros, impedimentos, muros e barreiras que impedem o desenvolvimento de objetivos previamente estabelecidos. Ao compreender essas circunstâncias, os impedimentos são transformados em dados processuais que melhor permitem a globalização, a configuração do que se desenrola e se desenvolve.

Na esfera individual psicológica, quando se percebe o próprio problema, se percebe a própria limitação, mas também acontece de muitas vezes não percebermos a limitação se ela for transformada pelos sonhos e desejos. Nesse contexto de fuga, de deslocamento, o problema passa a ser visto como frustração, fracasso ou falha, e como tal nunca percebido enquanto limitação, incapacidade ou dificuldade. Por isso se torna algo praticamente impossível de resolver, pois não é configurado, não existe enquanto problema.

Para "o problemático", o próprio problema é visto como azar, dificuldade criada pelo ambiente, falha de educação, falha do sistema, falta de oportunidade, enfim, é culpa dos outros. Essa atitude autorreferenciada impede perspectivas, faz com que o indivíduo se sinta vítima, abandonado e sozinho, entregue às adversidades. Sentir-se vítima faz buscar apoio e ajuda. Ao utilizar esse mecanismo de adaptação e sobrevivência o indivíduo reduz suas possibilidades e amplia seus desejos, suas carências e demandas. Quanto mais se sente prejudicado, abandonado, "azarado", mais ele desesperada e angustiadamente busca saídas.

Essa constante busca de saídas, criada pela negação do que ocorre, pela negação de suas dificuldades, pela esperança e autorreferências, desvitalizam: o indivíduo é alimentado por impressões sobre o que foi ruim, o que não aconteceu, o que precisa acontecer. Essas vivências confabuladas, sobras e acréscimos de experiências, são sempre despersonalizadoras, pois apenas mantêm a sobrevivência. Ao sobrevivente só resta surfar nas águas turvas do medo, do desespero, da raiva e da inveja, já que a regra básica do estar-no-mundo-com-os-outros foi negada: participação, mudança, vivência dos acontecimentos. O sobrevivente tudo valoriza como positivo ou negativo em função de suas demandas e necessidades.

A vida, a autonomia, a alegria e o prazer são resultantes do enfrentamento de contradições. Esse enfrentamento, pela aceitação das próprias problemáticas, possibilita a quebra de barreiras, de impedimentos, necessária à transformação, ao estabelecimento do novo. É a libertação dos limites e referenciais sobreviventes, é a nutrição e a mudança na reestruturação de impasses.