Muitas vezes ouvimos falar sobre objetificação feminina (ou objetificação sexual feminina), e quase sempre não temos uma real dimensão do quanto esta questão é nociva para nós, não só mulheres, mas para a sociedade como um todo. Como a pesquisadora Caroline Heldman explica em seu TEDxYouth@SanDiego, “a objetificação sexual é o processo de representar ou tratar uma pessoa como objeto sexual, um [objeto] que serve somente para dar prazer sexual ao outro”. Isso me remete aos casos clínicos que tenho me deparado no consultório, mulheres que chegam com a queixa de relacionamentos vazios.

Segundo Heldman, 96% das imagens de objetificação sexual são de mulheres, embora isso não anule que possa também acontecer com o público masculino. Quantas e quantas vezes vemos cenas em veículos de comunicação e escolhemos (por alguma questão) naturalizar? Cenas de constrangimento, assédio, desqualificação da mulher como sujeito.

O machismo cultural ainda se apresenta de forma enrijecida na nossa sociedade. Muitas vezes, a própria mulher se depara com um comportamento machista vindo de si mesma. Muitas mães criam os seus filhos homens da forma como viram a sociedade formar os machistas que aí já temos. Tratada como objeto, e como ser inferior, a mulher se depara com situações de possessividade, violência, abandono, desprezo, menosprezo, entre tantas outras posições de repressão ou marginalização.

O Brasil registou 1 estupro a cada 8 minutos em 2019, de acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. E como isso pode impactar o psicológico de uma mulher? A cada mulher que sofre esse tipo de abuso (que em muitos casos são extremamente psicológicos) tem 1,2,10,20 que não vão além em denúncias! Mas por quê? Medo, vergonha, falta de certeza em que a verdade prevalecerá, portanto longe de ser fácil fazer uma denúncia de abuso, pois envolve várias questões e até aquelas em que as próprias mulheres se culpabilizam e se enxergam como únicas responsáveis e permissivas diante daquela situação.

Feminicídios em alta

E no extremo desses casos de violência contra a mulher estão os feminicídios, que ganham cada vez mais espaço nos noticiários. Os números são assustadores. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), mais de cem feminicídios foram registrados na Bahia até o final de 2020. O estado figurou como o terceiro que mais mata mulheres no Brasil em razão da condição de ser mulher.

Muitas mulheres se percebem e se apresentam ao mundo com comportamentos de ordem de baixa autoestima, pois até mesmo ficam em conflito com o que de fato desejam e o que lhe foi imposto durante décadas. Qual o papel da mulher na sociedade, eis que questiono. Será que existe um único papel? Será que esse papel é de extrema resposta à imposição gerada pelo patriarcado?

Importante frisar que todo tipo de violência machuca. Aquela que não deixa marcas no corpo, mas faz feridas na alma, também deixa cicatrizes. Gaslighting é a violência emocional por meio de manipulação psicológica, que faz com que todos ao redor e até a própria mulher se veja como incapaz e “louca”. A mulher simplesmente duvida de sua racionalidade, de suas próprias memórias, percepção, raciocínio e sanidade. Por mais que este comportamento afete os homens, as mulheres são vítimas em um maior grau e número.

Enfim, hoje encontro no consultório inúmeras mulheres se afirmando no papel de empoderadas femininas. Mas até que ponto isso condiz com o real? Até que ponto isso simplesmente se faz a ver com seu dia-a-dia, seu comportamento e melhor, seu pensamento? Buscar ajuda, sobretudo profissional, para enfrentar situações de violência, muitas vezes, é a única arma que temos para nos amparar. Vamos usá-la!